Valdemar Alves clama por inocência. Foi o último arguido indiciado na fase de instrução do processo do fogo de Pedrógão Grande e diz que não percebe porquê. O presidente da câmara está convencido de que "fez tudo bem dentro da lei". E reforça que, para ele, "não há casas de primeira nem de segunda". Sobre a gestão dos donativos, mostrou ao DN os armazéns onde estão armazenados os bens, bem como a listagem dos donativos em dinheiro, que perfazem um total de 358 642,76 euros, depositados no BPI. Mas um ano e meio depois do incêndio - em que morreram 66 pessoas e 250 ficaram feridas - ainda não sabe que destino dar ao dinheiro. Continua apoiado pela maioria da população, que chega a fazer escudo ao presidente perante as equipas de reportagem da TVI, que têm denunciado alegadas fraudes. "Tenho a consciência tranquila, não fiquei com um cêntimo de ninguém", diz. De resto, é um território eternamente ao abandono, aquele. A única residencial da vila de Pedrógão Grande acabou de fechar. Uma população de quatro mil habitantes continua entregue à sua sorte, depois de passado o alarido causado pelo incêndio. Não há comércio, não há indústria, e a câmara é o maior empregador do concelho, com 120 trabalhadores. Das 167 casas que arderam, ainda há quase 30 por terminar de reconstruir..Tem consciência de que está instalada no país a suspeição sobre a gestão de donativos em Pedrógão, especificamente sobre a câmara e sobre si, em particular. Como lida com isso? Tento lidar da melhor maneira. Até porque estou tranquilo. Sempre fui uma pessoa transparente. Nunca pensei vir para aqui como presidente da câmara - fiz a minha vida toda em Lisboa -, mas calhou. Não havia ninguém para concorrer e eu aceitei. Além disso, tenho 70 anos e a minha experiência de vida dá-me essa tranquilidade para lidar bem com isso. Preocupa-me mais é a minha família, que tem de ouvir e lidar com aquilo que dizem de mim. De resto, estou a lidar bem com isso. Tenho a solidariedade da maior parte da população, quase na totalidade, até de alguns membros da oposição..Mas face às últimas notícias, percebe que se intensifique o clima de suspeição... Percebo que aquela parte da roupa que não está em condições e que já devia ter ido para uma fábrica e ainda não foi pode ter dado origem a isso. Mas a intenção é outra. É denegrir-me. Estão com medo de que eu concorra outra vez..Está a dizer que isto é uma cabala? Sim, é uma cabala. Uma movimentação política..Mas se diz que sente a solidariedade da oposição, de onde é que vem? Pois, se eu soubesse... já tinha participado ao Ministério Público, porque isto acaba por ser corrupção. Alguém há de estar a pagar isto..Tem consciência de que existe no país uma animosidade contra si? Claro que há, pelo menos nas redes sociais. As pessoas são injetadas com as notícias da TVI, por exemplo..Quando vai na rua sente isso? Não, de maneira nenhuma. Muita gente mostra-se solidária comigo. Os meus colegas da comunidade intermunicipal e de outras câmaras do país têm manifestado essa solidariedade..Onde estava quando começou o fogo a 17 de junho de 2017? Estava nos Escalos do Meio, a três ou quatro quilómetros de onde começou. Comecei a ver fumo muito negro e liguei para os bombeiros, soube onde era e fui para o quartel. A partir daí aquilo ganhou uma dimensão assustadora. Chegou entretanto a Proteção Civil. E depois foi o que se sabe..Disse há dias que chegou a Pedrógão uma avalanche de donativos de várias espécies. Perdeu logo aí o controlo? Não foi logo no dia seguinte, foi passado uns dias. As coisas chegavam em catadupa. Os bombeiros já não tinham espaço, a Santa Casa da Misericórdia também não e a câmara muito menos. Entretanto, pedimos para usar um pavilhão de uma antiga fábrica daqui para guardar os bens, mas não chegou. Tivemos de pedir tendas emprestadas, até aos militares. Era dia e noite a descarregar coisas, principalmente roupas. Vinha muita coisa boa, mas também muita em mau estado....Isso criou-lhe um problema