No Dia da Bastilha, o presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu nove chefes de Estado ou de governo - entre eles, Marcelo Rebelo de Sousa - dos países participantes na Iniciativa Europeia de Intervenção. "Nunca desde o fim da Segunda Guerra Mundial a Europa foi tão necessária. A construção de um sistema de defesa europeu, em colaboração com a Aliança Atlântica, cujo 70.º aniversário estamos a celebrar, é uma prioridade para a França", escreveu aos franceses. Mas o que é isto da Europa da Defesa? Como se articula com a NATO?.A chegada à Casa Branca da política America first na pessoa de Donald Trump e a saída anunciada do Reino Unido da UE deram um novo impulso à ideia de autonomia estratégica europeia, como ficou assente na estratégia global da União para a política externa e política de segurança, aprovada em 2016. "Os esforços europeus em matéria de segurança e defesa deverão permitir à UE agir de forma autónoma, contribuindo e desenvolvendo em simultâneo ações de cooperação com a NATO", lê-se no documento..A autonomia estratégica é vista de forma diferente de país para país. Os governos de Dinamarca, Polónia, Luxemburgo, Países Baixos, Suécia e Reino Unido mostram-se reticentes, por exemplo. Já para os franceses a ideia faz parte da sua estratégia de autonomia nacional. E o governo quer ir mais além. No ano passado, Macron defendeu a criação de um "verdadeiro exército europeu", meses depois de ter impulsionado a Iniciativa Europeia de Intervenção, com o objetivo de criar uma força militar conjunta fora das instituições europeias. Tal permite acomodar a Noruega (Estado não membro da UE), o Reino Unido (em processo de saída da UE) ou a Dinamarca (membro da UE que não partilha a cooperação em matéria de defesa)..Um inquérito realizado no âmbito do artigo "Independence play: Europe's pursuit of strategic autonomy", do think tank European Council on Foreign Relations (ECFR), junto de especialistas em cada país, concluiu que as capacidades mais importantes a desenvolver para alcançar a autonomia estratégica passam pela mobilidade militar, interoperabilidade, reabastecimento em voo, apoio médico e de evacuação, drones e coordenação para aplicar a Cooperação Estruturada Permanente (PESCO) e o Fundo Europeu de Defesa..Lançada em 2017, a PESCO tem 25 países signatários - de fora estão Malta, Dinamarca e Reino Unido. Há 18 projetos comuns, da cibersegurança a viaturas blindadas. Em paralelo, o Parlamento Europeu aprovou em abril o financiamento do Fundo Europeu de Defesa: 13 mil milhões de euros para investir até 2027 em investigação e tecnologia e em aquisições conjuntas de material..Washington como adversário.Se os países europeus estão divididos em esferas institucionais (NATO, PESCO, Iniciativa Europeia de Intervenção...) e na estratégia a adotar, mais ficam perante a pressão dos Estados Unidos. "Quem sabe se os nossos exércitos se tornem menos interoperacionais e não possam trabalhar juntos", ameaçou Michael J. Murphy, do Departamento de Estado norte-americano, quando recebeu uma delegação europeia, em maio. Os norte-americanos não veem com bons olhos que a UE desenvolva uma indústria europeia de defesa. "A autonomia estratégica europeia não deve nem pode substituir a relação com os EUA", escrevem Ulrike Franke e Tara Varma, autores do ECFR. "Se dedicasse os seus recursos à prossecução da autonomia estratégica, a UE poderia contribuir para a inversão da tendência internacional de um nacionalismo crescente e fechado e, finalmente, tornar-se um verdadeiro poder por direito próprio", concluem.