Economia do euro viverá este ano o pior momento desde a última crise

Nove países, responsáveis pela compra de 43% do total de exportações de Portugal, vão crescer bastante menos do que se esperava, avisa OCDE.
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A economia da zona euro deverá crescer apenas 1% em termos reais neste ano, o pior registo desde a recessão de 2012 e 2013, indicou nesta quarta-feira a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O abrandamento previsto para 2019 no outlook intercalar de inverno é de 0,8 pontos percentuais, o maior dos últimos sete anos (desde 2012).

As maiores economias da moeda única estão a caminhar rapidamente para a estagnação em 2019; a maior de todas, a Alemanha, sofre a maior revisão em baixa de crescimento do grupo dos mais desenvolvidos (mais de 30), Itália entra em recessão e, fora da Europa, quase todos perdem face ao cenário de novembro, avisa OCDE.

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A zona euro estava para crescer 1,8% (previsão no outlook de há seis meses), mas agora não vai além de 1% e os riscos de isto piorar são elevados. China, Brasil, Japão e Rússia vão no mesmo caminho.

Quando se olha para os principais mercados das exportações portuguesas, o cenário não é propriamente auspicioso.

Além das revisões em baixa das taxas de crescimento de França, Alemanha e Itália, que compram 28% das vendas das empresas nacionais ao estrangeiro, também outros clientes de grande calibre (Reino Unido, EUA, China, Turquia, Canadá e México) estão a perder gás: vão crescer menos do que se pensava há seis meses, no tal outlook de outono.

Estes nove países são responsáveis pela compra de 43% do total de exportações de Portugal. O abrandamento destes mercados externos é um risco e, pelos vistos, está a materializar-se.

Portanto, as novas projeções intercalares da OCDE apontam para um cenário bastante sombrio para a expansão nas grandes economias do planeta. Mais incertezas, indefinição total quanto à saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), menos trocas comerciais em geral explicam o clima adverso.

Como já referido, os maiores parceiros económicos de Portugal, por exemplo, estão a perder gás, o que deve significar, a prazo, menos procura por exportações, mas também menos capacidade de investimento.

A Alemanha cresce 0,7% neste ano, menos nove décimas do que previa a OCDE há seis meses. França avança apenas 1,3% em termos reais (menos 0,3 pontos percentuais face a novembro) e a previsão de crescimento para Itália, ainda a terceira maior economia do euro, sofre um corte a fundo de 1,1 pontos percentuais, entrando assim numa nova recessão (contração de 0,2% em 2019).

Só estes três mercados valem quase metade do mercado de exportação de Portugal e são fontes muito importantes de faturação, via investimento direto e turismo, por exemplo.

"A expansão global continua a perder força. O crescimento global deverá diminuir para 3,3% em 2019 e chegar a 3,4% em 2020, e os riscos de queda continuam a crescer", avisa a organização dirigida por Angel Gurría.

"O crescimento foi revisto em baixa em quase todas as economias do G20 (o grupo dos 20 maiores países do mundo), com revisões particularmente grandes na área do euro em 2019 e 2020." "A elevada incerteza política, as tensões comerciais em curso e uma maior erosão das empresas e da confiança dos consumidores estão a contribuir" para esta desaceleração.

Em concreto, a OCDE nota já que "o crescimento do comércio mundial desacelerou acentuadamente e as novas encomendas continuam a diminuir em muitos países".

"As barreiras comerciais introduzidas no ano passado são um obstáculo ao crescimento, investimento e padrões de vida, particularmente para as famílias de baixos rendimentos", acrescenta o novo estudo intercalar.

Relativamente aos mercados de trabalho, a OCDE ainda diz que, "por enquanto", continuam "resilientes", notando que o crescimento dos salários "está a aumentar lentamente, o que suporta o rendimento e os gastos das famílias".

Fora da Europa também não está a melhorar

Fora da Europa, "o crescimento na China deverá abrandar gradualmente até 6% em 2020", mas a OCDE assume que Pequim tomará "novas medidas" que compensem "a fraca evolução do comércio". Ainda assim, fica o aviso: "Uma desaceleração mais acentuada na China afeta o crescimento e as perspetivas de comércio em todo o mundo."

De volta à Europa, subsiste uma sensação de vazio quanto ao futuro próximo. "Uma incerteza substancial no campo político continua na Europa, sobretudo em relação ao Brexit." E, uma vez mais, "a saída desordenada do Reino Unido da UE aumenta substancialmente os custos para as economias europeias".

A OCDE também deixa um recado aos bancos centrais, entre eles o BCE. "Os sinais de pausa na normalização da política monetária ajudaram à recuperação dos mercados", mas agora "corre-se o risco de uma maior acumulação de vulnerabilidades financeiras.

A economia mundial deve crescer 3,3% neste ano, quando há seis meses a OCDE previa 3,5%.

A maior economia global, os Estados Unidos, avança 2,6% em 2019 (menos uma décima face a novembro). A Rússia ainda fraqueja mais: perde uma décima e cresce apenas 1,4%.

Neste jogo de perdedores, a única revisão em alta do crescimento é para a Argentina (mais 0,4 pontos percentuais), mas ainda assim continuará em recessão (contração de 1,5%), projeta a organização chefiada por Gurría.

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