Enquanto as mulheres forem discriminadas no acesso ao emprego, estereotipadas dentro das suas próprias casas e famílias, relegadas para segundo plano perante uma oportunidade de ascensão profissional ou ganharem menos do que os homens, desempenhando funções iguais, assinalar o Dia Internacional da Mulher continua a fazer todo o sentido..Em minha casa, desde miúda, sempre foi um dia de reflexão e de comemoração, realçando-se o facto de a conquista dos direitos das mulheres ter sido dura, penosa e também o facto de esses direitos não estarem (ainda hoje) totalmente garantidos. E se conquistar direitos, liberdades e garantias foi complicado para o homem, para a mulher foi difícil em dobro. Regra geral, uma senhora tem de provar em dobro para que lhe seja dado o devido valor. Quando o é, e o tecto de vidro se quebra e se dá a oportunidade e a promoção ao topo, muitas evidenciam o mérito, o empenho, a capacidade de trabalho, a vontade e ousadia em fazer diferente, com inovação, com sentido estratégico e visão sistémica. Contudo, por vezes as mulheres só são chamadas a desempenhar funções de liderança quando as organizações precisam de uma "agente de mudança", dizem vários estudos e headhunters internacionais. Olhando para a realidade atual, conseguimos ver isso mesmo em várias áreas: missões políticas, missões empresariais - que, por vezes, parecem impossíveis, mas para as quais certos perfis femininos não hesitam em dar o corpo às balas -, e missões sociais, inclusive na área da saúde e da educação, onde o saber fazer feminino marca a diferença tantas e tantas vezes. Num ano inteiro de pandemia, muitos portugueses sentiram isso na pele aos passarem pelos hospitais públicos e privados, por exemplo..A pandemia tem acentuado ainda mais as diferenças de género. Ainda que entre os países que melhor geriram a covid-19 estejam vários liderados por senhoras, como a Nova Zelândia, foram as mulheres que - ganhando menos do que os homens, regra geral -, tiveram de ficar em casa, perderam o emprego, sacrificaram as suas vidas para ensinar os filhos e apoiar o ensino através das aulas online, gerindo a casa, a família e o caos de um orçamento doméstico cada vez mais e mais curto. Durante a pandemia a sociedade corre um risco claro de um retrocesso na igualdade, na paridade e na diversidade. Um risco que, se não for travado a tempo, afetará a todos - homens e mulheres -, desequilibrando ainda mais os pratos de uma balança, que parecem presos ao fato e gravata e encravados num salto alto. Não deixar que a covid-19 seja a desculpa para essa marcha-atrás nos temas da igualdade é um papel de todos os agentes, públicos e privados..Diretora do Diário de Notícias