Na tribuna onde Mao Tsé-Tung proclamou a República Popular da China, no dia 1 de outubro de 1949, na Praça Tiananmen, o atual presidente declarou: "Não há força que possa abalar as fundações desta grande nação." Xi Jinping, vestido como o fundador do regime comunista, presidiu às festividades, uma demonstração de músculo militar e de tecnologia de ponta com 15 mil soldados, mais de 500 tanques e outros veículos blindados, dezenas de aviões de caça e de helicópteros e um míssil intercontinental..À parada militar seguiu-se a civil, com cem mil participantes e 70 carros alegóricos a exaltar os grandes feitos do país, que em sete décadas passou de uma economia baseada na agricultura de subsistência para a segunda maior do mundo. Entre os dirigentes chineses estava a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que ouviu Xi Jinping afirmar que a China "deve cumprir" a política de um país, dois sistemas - como é aplicado em Hong Kong e Macau -, "manter a prosperidade e a estabilidade a longo prazo" daquele centro financeiro..A cerca de dois mil quilómetros, a região administrativa especial de Hong Kong viveu um dia de protestos e de violência, o mais grave desde o início das manifestações, no final de março. Em contraste com o dia de festa na China, os ativistas queriam marcar um dia de luto. Pela primeira vez a polícia usou balas reais, tendo atingido um estudante de 18 anos no peito..O jovem foi operado e a sua vida estará fora de perigo. A utilização de munições reais estendeu-se a outros locais..Apesar das proibições das autoridades, grupos de manifestantes juntaram-se na tarde de terça-feira numa dúzia de bairros e não apenas no centro, também por força do encerramento de quase metade das estações de metro. O objetivo dos ativistas era chamar a atenção sobre a forma como Pequim - acusam - está a cercear liberdades, direitos e garantias dos cidadãos de Hong Kong previstos no princípio um país, dois sistemas.."Não sou nova, mas se não nos manifestarmos agora nunca mais teremos a oportunidade de ter voz. É tão simples quanto isto", disse uma mulher de 42 anos à Reuters..Em contraste com as manifestações iniciais, marcadas pelo carácter pacífico e pela afluência de centenas de milhares de pessoas, desta vez, também por força da proibição, reuniram-se dezenas de milhares, segundo a AFP. Os confrontos duraram horas em diferentes partes do território. Os manifestantes aproveitaram para descarregar a fúria nas estações de metropolitano que se encontravam encerradas..Grupos radicais munidos de cocktails Molotov, de pedras e de guarda-chuvas enfrentaram a polícia de choque, a qual ripostou com gás lacrimogéneo, balas de borracha, balas reais e canhões de água. Foram erguidas e incendiadas barricadas, com o fumo a ofuscar os arranha-céus..Segundo as autoridades, os manifestantes atiraram um líquido corrosivo à polícia em Tuen Mun, no noroeste de Hong Kong. A polícia publicou fotos online que mostram um agente com buracos na farda e com queimaduras no peito..Os manifestantes lançaram ovos ao retrato do presidente chinês, Xi Jinping, rasgaram e espezinharam cartazes de comemoração do 70.º aniversário da República Popular da China. A violência perdurou até depois da meia-noite.."Novo paradigma".A corrente de instabilidade e insegurança ficou à vista de todos quando o local da cerimónia de hastear da bandeira foi mudado. A cerimónia, que se realiza ao ar livre desde que o Reino Unido transferiu a soberania de Hong Kong, em 1997, realizou-se à porta fechada, no Centro de Congressos..Já no dia 1 de julho, data de aniversário da passagem de Hong Kong para Pequim, a cerimónia já havia sido realizada no interior, enquanto os manifestantes tomavam as ruas. O vice da chefe do executivo, Matthew Cheung, elogiou o desenvolvimento da China nos últimos 70 anos. No entanto, disse que as autoridades reconheceram a necessidade de "um novo paradigma para tentar resolver problemas profundamente enraizados" em Hong Kong..As cinco exigências dos manifestantes."Três meses depois, as nossas cinco exigências ainda não estão a ser cumpridas. Precisamos de continuar nossa luta", disse um manifestante mascarado à AFP..No início de setembro, Carrie Lam anunciou a retirada formal da nova lei da extradição. Ao alegar o perigo da "violência persistente" para as "fundações da sociedade, especialmente