Só podemos confiar

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Não é a primeira epidemia que Portugal enfrenta. Muito menos o mundo todo. O que há de diferente agora? A especificidade do covid-19 enquanto agente patogénico passa também por possuir a característica de ser o primeiro vírus verdadeiramente "viral". Viral, no sentido em que surge num momento em que a nossa capacidade de comunicação global, alicerçada nas redes sociais e nos media, é cada vez mais plena. Este facto, útil para difundir boas práticas e estratégias de contenção e de defesa sanitária, tem o reverso de facilitar também a replicação de angústias e de stress. Muitas das vezes - a larga maioria - esta disseminação do medo não assenta em nada mais do que fantasias, falsas narrativas e mitos. Os portugueses já passaram por várias epidemias e Portugal teve os meios, soube responder e todos os planos funcionaram de forma exemplar. Portugal, no conjunto internacional, foi até um exemplo citado em epidemias passadas. Só podemos estar confiantes de que também desta vez estará tudo a postos para assegurar capacidade instalada bastante para enfrentar esta nova pandemia.

Fundamental, também, é contrariar a tendência de confundir o isolamento como medida preventiva e como resposta conjuntural a um fenómeno epidémico, com qualquer forma de legitimação da xenofobia e da desconfiança. Os responsáveis políticos de todo o mundo, mesmo aqueles que radicalizam o protecionismo, devem compreender que qualquer resposta, para ser estrutural e globalmente efetiva, tem de assentar na cooperação, na coordenação e na partilha científica e técnica de dados e estratégias.

A resposta ao covid-19 em Portugal será tanto mais eficaz quanto mais capazes formos de criar uma cadeia de confiança. Os profissionais de saúde têm sido um exemplo de competência, disponibilidade e empenho. Temos sabido, todos, equilibrar a dicotomia entre liberdade e responsabilidade. Em Portugal, as medidas concretas que estão a ser aplicadas para responder ao covid-19 e para conseguir subdividir esta corrente de confiança são evolutivas e adaptativas. Há 12 hospitais de retaguarda em acréscimo aos hospitais de referência com capacidade para internar doentes nas condições técnicas adequadas. Em paralelo, temos laboratórios capacitados para o diagnóstico, medidas mais eficazes e restritivas nos aeroportos nos voos da China e de Itália e foi criada uma reserva estratégica de medicamentos, dispositivos médicos e equipamentos de proteção individual. A juntar a tudo isto, temos o plano de formação para profissionais de saúde e empresas.

À medida que se vai descobrindo mais sobre o vírus, temos de saber traduzir a experiência acumulada em coesão de esforços. Para já, só temos de saudar a maturidade do povo português e das suas instituições. Só podemos confiar.

Deputada do PS

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