Sete mil euros não chegam para ganhar dinheiro com as novas obrigações do Estado
As novas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) lançadas pelo Estado pagam um juro ilíquido de 1%, o mais baixo neste tipo de operações. E descontando impostos e comissões bancárias, os aforradores correm o risco de perder dinheiro caso invistam menos de sete mil euros.
Contrariamente a outros produtos de poupança do Estado, as OTRV têm de ser subscritas aos balcões dos bancos que cobram vários tipos de comissão (subscrição, reembolso, pagamento de juros e de custódia). Nos bancos que estão a organizar a emissão, é preciso investir, pelo menos, mais de sete mil euros para evitar perder dinheiro. Aplicações até esse valor resultam em juros negativos para o investidor, caso se contabilize o custo com as comissões de custódia, segundo o simulador disponibilizado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Quanto menos se investir, mais negativo o retorno.
No caso em que as comissões bancárias mais prejudicam o retorno, o investidor terá direito a juros de 420 euros nos sete anos de prazo das OTRV em troca do investimento de sete mil euros. Mas terá um custo de 467 euros com comissões e de 117 euros com impostos. Só a comissão de custódia custa mais de 355 euros. Resultado: entre o deve e o haver o aforrador perde cerca de 165 euros com a aplicação, uma taxa líquida de -0,34%.
Para os investidores que tenham outros títulos, a comissão de guarda de custódia não se deve aplicar, já que mesmo sem subscrever a OTRV tem de assumir aquela despesa. Nesse caso um investimento de sete mil euros representa um retorno líquido de 0,39%. Os juros brutos a receber são de 420 euros mas a despesa com comissões baixa para 110 euros. No final desses custos e de impostos recebe no mínimo juros líquidos de 145 euros nos sete anos da OTRV. Pode ganhar mais se a Euribor for para valores positivos.
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Mas as comissões variam entre os bancos. Antes de se fazer a aplicação é recomendado que se façam simulações para aferir o rendimento líquido final e comparar os valores entre diferentes instituições. Além desse cálculo se poder fazer no site da CMVM, deve-se também pedir ao banco que disponibilize essa simulação.
Quanto maior o valor a investir, mais esses custos se diluem no retorno final do investimento. Mas incluindo o efeito das comissões de custódia ou de guarda de títulos nem com 100 mil euros se consegue obter um retorno líquido acima de 0,50%. No entanto, sem o cálculo dessa despesa é possível ganhar mais que aquela fasquia com investimentos mais modestos.
Estas simulações incluem apenas o juro mínimo ilíquido de 1%. As OTRV podem pagar mais caso a Euribor a seis meses regresse a valores positivos. O mercado espera que isso aconteça apenas em 2020.
Juro mais baixo
As taxas das obrigações portuguesas negoceiam perto de mínimos nos mercados internacionais. E essa evolução, conseguida à custa das melhorias do rating para grau de investimento, também se reflete no juro oferecido pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) nesta emissão.
A taxa mínima ilíquida é de 1%, a mais baixa de todas as emissões de OTRV. Este produto foi lançado no primeiro semestre de 2016. E nas seis operações anteriores o Tesouro garantiu financiamento de quase sete mil milhões de euros. Houve operações em que o juro mínimo superou os 2%.O Estado pretende com a oferta atual, a primeira de 2018, financiar-se em 500 milhões de euros. A oferta arrancou ontem e termina a 17 de julho. O IGCP tem a opção de rever em alta este valor.
Nas operações feitas em 2016 e 2017 o Tesouro acabou sempre por aumentar o valor da emissão. É que apesar de nessa altura entidades como a Deco Proteste terem defendido que com "as OTRV, o banco e o Estado ganham sempre e o investidor só às vezes", a procura por estes títulos foi sempre forte.
Na última emissão, feita no final do ano passado, o IGCP captou 1,3 mil milhões. A procura excedeu 1,8 mil milhões e houve 74 mil aforradores a participar na operação que oferecia OTRV com um juro mínimo de 1,1%, pouco acima da emissão atual.