A CP - Comboios de Portugal tem 44 milhões de euros para investir neste ano, mas ainda só gastou 4,7 milhões, ou seja, até ao final do primeiro semestre, executou apenas 10,6% da verba prevista no Orçamento do Estado, segundo informações da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). Além desta rubrica, também a evolução da despesa total parece estar condicionada..Estes números surgem numa altura em que se têm acumulado sinais de crescentes dificuldades no funcionamento normal da empresa..Por exemplo, supressão de comboios a circular nas linhas suburbanas de Cascais e Sintra e nas regionais do Oeste e Algarve por motivos de "manutenção"; limites à emissão de bilhetes por causa de problemas com o ar condicionado nos serviços Alfa Pendular e Intercidades; passageiros que compram o serviço Intercidades, mas viajam em Regional com menor qualidade, pagando o mesmo preço..Entretanto, o CDS, através de Adolfo Mesquita Nunes, já veio dizer que o serviço ferroviário está em "situação de colapso", algo que o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d'Oliveira Martins, veio logo desmentir..Seja como for, a análise da UTAO à execução orçamental até junho mostra que, apesar da tendência de subida do número de passageiros ao longo dos últimos anos, a CP está a gastar cada vez menos e em várias frentes (ver infografia)..[HTML:html|passageiros.html|640|1224].Execução de 38% da despesa total até junho.A empresa tem uma meta de 44 milhões de euros de investimentos para este ano, o que, a ser cumprido, representará um aumento de 132% face a 2017. Mas no primeiro semestre, o investimento estava a ir no sentido contrário: caiu mais de 10% face aos primeiros seis meses do ano passado..E em 2017, mostra a UTAO, aconteceu algo parecido. A empresa teria 19 milhões de euros para investir, mas só aplicou 27% da verba..A contenção também domina a evolução da despesa total da CP. Segundo a unidade parlamentar, o grau de execução foi de apenas 38% na primeira metade deste ano..Ou seja, a UTAO diz que do orçamento anual autorizado pelo Parlamento (cerca de 469 milhões de euros segundo os mapas do OE ou 440 milhões assumindo a informação implícita do novo estudo), foram gastos apenas 167 milhões de euros entre janeiro e junho..Esta taxa de execução é inferior à do programa orçamental do Planeamento e Infraestruturas (44,1%), onde a CP está inserida, ou mesmo à execução da Infraestruturas de Portugal (46,8%), a empresa que gere a ferrovia e as estradas portuguesas..O DN/Dinheiro Vivo perguntou aos ministérios do Planeamento e das Finanças a razão de ser destes números, das taxas reduzidas de execução, sobretudo ao nível do investimento previsto. A tutela de Pedro Marques disse que não tinha ninguém disponível para tratar deste pedido de informação. O gabinete de Mário Centeno não respondeu até ao fecho desta edição..É com este ambiente de contenção e de cortes que a administração de Carlos Gomes Nogueira tem lidado desde que tomou posse, em julho de 2017..O jornal Público noticiou entretanto que a atual administração da CP estará de saída, mas o Planeamento diz que não, que está tudo a funcionar "normalmente"..Uma realidade antiga.Certo é que os cortes orçamentais na CP não são sequer uma realidade recente..A partir dos relatórios e contas anuais, o DN/Dinheiro Vivo fez um levantamento dos custos operacionais da transportadora desde 2009 e percebe-se o declínio..O tamanho da operação da CP é medido através do valor dos custos com mercadorias compradas e consumos realizados, dos fornecimentos e serviços externos, de gastos com pessoal e de outros gastos e perdas..Em 2010 (último ano completo do governo PS, de José Sócrates), já na descida para a bancarrota nacional, a CP cortou 7,6% nessa despesa dita operacional; em 2011, já com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas ao comando, novo corte de 5,9%..No ano seguinte, a despesa voltaria a ceder (5,4%). Depois de dois anos de expansão, 2015 é marcado por um novo corte pronunciado na operação da CP, de quase 7%. Estávamos no último ano do governo PSD-CDS..Uma vez mais, contenção.Até 2015, a CP não aparecia nas contas públicas (não estava num programa próprio). Mas desde então, por imposição das regras do Eurostat e da troika, que passou a figurar explicitamente nos mapas do Orçamento do Estado e da Conta Geral do Estado (CGE)..Assim, é possível verificar que o atual governo PS inscreveu no Orçamento de 2016 551,6 milhões de euros para a CP, mas no fim só foram gastos 472 milhões. A poupança foi assim de 80 milhões de euros..Em 2017, o aperto foi ainda maior. O orçamento caiu 8,4% (face ao que estava no OE 2016) e no fim do ano só se gastou 412 milhões de euros. Nova poupança, desta feita superior a 93 milhões de euros, mostra a CGE de 2017..Portanto, nos últimos dois anos, o atual governo (as Finanças) conseguiu poupar 173 milhões de euros na CP..No ano passado, o valor efetivamente gasto na CP sofreu um tombo de 12,6% para os tais 412 milhões..Em 2018, podem acontecer novos cortes. Segundo o OE aprovado, a CP está autorizada a gastar 469 milhões de euros, menos 7,3% do que o valor inicialmente orçamentado para 2017..O relatório e os mapas do OE nunca se comprometem ou avançam com números concretos para o investimento no serviço de comboios, mas numa breve referência à questão, o governo diz no texto do Orçamento que "em 2018, a CP inicia os processos de aquisição e de reparação do material circulante, nomeadamente bimodo e de topo de gama elétricos, necessários para assegurar níveis de qualidade da oferta compatíveis com a procura e com a prestação de um serviço de transporte regular, eficiente e seguro"..O OE deste ano, aprovado pela maioria PS com o apoio de PCP, BE, PEV e PAN, promete a "modernização da infraestrutura ferroviária e a modernização e o reforço do material circulante".