Uma semana boa e um futuro obscuro

Publicado a
Atualizado a

Distraídos que andamos com o bate-boca do Galambagate e da novela executiva que Costa parece empenhado em manter por muitos episódios - ou já teria dado esclarecimentos cabais, aberto a porta de saída a ministros-zombies como Galamba e Céu Antunes e fechado o assunto -, muitos nem se aperceberam. Mas esta foi uma boa semana para Portugal.

Desde logo, pela confirmação do crescimento no primeiro trimestre (2,5% por comparação com março do ano passado) e pela queda da inflação para 4% em abril, deixando um bocadinho de folga nas carteiras dos portugueses, ao fim de um ano de duras restrições. Por outro lado, o turismo voltou a bater recordes. Nunca tivemos tantos estrangeiros a visitar-nos, sobretudo americanos e canadianos com poder de compra - o que se traduz em receitas para a hotelaria, a restauração, o comércio e todo o setor dos serviços. E ainda nem chegámos ao verão e à Jornada Mundial da Juventude... Também de Boticas chegaram bons ventos, com a luz verde da Agência Portuguesa do Ambiente à exploração de lítio, aprovação que a Savannah esperava há anos para poder avançar com o investimento de 150 milhões de euros que permitirá, prevê-se, pôr fim a 100 milhões de toneladas de emissões de CO2 e transformar a região.

Até o ministro da Economia veio juntar-se ao coro feliz. O mesmo governante que estreou por cá a ideia de que era preciso taxar os "lucros excessivos" vem agora admitir que é altura de pôr fim à contribuição extraordinária, cumprindo o seu caráter excecional e temporário, e encaminhar o país que há três anos consecutivos bate recordes de coleta fiscal para uma via de redução de impostos, com vista a "libertar o potencial de crescimento das empresas e das famílias".

Com um governo em permanente gestão de crise, porém - das crises que ele próprio gera -, as boas notícias podem não passar de fogachos. Voltar a crescer é sempre positivo, ainda mais a um ritmo que se destaca no panorama europeu. Mas ser dos melhores entre os piores é fraco consolo - a média da zona euro fechou o ano nuns pífios 3,5% e a estimativa apontada aos nossos principais parceiros de negócios é de abrandamento ou estagnação. E se a Europa não está a ser capaz de voltar à passadeira, também não tem criado condições para procurar fora os impulsos de que precisa. Atente-se no alerta das confederações dos patrões: entre o pré e o pós-pandemia, o investimento direto estrangeiro caiu 66% (subindo quase esse valor nos EUA), roubando-nos competitividade, também à boleia da insuportável euroburocracia. Por outro lado, a taxa de desemprego cresceu num ano de menos de 6% para 7,2%, antecipando dificuldades que alguns setores já sentem, com a fatia de trabalhadores a receber até mil euros por mês a alargar-se já a mais de metade dos empregados. Novo aeroporto, nem vê-lo. De projetos para o futuro, não se ouve falar. Planeamento estrutural, zero.

É o reflexo de um país que vive um bom momento, mas não tem estratégia ou rumo definido que lhe permita aproveitar a onda. Sem políticas públicas competentes, vamos morrer na praia do que podia ter sido.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt