Basta de mulheres mortas por violência doméstica!
Mais uma mulher foi morta às mãos do marido, na madrugada de ontem, em plena capital. A violência doméstica sobre as mulheres continua a ser um drama em Portugal. É transversal a todas as regiões, classes sociais e gerações. O último caso conhecido envolveu um agressor de 29 anos e a mulher de 30 anos, que perdeu a vida. Alegadamente, a vítima foi asfixiada com um mata-leão. Tudo terá acontecido por causa de uma discussão e o desfecho trágico terá sido presenciado pelos filhos do casal, de 5 e 12 anos. Imagine-se a dor destas crianças e as referências com que ficam para o futuro quando, elas próprias, um dia constituírem as suas famílias.
A sociedade não pode ignorar, uma vez mais, casos como este. A polícia e os tribunais também não. Desta vez, nenhum magistrado, em plena consciência e cumprindo o seu dever, irá recomendar ao agressor que vá jantar fora ou vá ao teatro com a vítima, como aconteceu num outro episódio recente de violência doméstica. Recorde-se que, em janeiro, uma juíza do Tribunal da Amadora aceitou a recomendação de uma procuradora do Ministério Público que propôs, num caso de violência doméstica em que foi dado como provado o crime de ofensa à integridade física, que o processo fosse suspenso, ficando o agressor obrigado a levar a vítima em "passeios lúdicos". O agressor ficou de "realizar, com a concordância da ofendida, jantar e passeio lúdico com a ofendida, entre outros, concertos, espetáculos, revista, teatro". Uma situação e uma decisão infeliz, já criticada pela própria bastonária da Ordem dos Advogados aos microfones do DN e da TSF.
Enquanto a própria Justiça não levar a sério crimes como este, as vítimas ficam aos Deus dará. No último ano, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) revelou que a violência doméstica matou 20 mulheres, até setembro. Um mês depois, em outubro, o Observatório de Mulheres Assassinadas (OMA) contabilizava 28 mulheres mortas, 22 das quais no contexto de relações de intimidade. Em 2021, tinham sido 16 as vítimas.
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Qualquer número seria alto. Bastaria uma só mulher morta por violência doméstica para justificar trazer aqui o assunto. Um país que almeja alcançar um elevado estádio de desenvolvimento não pode ignorar situações como estas, não pode ser complacente perante os agressores, a Justiça tem de ser implacável. Só assim, evoluiremos enquanto sociedade civil.
Diretora do Diário de Notícias