logístico? Logo. Nós quisemos separar o trigo do joio..E perdeu esse controlo? Não. Nós já não tínhamos era onde arrumar as coisas. O resto era orientado por uma unidade de fuzileiros altamente formada neste apoio às catástrofes. Depois começaram a vir escuteiros, e depois voluntários de todo o lado. Apareceu de tudo. Alguns tiveram de ser expulsos daqui..Porquê? Porque estavam com carrinhas a carregar coisas para levar..Entretanto começou a chegar dinheiro também. Pelo que sabemos, mantém-se numa conta (são 358 642,76 euros). Que destino vai ter essa verba? Isso tem sido um dilema para mim. A Câmara de Pedrógão conseguiu essa verba - que mais nenhuma outra conseguiu - vinda de particulares e empresas, muitas delas pessoas amigas que fui conhecendo ao longo da vida..E o destino desse dinheiro tem sido um dilema porquê? Porque as vítimas - quer na saúde, na ação social e na reconstrução das casas - foram apoiadas pelo governo. Ainda cá temos a equipa de saúde mental e de saúde ambiental. A minha ideia era com este dinheiro limpar o concelho de ruínas, desde antigas casas de lavoura a outras que foram de habitação. O que eu gostava era que o concelho ficasse limpo desta tragédia. Como o Ministério da Agricultura não deu dinheiro suficiente para recuperar os barracões agrícolas, pensei em ajudar essas pessoas. O facto é que são tantos, umas largas centenas. São mais de mil. Se eu for a dividir o dinheiro não dá para nada, nem para sacos de cimento..Mas algum destino tem de lhe dar. Já debatemos isso em reunião da câmara. Estamos a equacionar dar o dinheiro ao fundo Revita (para aplicarem na parte social, uma vez que ainda estão na reconstrução de casas e no apetrechamento), ou então... não sei. Há de arranjar-se maneira de este dinheiro ser útil..Terá certamente onde o aplicar, uma vez que este continua a ser um território muito deprimido. Muito carente, com muitas necessidades..O presidente fazia parte do conselho de gestão do fundo Revita e a dada altura abandonou o cargo. Porque saiu? Foi por causa daquela polémica da reconstrução das casas. Eu aí decidi - e penso que bem -, para haver uma certa independência..Manteve sempre contacto com a CCDR e com o Revita? Sempre..Mesmo depois de ter saído do órgão de gestão? Não. Depois disso adoeci e estive três meses ausente. Mas evito tratar das coisas. Temos aí o engenheiro Álvaro Lopes que é responsável por essas coisas..Depois desse primeiro escândalo que teve que ver com a reconstrução de casas de segunda habitação como se fossem de primeira, alguma vez pensou demitir-se? Não é escândalo, aquilo é uma denúncia. Não, nunca pensei demitir-me. Tenho de levar o barco até ao fim. Isso seria uma cobardia da minha parte. Era o caminho mais fácil. Mas acho que não posso abandonar quem confiou em mim..Isso é porque acredita que fez tudo bem? Sim, claramente. Eu e os colaboradores todos da câmara, que têm trabalhado na reconstrução das casas..Quantas arderam no total? Arderam ao todo 167 casas..O que é que ainda está por concluir? Cerca de 30..De primeira ou segunda habitação? Bem, houve aqui uma confusão. Ao início, a ordem é para reconstruir as casas que arderam. Não falavam se seriam de primeira ou de segunda, Só mais tarde é que vêm falar nas de primeira habitação..Mas a questão que se levantou foi estarem a ser reconstruídas casas de segunda habitação antes das outras. Isto aconteceu ou não? Para mim não há casas de primeira nem de segunda. Mas também não aconteceu isso. Eu sempre estive tranquilo porque tinha lá um vereador [Bruno Gomes] - que continua a ser funcionário da autarquia - e a câmara apenas fazia a logística. A pedido do governo, a câmara apenas recebia o processo das pessoas. Estava tudo na internet. Os funcionários da câmara ajudavam a preencher e aquilo depois era conferido..Independentemente de ser de primeira ou segunda habitação? Claro que importava reconstruir primeiro as de primeira habitação. Mas o mais importante era reconstruir tudo aquilo que