Não são apenas as montras de lojas e restaurantes e a sinalética das ruas de Lisboa que se vão adaptando à diversidade dos visitantes da cidade. Os sindicatos de professores também já perceberam que têm nos turistas ouvintes adicionais das suas reivindicações. E nesta segunda-feira, numa ação de rua no Largo de Camões, foram distribuídos panfletos onde se explicava "la lucha del professorado em Portugal", "the fight of teachers in Portugal", "la lutte des enseignants au Portugal". O próximo passo, já nesta terça-feira, em Faro, será a recolha de assinaturas de turistas que queiram mostrar a sua solidariedade com a luta dos professores pela devolução do tempo de serviço congelado..Ao DN, Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, garantiu que a iniciativa de traduzir os panfletos em castelhano, inglês e francês, bem como a recolha de assinaturas - que começará hoje e continuará até ao final da semana de greves por regiões, na quinta-feira -, não se destinam a embaraçar o governo português perante os visitantes estrangeiros mas, sim, a satisfazer a curiosidade destes últimos.."No dia 5 de setembro, quando tivemos um encontro nacional de delegados da Fenprof, descemos a Avenida da Liberdade e fomos até ao Terreiro do Paço. No caminho, vimos muitos turistas a tirar fotos e alguns até vieram ter connosco, desde argentinos a franceses e espanhóis", contou. "Queriam saber qual era o motivo do protesto e mostraram-se todos muito solidários. Alguns até eram professores reformados.".Foi assim, explicou, que surgiu a ideia de traduzir "um pequeno texto", que serviria também para contrabalançar alguma imagem negativa que pudesse ter surgido em relação aos docentes portugueses, depois de o estudo Education at a Glance, da OCDE, ter concluído que estes eram comparativamente bem pagos face a outros diplomados nacionais e que passavam menos horas na escola do que os colegas de outros países. "Se, em algumas leituras desse estudo, passou em Portugal a ideia errada de que os professores ganham bem e trabalham pouco, também podia haver da parte dos turistas a ideia de que a luta dos professores portugueses não teria razão de ser.".Nesta segunda-feira, refere Nogueira, muitos dos turistas que leram o documento acabaram por "perguntar se não havia alguma coisa que pudessem assinar para mostrarem a sua solidariedade com os professores". A partir desta terça-feira passa a haver.."A partir de amanhã já vamos ter uma folhinha para que possam, no Algarve, em Évora, em Coimbra ou no Porto, mostrar a sua solidariedade." Os pontos de passagem das ações de rua também serão locais populares entre os turistas. Não deliberadamente mas por serem naturalmente locais onde há mais movimento. "Amanhã estaremos no Jardim Luís Bívar, em Faro, junto às docas, e em Évora na Praça do Giraldo. Em Coimbra vamos estar na Baixa, junto à Igreja de Santa Cruz, e também na zona da universidade. No Porto, passaremos pela Praça da Liberdade, junto à estátua d'O Ardina."."Mais de uma centena de escolas encerradas".Até quinta-feira, dez organizações sindicais (só o recém-criado Sindicato de Todos os Professores não participa) convocaram uma greve de docentes por regiões. O protesto arrancou nesta segunda-feira, nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém, sendo certo que, de acordo com as organizações sindicais, houve "mais de uma centena de escolas encerradas" e a participação de "cerca de 75%" dos professores. O DN questionou o Ministério da Educação sobre o impacto da greve mas não teve resposta..A greve prossegue nesta terça-feira em Portalegre, Évora, Beja e Faro. Na quarta-feira será a vez de paralisarem os docentes de Coimbra, Aveiro, Castelo Branco, Guarda, Leiria e Viseu. E na quinta-feira será a vez de Porto, Braga, Viana do Castelo, Bragança, Vila Real e Açores..Na sexta-feira, feriado do 5 de Outubro, data da Implantação da República, e também Dia Internacional do Professor, há manifestação em Lisboa. E Mário Nogueira, lembrando que "os professores e o ensino foram muito importantes" para os primeiros republicanos, já prometeu uma associação a essa efeméride do protesto dos docentes.