o Estado de direito", Lam fez marcha-atrás à legislação que permitiria a Pequim julgar cidadãos de Hong Kong..Esse foi o motivo pelo qual os protestos irromperam em março, mas, na realidade, são quatro as exigências. Os ativistas pró-democracia reivindicam a libertação dos manifestantes detidos; que os protestos não sejam definidos como motins (no final de julho 44 ativistas foram acusados pelo crime de sublevação); um inquérito independente à violência policial; e a demissão da chefe do governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o Parlamento de Hong Kong..Reações.A União Europeia apelou à "diminuição da escalada e à contenção" em Hong Kong na sequência de um agente da polícia ter disparado contra um manifestante. "À luz da turbulência e da violência que persistem em Hong Kong, a União Europeia continua a sublinhar que o diálogo, a diminuição da escalada e a contenção são o único caminho a seguir", disse a porta-voz da União Europeia, Maja Kocijancic, aos jornalistas..Já o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, afirmou que, "embora não haja desculpa para a violência, o uso de munições reais é desproporcional e só pode inflamar a situação"..O candidato norte-americano nas primárias democratas Pete Buttigieg aproveitou para criticar Donald Trump. "Os manifestantes em Hong Kong estão a arriscar as suas vidas para defender a democracia e exigir liberdade. Enquanto isso, aqui, o partido deste presidente está a destruir as normas democráticas que fizeram da América um farol de liberdade para o mundo.".Também através do Twitter, o presidente Donald Trump havia dado os parabéns ao regime chinês e ao seu presidente, Xi Jinping..Outros, como o senador democrata Bob Menendez, criticaram Trump pela mensagem. "Quando quem luta pela liberdade de expressão e liberdade de reunião é atingido por munições reais, os Estados Unidos não devem assobiar para o lado enquanto as aspirações democráticas do povo de Hong Kong são violentamente espezinhadas", escreveu..Donald Trump e Xi Jinping têm mantido uma relação pessoal de amizade, segundo o líder norte-americano, mas tensa graças à guerra comercial entre os dois países.
Na tribuna onde Mao Tsé-Tung proclamou a República Popular da China, no dia 1 de outubro de 1949, na Praça Tiananmen, o atual presidente declarou: "Não há força que possa abalar as fundações desta grande nação." Xi Jinping, vestido como o fundador do regime comunista, presidiu às festividades, uma demonstração de músculo militar e de tecnologia de ponta com 15 mil soldados, mais de 500 tanques e outros veículos blindados, dezenas de aviões de caça e de helicópteros e um míssil intercontinental..À parada militar seguiu-se a civil, com cem mil participantes e 70 carros alegóricos a exaltar os grandes feitos do país, que em sete décadas passou de uma economia baseada na agricultura de subsistência para a segunda maior do mundo. Entre os dirigentes chineses estava a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que ouviu Xi Jinping afirmar que a China "deve cumprir" a política de um país, dois sistemas - como é aplicado em Hong Kong e Macau -, "manter a prosperidade e a estabilidade a longo prazo" daquele centro financeiro..A cerca de dois mil quilómetros, a região administrativa especial de Hong Kong viveu um dia de protestos e de violência, o mais grave desde o início das manifestações, no final de março. Em contraste com o dia de festa na China, os ativistas queriam marcar um dia de luto. Pela primeira vez a polícia usou balas reais, tendo atingido um estudante de 18 anos no peito..O jovem foi operado e a sua vida estará fora de perigo. A utilização de munições reais estendeu-se a outros locais..Apesar das proibições das autoridades, grupos de manifestantes juntaram-se na tarde de terça-feira numa dúzia de bairros e não apenas no centro, também por força do encerramento de quase metade das estações de metro. O objetivo dos ativistas era chamar a atenção sobre a forma como Pequim - acusam - está a cercear liberdades, direitos e garantias dos cidadãos de Hong Kong previstos no princípio um país, dois sistemas.."Não sou nova, mas se não nos manifestarmos agora nunca mais teremos a oportunidade de ter voz. É tão simples quanto isto", disse uma mulher de 42 anos à Reuters..Em contraste com as manifestações iniciais, marcadas pelo