ardeu. Todos têm direito..Mas quem ficou sem nenhum teto tem direito primeiro, não? Claro que sim. Entretanto, já temos um regulamento só para as casas de segunda habitação. Mas repare: para mim, são tão pedroguenses e tão prejudicados os emigrantes que saíram daqui para o estrangeiro como os que foram para Lisboa e para o Porto. E que aplicaram aqui as suas economias. É pena isto ser uma câmara pobre, das mais pobres e mais pequenas do país..Qual é o orçamento anual? Anda à volta dos seis ou sete milhões. Neste ano que passou foi maior por causa da reconstrução..Quantos funcionários têm? Tínhamos reduzido muito. Desde a troika perdemos quase 50%. Agora, com a entrada dos precários, devemos ter uns 120. Tínhamos à volta de 60..Isso quer dizer que é o maior empregador do concelho? Será, sim. Pelo menos o empregador com mais estabilidade..Portanto, acredita que fez tudo dentro da lei? Sim, com a minha consciência de homem e de pedroguense..E os serviços da câmara? Também..Mas há vários processos de reconstrução sob investigação judicial. Sim. Creio que constituiu já algumas pessoas arguidas por falsas declarações..E o senhor está nesse rol? Não, não estou..Mas está no processo do incêndio, embora tenha sido o último a ser constituído arguido... Sim. Eu não percebi porquê..Porque é que é arguido? Não, porque é que não fui na altura quando constituíram os outros presidentes de câmara. O Ministério Público pedia os responsáveis pela Proteção Civil. E eu indiquei os que estavam por lei no Gabinete Técnico Florestal e na Proteção Civil. Nem fui eu que fiz o ofício, mas assinei-o e mandei os nomes: o meu, o do vice-presidente, José Graça, e o da engenheira Margarida Gonçalves. Depois não sei porque puseram lá o nome do desgraçado do encarregado, que é aquele que vai com o pessoal limpar. E eu estupidamente assinei o ofício..Mas o presidente da câmara é o responsável máximo da Proteção Civil. Por tudo! Ainda hoje não sei porque é que não fui constituído arguido na altura, quando os vi a eles serem. Agora constituíram-me, mas ainda nem sequer tenho a acusação comigo..Mas já sabe que vai ser ouvido no dia 11? Sim, possivelmente será nesse dia. Estou convocado, mas não tenho acusação para responder ao tribunal. Nem advogado. Ou seja, estou a entrar numa fase de instrução quando eu não consto na acusação... Mas isso também não é problema. Acredito nos tribunais, lidei com eles uma vida inteira..A sua vida profissional fez-se na Polícia Judiciária, como inspetor. É por isso que diz estar habituado Sim, estive durante 36 anos na PJ. Estive em várias áreas. Comecei nos homicídios, depois, a seguir ao 25 de Abril - naquela fase terrível foi criado um gabinete de segurança e um gabinete de imprensa - estive com essa parte. Naquela altura só lá iam dois jornalistas, e era uma colaboração linda. Depois, com o aparecimento do jornal A Luta, a República melhorou, apareceu também o Jornal Novo, eram muitos jornalistas e era preciso um gabinete, uma sala para os receber, para não andarem a passear pelo edifício..Mas quando deixou a PJ não era isso que fazia. Estavas nas burlas. Eu era o tapa-buracos. Depois surgiu um pedido de investigação ao caso do IARNE - porque aquilo era uma balbúrdia com os hotéis e isso tudo - e constituiu-se uma brigada, e então fui para a secção de burlas e falsificações. Antes ainda fiz parte do gabinete de segurança pessoal de Menéres Pimentel, que era ministro da Justiça, e também do procurador-geral da República..Atendendo a esse percurso profissional, é quase irónico ver-se deste lado? Estive do lado da polícia e agora estou do lado dos bandidos....Mas se há uns anos o inspetor Valdemar Alves olhasse para este processo todo, era caso para o investigar? Compreendo perfeitamente as suspeitas. Mas penso que o país tem de ver que é só um canal de televisão que me está a atacar todos os dias. Depois, há aquela coisa horrível das redes sociais, que eu não tenho, mas vêm-me mostrar. Tenho pena dessas