"O infame atentado de ontem contra o chefe de governo". Foi com este título que o DN de 5 de julho de 1937 noticiou a explosão de uma bomba, ocorrida na véspera, que visava António de Oliveira Salazar, prestes então a cumprir cinco anos à frente do executivo..Num texto imbuído de verve nacionalista -- como obrigavam os tempos --, o DN relatou então o que chamou de um "atentado, tão execrável como estúpido, porque a alma de uma nação não se destrói com uma bomba"..Um relato ao estilo da época, "visado pela comissão de censura", como se pode ler no fundo da página:.Eram precisamente 10.25. O sol claro e quente encharcava de luz as ruas regulares do bairro [nas Avenidas Novas, em Lisboa]. .Um automóvel acabava de parar à porta do n.º 96 da avenida Barbosa du Bocage, entre as avenidas da República e Cinco de Outubro. Dentro seguia o sr. Presidente do Conselho, acompanhado pelo seu chefe de gabinete, sr. Leal Marques..Mal o carro estacou o sr. dr. Oliveira Salazar avançou em direção ao portão largo do palacete do sr. dr. Josué Trocado, em cuja capela particular costuma todos os domingos ouvir missa. .Não dera ainda meia dúzia de passos quando do seio da terra se elevou fragor brutal, como se uma convulsão violenta a agitasse demoniacamente. Ao mesmo tempo, uma chuva de pedras, argila, barro, pó caía sobre os passeios laterais..Ao ruído forte juntava-se o estilhaçar agudo de vidros partidos..Simultaneamente, nas ruas vizinhas, os tampões de ferro dos coletores e as pedras das sarjetas rebentavam com a violenta deslocação do ar..O sr. dr. Oliveira Salazar parou, circundou um olhar lento em volta -- ainda da cratera recém-aberta se elevavam colunas de pó -- e transpôs o limiar da porta..O relato prossegue louvando a atitude do chefe do governo -- em quem "no rosto sereno nem um músculo se movera em contração de espanto ou de tremor" (ainda que não se perceba como é possível o jornalista, que não presenciou o incidente, tal saber)..A primeira página é ainda ilustrada por uma foto de elementos da Mocidade Portuguesa em manifestação, à noite, frente da residência do líder do governo, fazendo a saudação romana em apoio ao ditador.