A noite lisboeta em que reis e estrelas de Hollywood não dormiram
Ao fim de 50 anos, a Festa Patiño ainda não foi ultrapassada por mais nenhum evento social em Portugal, mesmo que tudo se tenha passado há meio século, no dia 6 de setembro de 1968. A lista de convidados que aceitaram ir divertir-se nessa noite à propriedade do milionário boliviano reúne centenas de ilustres e famosos, muitos dos quais nunca tinham visitado o país e talvez nem soubessem bem onde ficava.
Mas Antenor Patiño comprara terras na região de Alcoitão e apaixonara-se por esta parte do país, próxima de Cascais, onde abriu as portas da Quinta Patiño nessa noite de magia para receber reis e príncipes, atores e atrizes entre os mais populares nesse momento, e plebeus da alta-finança e figuras sociais. Pode mesmo dizer-se que entre as várias centenas de presenças famosas só não esteve na quinta do milionário quem não era alguém em 1968!
A lista ilustre de convidados atraía as atenções principalmente por causa de duas divas do cinema: Audrey Hepburn e Gina Lollobrigida. Lollo, como era conhecida, era a mulher mais sexy dessa época e Hepburn a menina querida de Hollywood. Havia outras atrizes, como Zsa Zsa Gabor, por exemplo, mas essa só valia pelas escandaleiras que foi provocando durante a festa que trouxe a Portugal a mulher mais bonita do mundo e a "miúda" mais querida do cinema.
Entre muitos outros, destacava-se a princesa Soraya, ex-imperatriz da Pérsia e ídolo das portuguesas da altura devido à sua história conjugal dramática com o Xá. Outras princesas brilhavam, Margarida da Dinamarca e Ira de Furstenberg. Ou o empresário Gunter Sachs, a radiosa Begum Aga Khan e a atriz mexicana Maria Félix.
Nessa lista que reunia um milhar de convidados estava também a nata do regime salazarista, mesmo que o internamento do governante no Hospital da Cruz Vermelha nessa mesma noite criasse sérios embaraços aos ministros, diplomatas e apoiantes do governante, que teimavam em participar dos festejos oferecidos por Antenor Patiño. O frisson causado pela notícia que era passada em segredo de um para o outro sobre o que acontecera a Salazar não impediu que a maioria dos políticos fosse até Alcoitão e lá permanecessem até horas decentes.
Indecentes, salvo seja, foram as horas a que a festa acabou. Já o dia amanhecera e o título do artigo no DN era "Debandada lenta de estrelas e celebridades". O jornalista só lamentava que além de ser a "festa mais fabulosa que algum dia se realizou em Portugal", a Festa Patiño tivesse sido também a "mais interdita" e que "só meia dúzia de portugueses conseguissem obter o famigerado cartão branco que permitia a entrada no recinto".
Nada que impedisse centenas de populares de irem até à porta do Hotel Ritz e abrirem alas para que os famosos passassem pelo meio do povo enquanto se dirigiam para a Quinta Patiño. Mesmo assim, o DN obteve algumas declarações de Gina Lollobrigida: "Sei que muita gente quando me vê das plateias vê sempre a mulher e não a personagem que interpreto. Acho errado, uma coisa é a atriz e outra coisa a figura."
Os restantes famosos pouco falaram, mesmo que tenham utilizado as escadarias do Ritz como uma verdadeira passerelle (ver fotos). O sucesso da Festa Patiño nunca mais foi repetido desde o dia 6 de setembro de 1968 nem nunca se juntaram tantas estrelas no país por causa de um capricho de um milionário.
O anfitrião da festa, Antenor Patiño, faleceu em 1982, com 85 anos.