pessoas porque não estão bem. E a opinião pública está intoxicada. Embora tenha encontrado muita solidariedade por parte de muitas pessoas..Que acreditam em si? E que não veem razão para se dizer que há aqui fraudes ou burlas, ou que eu dei eletrodomésticos aos amigos, ao executivo ou aos funcionários da câmara..Tem a consciência tranquila de que nunca entregou a ninguém que não precisasse nada que não fosse necessário? A ninguém. Além da desgraça - mal daqueles que morreram e dos que ficaram mutilados -, há muita gente que sofreu com isto. E continua a sofrer. É pena que se fale de Pedrógão apenas na parte negativa, e até numa parte que não existe, e que não se fale da reconstrução, seja material ou psicológica, da nossa gente..Logo a seguir ao incêndio, mandou colocar uma tarja à entrada do concelho que dizia "Obrigado povo português, vamos renascer das cinzas." Acha que estão a renascer? Estamos a renascer..O incêndio teve o condão de colocar o poder político a olhar para este território. Parece-lhe que continua de olhos postos aqui ou já desviou o olhar? Nada se faz sem dinheiro. As câmaras do interior não têm dinheiro. E era preciso, para fazer programas para uma nova floresta. É verdade que o governo criou a Secretaria de Estado da Valorização do Interior. Criou uma agência, agora, com sede em Figueiró dos Vinhos, para a reflorestação, que está a começar a trabalhar..Acredita que o incêndio foi um mal que veio por bem? Não. Isto foi o diabo, que andou à solta e ainda anda. Agora até fizemos um acordo com a oposição - por proposta do presidente da Assembleia Municipal, Tomás Correia - e vamos fazer uma conferência, um debate, para começar a exigir às entidades e ao governo resposta às nossas necessidades. Para ver se saímos de um mal que já vem muito de trás..Há muitos anos que este território estava abandonado. Sim, já antes de 1974. Estava há muito tempo a acontecer a desertificação. O que acontece é que os governos são feitos por partidos e os partidos só veem números para as eleições. E para eles estes concelhos não valem nada..Ou seja, depois do fogo e de ter visto este espaço inundado de políticos e jornalistas, está a dizer-me que levantaram o pé? Fui eu que exigi que o gabinete de crise fosse instalado aqui. E o governo criou a Unidade de Missão e Valorização do Interior precisamente para se inteirar disto. Mas estou a aperceber-me de que não está a funcionar. Porque é de Trás-os-Montes ao Algarve. É um território muito vasto. Por isso estamos a ver se com Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera nos organizamos para exigir que se olhe para aqui. Na altura do incêndio, disse que este território tem de servir de projeto-piloto para a futura floresta. Porque não basta criar a lei e dizer que os proprietários têm de limpar. Não está a ser fácil. Os que cá estão são velhos e têm uma miséria de pensão de 200 e poucos euros....Qual é a população residente? São cerca de quatro mil pedroguenses. Depois devemos ter mais de mil estrangeiros. É uma comunidade que nos interessa aumentar, até porque vêm com o objetivo de plantar. Não são aqueles ricalhaços dos vistos dourados. São pessoas ligadas à natureza..Voltou para Pedrógão em 2013, quando foi eleito presidente, como independente, pelo PSD. Mas em 2017 trocou a camisola pela do PS. O que o fez mudar? O PSD não cumpriu com o programa que prometeu aos portugueses, em que dizia que ia reconduzir os presidentes de câmara. Um dia fui chamado aqui à secção do partido e o antigo presidente, João Marques, disse que o próximo candidato era ele. Isto sem nunca ter falado comigo. Se o tivesse feito, para eu me ir embora, eu até tinha ido. Como ele me disse aquilo, eu disse logo: eu também sou candidato. Aquilo saiu-me espontaneamente..E tinha apoios dentro do PSD? Na altura tinha o apoio da deputada Teresa Morais, que foi eleita por Leiria e que lutou por mim. Hoje deve estar zangada comigo. Sei que a oposição eram o presidente da concelhia e da