Cabe a Montenegro descriminalizar a direita

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Agora que tem novo líder, o PSD pode reassumir o seu lugar, deixando para trás a pretensão de o encostar ao centro-esquerda, promovida por Rui Rio e pelos que se levantaram contra o novo rumo que Pedro Passos Coelho lhe imprimira. A tentativa de capitalizar votos de um povo massacrado pelas medidas que foi obrigado a suportar pela troika e que, em consequência, alinhara à esquerda, tirou o PSD do caminho de evolução que vinha prosseguindo. Dando vida a um reposicionamento pouco natural, reforçado pelas convicções pessoais de Rui Rio, um líder que assumiu que seria PS se Sá Carneiro não tivesse aparecido.

Com o congresso deste fim de semana e a equipa que Montenegro escolheu para o apoiar antecipa-se a vontade de que o PSD seja capaz de retomar a sua vocação natural, libertando-se enfim da ânsia de ser aceite à sua esquerda, que o levou a dobrar-se e a afastar os seus próprios apoiantes no processo, como se viu pelos consecutivos desastres eleitorais.

Essa capacidade de fazer oposição a um governo socialista que viveu livre e solto nos últimos seis anos já Carlos César adivinha em Luís Montenegro, e por isso veio ontem mesmo acenar com o regresso do passismo. O PSD não deve negá-lo, antes valorizar a liderança de quem conseguiu vencer duas eleições no momento mais difícil do país e que trabalhou, tantas vezes isolado, para tirar os portugueses de mais um buraco em que a governação socialista o metera (todas as intervenções do FMI se sucederam a lideranças de primeiros-ministros do PS). Cabe ao PSD reconhecer os erros, mas orgulhar-se das conquistas e deixar de acatar as conotações que outros imprimem à direita.

A enfrentar a maioria absoluta que Costa tanto penou para conseguir e que revela as rachas de seis anos a adiar o que era preciso construir pela superior vontade de agradar aos parceiros de "geringonça" - deixando um caos na saúde, na educação, na justiça, nos serviços públicos e uma economia manietada por crises, inflação e subsidiodependência crónica -, Montenegro tem tudo para ganhar vantagem com uma oposição construtiva, inteligente e que fuja quer do enxovalho quer da subserviência.

Mas, antes de mais, o novo líder do PSD tem de liderar um processo de reabilitação da sua esfera política, deixando de alinhar pelo diapasão que a esquerda conseguiu firmar de que ser de direita é um crime e uma vergonha. A direita é, toda ela, legítima, os seus representantes foram eleitos pelos portugueses como todos os demais. Já é tempo de esse lado do hemisfério se libertar de complexos, de acabar com a fragilidade a que os partidos de direita se expõem enquanto se perderem no que os divide, em vez de se focarem na oposição que é necessária e urgente.

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