Turquia. Istambul, a cidade de dois continentes

Mala de viagem (183). Um retrato muito pessoal da Turquia.

A dois passos está a Ásia ou a dois passos está a Europa, consoante o local onde estivermos na maior e mais admirável cidade turca, Istambul, que é uma encruzilhada e com motivos de interesse durante todo o ano, segundo me foi dito e facilmente se pesquisa. Quase tudo se mantém, exceto os dois maiores feriados muçulmanos, Ramazan Bayramı (Ramadan, ou Eid Al Fitr) e Kurban Bayramı (EidAl Adha), que mudam cerca de 10 dias a cada ano. O verão é a temporada alta do turismo em Istambul, mesmo com muitos residentes saindo para férias ou para casas de família. O clima é quente e húmido, mas o sol torna-se glorioso, brilhando no Bósforo, que é o estreito que liga o mar Negro ao mar de Mármara e marca o limite dos continentes asiático e europeu. Diversos lugares ao ar livre em cafés, restaurantes e bares criam um cenário urbano animado. Concertos, festivais e outros eventos também são realizados ao ar livre. Em contrapartida, os períodos entre março e maio e setembro e novembro são propícios para passeios turísticos e eventos culturais. A temperatura é amena, ideal para ver os pontos turísticos e passear pelos bairros de Istambul, uma cidade que recompensa a descoberta a pé. As multidões de turistas diminuem, enquanto a vida urbana local está em pleno funcionamento, incluindo um calendário movimentado de artes e eventos culturais. Por fim, a temporada baixa, de dezembro a fevereiro, é a melhor para viajantes com orçamento limitado e frequentadores de museus. Os meses de inverno cinzentos, chuvosos e frios não são a época mais atraente para visitar Istambul, embora deem à cidade um certo clima romanticamente melancólico. Os alojamentos são mais baratos e os muitos museus, mesquitas e outros pontos turísticos oferecem muitas atividades. O início do ano em Istambul costuma ser calmo e frio, com possibilidade de neve, mas há sempre bastante chá quente para aquecer ou mesmo "salep", uma bebida quente cremosa com cobertura de canela. Os ventos do Bósforo ainda são fortes, mas as "meyhanes" (tabernas) são aconchegantes e há muito peixe fresco para comer. O inverno também é uma ótima época do ano para uma visita a um "hammam" fumegante ou banho turco. Assim, no ciclo do ano, ao chegar de novo a primavera, as tulipas dos parques da cidade voltam a florescer e parece que a cidade ganha uma nova vida e os residentes também. Em qualquer altura do ano, os turcos recebem muito bem as visitas que aparecem; são muito agradáveis, porque consideram o visitante como um convidado de Deus. Tive essa oportunidade, não pelo facto de ser convidado por juízo divino, mas porque fomos convidados para um ritual de uma família cuja filha pretendia casar. Na Turquia, as mulheres solteiras colocam uma garrafa em cima do telhado das casas dos pais com o objetivo de mostrar que estão solteiras e prontas para receber um noivo. Aquele que quebrar a garrafa será o prometido companheiro para a vida em comum. E mais, quando a garrafa é fina, quer dizer que a noiva é magra, quando a garrafa é mais grossa, significa que a noiva é roliça. E assim aconteceu: Kalil partiu uma garrafa fina no alto do telhado dos meus convidantes. O seu nome significa: "Amigo chegado", por sinal, prestes a sê-lo junto daquela família. Restava o noivo entrar na casa da sua futura mulher, pela primeira vez. A família da noiva colocou sal ao invés do açúcar no café do noivo. Se ele fizesse "cara feia" é porque não tinha gostado da noiva, se ele não a fizer é porque realmente gostou da noiva e se quer casar. O sorriso de Kalil era aberto. Pudera, Samia fazia jus ao seu nome, que significa: "sublime", "suprema", "nome de Deus", ou mesmo "vigorosa", "cheia de vida" ou "animada". Tal-qualmente a cidade que casa dois continentes!

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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