Por um dia, Trump e Macron estiveram de acordo
As comemorações do Dia D foram a ocasião para um momento de concórdia entre os presidentes. Ainda assim, Macron não perdeu a oportunidade para elogiar o multilateralismo.
Emmanuel Macron e Donald Trump esconderam as diferenças e celebraram o 75.º aniversário do desembarque dos Aliados nas praias da Normandia. "Veteranos, sabemos o que lhes devemos: liberdade. Em nome do meu país, quero apenas dizer obrigado", disse o presidente francês em língua inglesa no cemitério americano de Colleville-sur-Mer, local com vista para a praia de Omaha.
"Vocês são o orgulho da nossa nação", disse Trump aos veteranos norte-americanos presentes, incluindo cerca de 50 veteranos do Dia D. Realçou também os laços "indestrutíveis" entre os Estados Unidos e os seus aliados.
O presidente francês aproveitou a oportunidade para enviar uma mensagem ao homólogo americano. "Nunca devemos deixar de dar vida à aliança dos povos livres", afirmou, tendo citado como exemplos as Nações Unidas, a NATO e a União Europeia - instituições de que o norte-americano é crítico.
Trump, por sua vez, destacou a importância da "relação histórica" entre ambos os países, não tendo transparecido qualquer animosidade entre os chefes de Estado, cuja relação pessoal se deteriorou em novembro do ano passado, após as comemorações do Armistício, em Paris.
Ao almoço, Macron e Trump reuniram-se no edifício da autarquia de Caen. Segundo o Eliseu, o encontro entre os dois chefes de Estado teve lugar numa "atmosfera positiva" e na qual se transpirou "confiança". "A reunião permitiu verificar que podemos trabalhar juntos", disse ainda a fonte do Eliseu à AFP. Fizeram parte da agenda o Irão, a Líbia ou as políticas comerciais.
Bebé Trump contra Trump
Trump deixou Caen no meio da tarde para regressar à sua estância na República da Irlanda, em Doonbeg. A 300 quilómetros, na capital, Dublin, milhares de manifestantes contaram com o Bebé Trump, balão que já é um ícone dos protestos contra o presidente dos EUA. O balão, que foi transportado de Londres por ativistas, sobrevoou o Garden of Remembrance, jardim dedicado a "quem deu a vida pela causa da liberdade irlandesa.
"Eu não consigo identificar o que é o pior deste homem", disse Mairin de Burca, de 81 anos. "Arrastar crianças para longe dos pais na fronteira talvez seja a pior coisa", disse a manifestante, em referência à política da administração Trump de separar as crianças dos pais que atravessam ilegalmente a fronteira EUA-México.
A manifestação, que contrastou com a receção ao então presidente Barack Obama, há oito anos, contou com um membro do governo do primeiro-ministro Leo Varadkar. O secretário de Estado para a Deficiência Finian McGrath disse que foi para a rua para mostrar a "oposição total" à política de Trump e em específico à questão das alterações climáticas e à forma como trata as pessoas com deficiência. Sobre a controvérsia criada no dia anterior por Trump dizer que o Brexit vai ser bom para a Irlanda e depois ter comparado a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte com a fronteira entre EUA e México, McGrath disse: "Para não dizer mais, fiquei muito desapontado com o seu desconhecimento sobre o Brexit e o potencial impacto na Irlanda."
Evocar os mortos, alemães incluídos
No final da tarde, Macron prestou homenagem aos 177 membros do Comando Kieffer. O presidente deixou as comemorações com banho de multidão. As comemorações foram encerradas pelo primeiro-ministro Édouard Philippe. Antes, de manhã, esteve com o homólogo canadiano Justin Trudeau a celebrar o desembarque de 14 mil canadianos no dia 6 de junho de 1944. No final do dia, durante a cerimónia que presidiu em Courseulles-sur-Mer, que encerrou o dia de comemoração, Philippe prestou homenagem aos "jovens alemães que caíram nestas praias". "Em 1944, eles eram os soldados inimigos. Hoje, eles também estão aqui perto. E os seus filhos, ou netos, não são apenas nossos aliados, são também nossos amigos", disse o chefe do governo francês.