Coligação anti-Netanyahu na reta da meta
Um dia pleno de emoções em Israel, é o que se prevê nesta quarta-feira. Enquanto os líderes partidários tentam ultimar um acordo de coligação, e dessa forma evitar as quintas eleições em dois anos e desalojar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, os deputados escolhem o sucessor do chefe de Estado Reuven Rivlin.
Yair Lapid, o líder do partido centrista Yesh Atid, pretende anunciar esta manhã que tem condições para formar um governo, com o objetivo de o presidente do Knesset (Parlamento) Yariv Levin agende a votação para aprovar a coligação na próxima quarta-feira, 9. No entanto, o Canal 12 diz que o partido Likud, do primeiro-ministro Netanyahu, está a analisar se Levin pode adiar o voto de confiança no futuro governo de forma a ter mais tempo para tentar negociar possíveis deserções. Como disse o cientista político Jonathan Rynhold, seria insensato neste momento descartar Netanyahu, "a milhas, o melhor jogador de cartas".
Também Mansour Abbas, líder do Raam, partido da Lista Árabe Unida, que pode ser o joker com quatro deputados eleitos, reconhece que em política, e em especial em Israel, "até estar terminado, nada está terminado". Abbas, contudo, mostrou-se esperançado na constituição de um governo, ao dizer que as negociações pareciam estar a ir "numa boa direção".
Lapid tem até às 23.59 para formar um governo antes do mandato atribuído por Rivlin expirar, depois de tal ter sucedido com Netanyahu. Caso Lapid seja incapaz de formar uma coligação, o processo é devolvido ao Knesset durante 21 dias. Se nenhum deputado for capaz de assegurar uma maioria governativa até ao final desse período, o Knesset irá ser dissolvido e serão convocadas as quintas eleições legislativas desde abril de 2019.
Para evitar esse cenário, a maratona de negociações prosseguiu entre as equipas dos principais dirigentes de esquerda, centro e de parte da direita, incluindo o Yamina, partido de Naftali Bennett, que em caso de sucesso, deverá ser o primeiro a assumir o posto de primeiro-ministro, em rotatividade com Yair Lapid. Segundo o Yamina, os principais dirigentes reuniram-se num hotel em Telavive num "esforço para alcançar um acordo".
Para chegar ao número mágico de 61 deputados, Lapid e Bennett terão de abrir a coligação, que terá de incluir o partido Nova Esperança do antigo aliado de Netanyahu, Gideon Saar, o nacionalista secular Yisrael Beitenu, do também ex-aliado e agora inimigo Avigdor Lieberman, e o centrista Azul e Branco do ministro da Defesa Benny Gantz, o Trabalhista e o verde Meretz. E ainda terá de ter pelo menos o apoio parlamentar dos árabes israelitas para que o campo anti-Netanyahu suplante a metade parlamentar.
"Até à formação do governo ainda restam muitos obstáculos. É o nosso primeiro teste para ver se conseguimos encontrar compromissos inteligentes e alcançar o nosso objetivo mais importante", afirmou Lapid, reconhecendo que quase tudo divide os partidos, exceto o desejo de virar a página e afastar Netanyahu, que enfrenta a justiça em casos de corrupção.
Se a coligação vingar, o presidente Reuven Rivlin ainda irá assistir à tomada de posse do novo executivo. Rivlin deixa o cargo no dia 9 de julho. O seu sucessor será Isaac Herzog ou Miriam Peretz. Em Israel são os deputados quem elege o chefe de Estado, cujo mandato é de sete anos e não renovável. Em qualquer dos casos vai escrever-se história. Herzog, ex-ministro trabalhista, e atual administrador da Agência Judaica, é filho de Chaim Herzog, presidente entre 1983 e 1993. Já Peretz seria a primeira mulher a chefiar Israel. E também o primeiro presidente sem ligações políticas: é professora e mãe de dois soldados mortos em serviço.
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