carácter pacífico e pela afluência de centenas de milhares de pessoas, desta vez, também por força da proibição, reuniram-se dezenas de milhares, segundo a AFP. Os confrontos duraram horas em diferentes partes do território. Os manifestantes aproveitaram para descarregar a fúria nas estações de metropolitano que se encontravam encerradas..Grupos radicais munidos de cocktails Molotov, de pedras e de guarda-chuvas enfrentaram a polícia de choque, a qual ripostou com gás lacrimogéneo, balas de borracha, balas reais e canhões de água. Foram erguidas e incendiadas barricadas, com o fumo a ofuscar os arranha-céus..Segundo as autoridades, os manifestantes atiraram um líquido corrosivo à polícia em Tuen Mun, no noroeste de Hong Kong. A polícia publicou fotos online que mostram um agente com buracos na farda e com queimaduras no peito..Os manifestantes lançaram ovos ao retrato do presidente chinês, Xi Jinping, rasgaram e espezinharam cartazes de comemoração do 70.º aniversário da República Popular da China. A violência perdurou até depois da meia-noite.."Novo paradigma".A corrente de instabilidade e insegurança ficou à vista de todos quando o local da cerimónia de hastear da bandeira foi mudado. A cerimónia, que se realiza ao ar livre desde que o Reino Unido transferiu a soberania de Hong Kong, em 1997, realizou-se à porta fechada, no Centro de Congressos..Já no dia 1 de julho, data de aniversário da passagem de Hong Kong para Pequim, a cerimónia já havia sido realizada no interior, enquanto os manifestantes tomavam as ruas. O vice da chefe do executivo, Matthew Cheung, elogiou o desenvolvimento da China nos últimos 70 anos. No entanto, disse que as autoridades reconheceram a necessidade de "um novo paradigma para tentar resolver problemas profundamente enraizados" em Hong Kong..As cinco exigências dos manifestantes."Três meses depois, as nossas cinco exigências ainda não estão a ser cumpridas. Precisamos de continuar nossa luta", disse um manifestante mascarado à AFP..No início de setembro, Carrie Lam anunciou a retirada formal da nova lei da extradição. Ao alegar o perigo da "violência persistente" para as "fundações da sociedade, especialmente o Estado de direito", Lam fez marcha-atrás à legislação que permitiria a Pequim julgar cidadãos de Hong Kong..Esse foi o motivo pelo qual os protestos irromperam em março, mas, na realidade, são quatro as exigências. Os ativistas pró-democracia reivindicam a libertação dos manifestantes detidos; que os protestos não sejam definidos como motins (no final de julho 44 ativistas foram acusados pelo crime de sublevação); um inquérito independente à violência policial; e a demissão da chefe do governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o Parlamento de Hong Kong..Reações.A União Europeia apelou à "diminuição da escalada e à contenção" em Hong Kong na sequência de um agente da polícia ter disparado contra um manifestante. "À luz da turbulência e da violência que persistem em Hong Kong, a União Europeia continua a sublinhar que o diálogo, a diminuição da escalada e a contenção são o único caminho a seguir", disse a porta-voz da União Europeia, Maja Kocijancic, aos jornalistas..Já o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, afirmou que, "embora não haja desculpa para a violência, o uso de munições reais é desproporcional e só pode inflamar a situação"..O candidato norte-americano nas primárias democratas Pete Buttigieg aproveitou para criticar Donald Trump. "Os manifestantes em Hong Kong estão a arriscar as suas vidas para defender a democracia e exigir liberdade. Enquanto isso, aqui, o partido deste presidente está a destruir as normas democráticas que fizeram da América um farol de liberdade para o mundo.".Também através do Twitter, o presidente Donald Trump havia dado os parabéns ao regime chinês e ao seu presidente, Xi Jinping..Outros, como o senador democrata Bob Menendez, criticaram Trump pela mensagem. "Quando quem luta pela liberdade de expressão e liberdade de reunião é atingido por munições reais, os Estados Unidos não devem assobiar para o lado enquanto as aspirações democráticas do povo de Hong Kong são violentamente espezinhadas", escreveu..Donald Trump e Xi Jinping têm mantido uma relação pessoal de amizade, segundo o líder norte-americano, mas tensa graças à guerra comercial entre os dois países.