Marcelo nunca esteve tanto tempo calado (nem quando foi operado)

Quatro dias. Há quatro dias que o Presidente da República não tem agenda pública. Sobre a crise política nem uma palavra. Não há memória de um silêncio tão prolongado em Belém.
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Nem quando foi operado de urgência a uma hérnia umbilical. A cirurgia teve lugar em 28 de dezembro de 2017, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.

Marcelo teve alta no dia 31 e começou logo a fazer declarações aos jornalistas, aproveitando para elogiar, a propósito da unidade onde fora operado - num serviço coordenado pelo seu amigo Eduardo Barroso -, o SNS. "Com todos os altos e baixos, é uma conquista da democracia muito importante."

Enquanto estava internado, promulgou quatro diplomas. No dia 1 de janeiro de 2018, à noite, Marcelo leu a mensagem presidencial de ano novo - que já estava gravada antes da hérnia.

Em junho de 2018, o Presidente apanhou outro susto com a saúde: na manhã de dia 23, enquanto visitava a Basílica do Bom Jesus de Braga, desmaiou, vítima de uma gastroenterite aguda, provavelmente provocada por uma intoxicação alimentar. Isto foi a um sábado. Na segunda-feira já tinha agenda.

Sobre a ameaça de o primeiro-ministro se demitir - facto que o próprio Costa lhe comunicou de viva voz na sexta-feira passada - nem uma palavra pública. É a primeira vez que Marcelo enfrenta uma crise política que pode acabar em eleições antecipadas. O Presidente terá ficado surpreendido por ver o PSD e o CDS a juntarem-se ao PCP e ao BE na exigência do pagamento integral aos professores do tempo de carreira congelado (nove anos, quatro meses e dois dias).

Em Belém, o silêncio presidencial é justificado com a ideia de que este é um conflito entre o governo e o Parlamento. E o Presidente compreende que não se possa aprovar nada que preveja uma reposição integral do que não foi pago aos professores: pelo impacto nas contas públicas, pelo efeito de contágio que teria a outras classes profissionais da administração pública; e ainda pelas consequências que teria em governações futuras.

O que está em causa é um decreto do governo inicialmente pensado para operacionalizar o pagamento aos professores de dois anos, oito meses e 14 dias do tempo de carreira congelado. O diploma foi vetado pelo PR mas reconfirmado na integra pelo executivo. E agora está no Parlamento, a ser alterado, por avocação desencadeada por PSD, BE e PCP.

Hoje, Marcelo partiu para Nápoles, para participar numa reunião da COTEC (Associação Empresarial para a Inovação), de onde regressará amanhã. Assunção Cristas pediu-lhe uma audiência na sequência da ameaça de demissão de António Costa mas a essa pretensão não se conhece resposta. O PR está em silêncio - e no site da Presidência têm apenas surgido notas dando conta de promulgações e uma de um veto político.

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