Medina recandidato a Lisboa promete medidas para fixar jovens residentes
Começou com uma "alfinetada" a apresentação da recandidatura de Fernando Medina à presidência da Câmara de Lisboa. Não do próprio, mas de António Costa, que foi ontem à Estufa Fria defender que a candidatura socialista é "pela cidade e para a cidade", ao "contrário de outras" - "Esta não é uma candidatura para a preservação do líder do PS por interposta pessoa. O líder do PS está, felizmente, de boa saúde e continuará assim". Uma farpa que vai direta para o PSD de Rui Rio e a candidatura à capital do social-democrata Carlos Moedas.
Medina não fez referências ao mais direto adversário nas eleições autárquicas de 26 de setembro próximo, mas deixou uma alusão indireta às críticas de que tem sido alvo nas últimas semanas, devido ao envio de dados pessoais de manifestantes às embaixadas - "Nada nem nenhuma campanha nos distrairá" do combate à pandemia. "Quero ser muito claro: nada neste tempo se sobreporá à nossa missão de proteger Lisboa e os lisboetas. Nenhuma ação nos distrairá do fundamental: auxiliar os mais necessitados, apoiar a economia e o emprego, promover a testagem em massa, apoiar a aceleração da vacinação", afirmou o autarca, que já em modo pré-eleitoral passou em revista as medidas tomadas até agora no âmbito do programa municipal "Lisboa Protege".
Para lá do combate à pandemia, o recandidato socialista elegeu como ponto central do programa eleitoral para os próximos quatro anos a fixação de residentes, sobretudo jovens famílias, em Lisboa. Com uma promessa: "creches gratuitas" até final do próximo mandato (em 2025) para as "famílias jovens da classe média" residentes na capital.
"Fará parte do nosso compromisso eleitoral a redução progressiva dos valores pagos pelas famílias com creches, tendo em vista assegurar que se tornarão gratuitas até ao final do mandato para as famílias jovens da classes médias que residam em Lisboa", referiu Medina, acrescentando que esta "será a mais importante política de apoio aos rendimentos das jovens famílias, um poderoso incentivo à natalidade e à fixação de jovens".
Este será um dos eixos de um triângulo que inclui também a habitação acessível e a mobilidade na área metropolitana da capital. "Rendas acessíveis, creches gratuitas, passe único. Este é o nosso programa e é o nosso compromisso", resumiu.
O autarca socialista diz querer uma cidade "com mais habitação para jovens e trabalhadores das classes médias a preços que verdadeiramente possam pagar". "Este é um programa que só por si marca toda uma diferença de agenda política. Ao contrário de outros, não achamos que os jovens e as classes médias tenham de achar natural ir viver para longe de Lisboa. Para nós a habitação é um direito. Viver em Lisboa é um direito", defendeu Medina, referindo que no atual mandato "mais de 1000 jovens e famílias passaram a ter uma casa a renda acessível". A que se deverá juntar a atribuição de "muitas centenas de fogos" nos "próximos meses".
A mobilidade foi outro eixo destacado pelo atual presidente da autarquia, que disse querer prosseguir a aposta numa "rede eficaz de transporte coletivo pesado amigo do ambiente, reduzindo os grandes movimentos pendulares de automóvel".
Medina disse também que, a ser reeleito, avançará com "um amplo programa de qualificação do espaço público", que "prossiga e amplie a ambição" de projetos como o uma "Praça em cada Bairro", os corredores verdes estruturantes e a criação de parques e jardins.
Quanto ao turismo "sustentável" a que Medina tem feito referência em discursos mais recentes, traduziu-se ontem na afirmação de que a Câmara de Lisboa promoverá com o setor do turismo um "Pacto para o "Turismo Sustentável e de Qualidade"", com o objetivo expresso de evitar uma baixa de preços no setor.
"Temos que saber preservar o nosso destino e evitar que nos pós pandemia se intensifiquem as pressões para a massificação e baixa dos preços", referiu Medina no discurso de candidatura. Sem dizer mais, nomeadamente quanto a medidas de mitigação do peso turístico nas zonas mais sobrecarregadas da cidade.
Medina recandidata-se à presidência da Câmara de Lisboa depois de, em 2017, não ter renovado a maioria absoluta repetida por António Costa (que presidia à Câmara desde 2007) em 2009 e 2013. Desde então, o PS governa com um acordo com o Bloco de Esquerda, que elegeu um vereador nas últimas eleições.
Há quatro anos, o PSD teve um resultado historicamente baixo na capital enquanto o CDS, então com Assunção Cristas, chegou aos 20,6%, transformando-se no maior partido da oposição. Agora, ambos avançam coligados sob a liderança de Carlos Moedas. Mas as discussões em torno do futuro de Rio face ao resultado das autárquicas serviram ontem a António Costa para abrir e fechar o breve discurso inicial no mesmo tom: "A cidade não pode ser um espaço simplesmente de aventura política, de afirmação, contabilização do jogo partidário".
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