"A par da Educação e da Saúde, a Habitação é hoje uma questão crucial." Considerando o que sete anos de governação socialista fizeram pelas primeiras, podemos adivinhar para onde caminhamos na habitação, que António Costa considerou "uma bandeira deste governo". A afirmação vem de julho de 2017, quando o primeiro-ministro afirmou o seu empenho em resolver os problemas da falta de casas em Portugal, sobretudo para a classe média, criando até, para provar o ponto, uma Secretaria de Estado novinha em folha para desenhar a "nova geração de políticas de habitação"..Apontando que apenas 2% do parque nacional era público - resumindo-se maioritariamente a bairros sociais -, o governo comprometia-se então a aproximar-se progressivamente dos 12% de oferta habitacional pública praticados na Europa. A meta foi estabelecida e quantificada: mais 170 mil casas a chegar ao mercado promovidas pelo Estado até 2024..A fechar 2022, temos Secretaria de Estado da Habitação, temos Lei de Bases, documentação produzida por "especialistas" e o voto escrito na pedra: "Em 2024 todas as famílias terão direito a habitação condigna." Casas é que nem vê-las..A dois anos de se cumprir o objetivo - que passaria por um misto de apoios ao arrendamento para famílias, disponibilização de casas do Estado (recuperadas à condição de devolutas ou resgatadas de utilizações de luxo por institutos e serviços vários) e compensação a senhorios que acrescentassem oferta mais barata ao mercado para responder a essa procura -, não se sabe que tenham sido abertas sequer 170, quanto mais 170 mil. E acreditem, se elas existissem não haveria como escapar aos anúncios em estéreo e néones..A única alteração ao parque habitacional foi a revisão da promessa para menos casas, gastando mais dinheiro e demorando mais tempo a concretizar..Em 2019, enquanto lançava programas para convencer os proprietários a arrendar casas 20% abaixo do preço do mercado em troca de duvidosos benefícios fiscais e anunciava a reabilitação de 40 imóveis devolutos do Estado para fazer apartamentos de renda acessível - gigantes como o antigo hospital Miguel Bombarda, que permitiria alojar centenas de famílias -, o primeiro-ministro repetia a promessa de dar teto às 26 mil famílias sem habitação condigna até abril de 2024. E sublinhava o compromisso de entregar 10 mil casas à classe média, tendo reservado para tal 600 milhões de euros..Em maio de 2021, oito meses depois de reforçar a promessa aquando da apresentação do PRR, que lhe duplicara os fundos para essa meta, revia já para 2026 a entrega das 26 mil casas aos mais necessitados. E em abril de 2022, inscrevia um investimento global superior a 2 mil milhões de euros para erradicar já não "todas" mas apenas "as principais carências habitacionais" identificadas..Mas as casas parecem ser como as creches gratuitas, um direito que é de todos mas só chega à metade que teve a sorte de conseguir vaga. Cinco anos depois das promessas de Costa, há menos oferta, os imóveis do Estado continuam devolutos e as vantagens apregoadas para criar uma espécie de PPP na habitação, conforme se faz no resto da Europa, não convenceram ninguém. Não só não há habitação para as famílias, pobres ou remediadas, como não existirá para os imigrantes que queremos convencer a vir trabalhar em Portugal. E até jovens que têm de estudar fora da sua cidade estão a desistir da universidade por não ter onde morar..Alguns virão clamar que se proíba quem tem casas de com elas ganhar dinheiro - especulação vergonhosa, acusará a extrema-esquerda. A solução é bem mais simples: dar gás à reabilitação do parque público e avançar com vantagens reais para os proprietários disponibilizarem já casas a quem precisa, sem perderem rendimento a que têm direito. Mas isso obriga a mais do que promessas ocas. Requer vontade de trabalhar por um país melhor.