Limites (internos) à competitividade na Investigação

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Comunicar inovação e produzir conhecimento são missões absolutamente distintas. Enquanto a primeira pressupõe a retransmissão de fontes científicas credíveis, a segunda pressupõe a produção de fontes científicas credíveis; enquanto a primeira é uma missão de docentes de natureza prática que colaboram (predominantemente) a tempo parcial com as instituições de ensino superior (IESs), a segunda é uma missão dos seus docentes de carreira; enquanto a primeira tem cabimento à escala nacional e em língua portuguesa, a segunda requer aprovação da comunidade internacional e, por isso, em língua inglesa. É fundamental perceber-se que o campeonato da investigação joga-se à escala global.

Portugal tem tido muitas dificuldades em ser competitivo neste domínio. Por um lado, as IES privadas não conseguem conceber um modelo de negócio sustentável para a investigação e, por isso, não possuem reputação suficiente para competir à escala global. Consequentemente, focam a sua estratégia na comercialização de produtos de formação tipicamente vendidos em Portugal no formato business-to-client (a estudantes e não empresas). Por outro lado, as IES públicas incorporam na sua missão a produção científica de impacto e, por isso, algumas possuem reputação para competir à escala global. Isto permite-lhes diversificar as suas fontes de receita em sede de formação de âmbito internacional e no formato business-to-business (destinado a empresas), serviços prestados à comunidade relacionados com inovação de produtos e/ou serviços, e investigação aplicada. Não deve o leitor esquecer que estas IES estão constrangidas na sua receita oriunda de programas de licenciatura ao limite máximo imposto pelo estado português de 697 euros/ano por estudante. Assim, às IES públicas coloca-se um enorme desafio: como garantir uma elevada competitividade à escala global que lhe permita reduzir a dependência de financiamento público, a sua autossuficiência e sustentabilidade, respeitando as regras impostas pelo estado português que lhe removem toda a flexibilidade na identificação, recrutamento e retenção de talento?

A competitividade científica internacional requer competitividade também (e sobretudo) nos mecanismos de recrutamento e retenção de talento, tanto ao nível dos procedimentos como ao nível da remuneração. Hoje um investigador promissor no início de carreira consegue obter contratos de 100 mil euros/ano nos Estados Unidos, ou 80 mil euros/ano no Reino Unido. Concomitantemente, estes países possuem um processo de recrutamento ágil e flexível, com margem de negociação acomodando os seus interesses aos interesses do candidato, e respetivos benefícios de acomodação muitas vezes para os seus familiares.

Comparativamente, em Portugal os ordenados dos nossos professores associados situam-se entre os 51 e os 66 mil euros/ano, e dos catedráticos podem ir até aos 76 mil euros/ano. Repare o leitor: isto é a elite da elite do nosso país (e do mundo) no que concerne à produção científica de impacto internacional. Em simultâneo, as IES públicas estão subordinadas ao código da contratação pública construído num modelo de one size fits all (igual para todos) que na maioria das vezes não é adequado nem para os bons nem para os maus investigadores, sendo excessivamente moroso e burocrático, retirando toda a flexibilidade às IES para competir à escala global.

Ainda assim, muito já fizeram algumas das nossas melhores referências em Portugal na área da Formação Executiva. No mais recente ranking do Financial Times de 2023, Portugal colocou as seguintes quatro IES no top #50: a Nova School of Business and Economics (18.º lugar), a Católica Lisbon School of Business and Economics (24.º lugar), a Porto Business School (34.º lugar) e o ISEG - Lisbon School of Economics and Management (47.º lugar). Difícil, e por isso mesmo, ainda mais meritório!

Diretor-executivo de Ensino Online da Nova SBE

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