distrital. E sei que ameaçaram o Passos Coelho, que também foi muito maltratado pelo próprio partido. No último conselho nacional ele acabou por dar a vez ao presidente da concelhia. Entretanto, o pessoal do PS não estava a dormir....Quem é que o convidou? Primeiro falaram-me aqui de Pedrógão. Depois foi a comissão política nacional..Foi o próprio António Costa que falou consigo? Não. Foi a Ana Catarina Mendes..Isso foi pouco tempo antes do incêndio? Sim, pouco antes. Entretanto, tive o apoio de alguns fundadores do PSD de Pedrógão..E acabou por ganhar as eleições com mais votos. Para que lado é que o senhor pende, afinal? Agora para lado nenhum. Depois de tudo isto, não posso pender para lado nenhum..Não pensa recandidatar-se? Se houver necessidade, sim, posso recandidatar-me. Depende do candidato dos outros partidos..Há pouco falava da deputada Teresa Morais. Ela já disse várias vezes que lhe pediu esclarecimentos sobre os processos das casas e dos donativos e ninguém lhe respondeu. Porquê? Respondeu, sim. Houve uma troca, um erro no e-mail. Ela própria depois reconsiderou isso. Eu sei que ela ficou muito chateada comigo por eu ter ido pelo PS....Mas já esclareceu isso com ela? Não. Ela não fala comigo. Pode ser que volte a falar. Tivemos uma cumplicidade muito grande. Porque ela também foi muito maltratada pelo PSD do distrito de Leiria..E no seu caso tem sentido o apoio do PS distrital e nacional? A distrital veio manifestar-lhe confiança nesta semana... Sim, tenho sentido isso. Ainda há uns dias esteve aqui o deputado - e presidente da Federação - António Sales..No processo do incêndio, todos os advogados fazem passar a ideia de que os verdadeiros culpados não estão ali. Também é dessa opinião? Isto não foi um fogo qualquer. Quem cá esteve viu. Havia nuvens de lume, não era de fumo. E digo-lhe: falam no corte das estradas. Se tivessem fechado as estradas, tinha havido muitos mais mortos. Se houvesse comunicações, os bombeiros eram mandados para os locais e ficavam lá. Os carros modernos ficaram sem oxigénio. Há o exemplo de um rapaz que ia num carro velho com os pais e atrás dele, num carro novo, ia a esposa com as crianças, e o carro delas ardeu e elas morreram. E ele viu pelo retrovisor. São coisas muito horríveis..Quer dizer que rejeita as acusações de que a floresta não estava limpa? O terreno estava limpo. E nos concelhos dos meus colegas também. Eu não concordo com os relatórios que saíram. Aceito um pouco o da comissão independente e até penso - não sei se o vá fazer - pedir um relatório internacional. Ainda não tenho advogado, mas quando tiver vou falar isso..Como não tem? Eles nomearam um oficioso, um jovem daqui..Na sua opinião, como pode ser feita justiça? É haver independência. Vir aqui ver as coisas como são. E aí terá a certeza de que eu não fiquei com um cêntimo de ninguém. Nem há cêntimos para ficar. No dinheiro das casas não mexemos em nada - que é dinheiro de outras instituições; o dinheiro que veio é o que está na lista, que é pública. Os bens começaram logo a ser distribuídos, e vieram com guias..E muita coisa se deteriorou? Já vinha deteriorada. E isso foi reconhecido pela oposição. Quem estava nos bombeiros viu: abriam-se sacos de roupa e até laranjas vinham lá dentro. Lixo de toda a espécie..Tudo o que tem neste momento já tem destino? Tudo o que está guardado tem destino: ou vai para a loja social, que está aberta todos os dias e onde qualquer pessoa pode ir buscar; bens como eletrodomésticos e colchões, que são da Cruz Vermelha, já têm destino. Noutro armazém, onde estão coisas que já vinham deterioradas, estamos a encaminhar para uma fábrica que faz reciclagem. O que ficar vamos dar a quem precisa, porque ainda há casas por acabar..Não lhe parece que já era tempo de ter sido tudo feito? Eu acho que sim. Mas os empreiteiros são poucos. Deviam ter vindo de fora e não veio ninguém..E porque não vieram? Foi uma opção do Revita? Foi, porque se pagava pouco dinheiro. E não compensava.