Ao longo do último ano, na Catalunha, mas também em Espanha, aconteceram muitas coisas inesperadas a nível político. O referendo ilegal organizado a 1 de outubro desencadeou outros acontecimentos, como a declaração unilateral da independência da Catalunha e esta, por sua vez, a aplicação do artigo 155.º da Constituição espanhola..Houve fugas para o estrangeiro, sendo a mais famosa a do ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, que se encontra a viver na Bélgica. E a prisão preventiva por rebelião do ex-vice-presidente do governo autónomo catalão, Oriol Junqueras, bem como de outros oito conselheiros. Seguiram-se eleições, que deram a vitória ao Ciudadanos em número de votos, mas por falta de maioria parlamentar a Catalunha voltou a ser governada por uma coligação de independentistas. Quim Torra, fiel a Puigdemont, é o presidente da Generalitat..Também no governo central espanhol aconteceram mudanças importantes. Saiu o PP e entrou o PSOE. O primeiro-ministro Mariano Rajoy e a sua equipa foram afastados depois de ser aprovada a moção de censura de Pedro Sánchez. Apesar de minoritário no Parlamento de Espanha, o executivo do PSOE parece mais aberto ao diálogo com a Catalunha, dando sinais de aproximação, embora mais nas palavras, do que nos atos. Com os dirigentes políticos catalães presos parece difícil fazer quaisquer avanços num acordo e, por agora, ninguém parece disposto a dar um passo em frente..A derrota que ninguém quer admitir."Para os independentistas é duro reconhecer que saíram derrotados", afirma o filósofo catalão Jordi Amat durante um encontro com jornalistas estrangeiros. Ao mesmo tempo, "o independentismo realista está à espera de uma resposta espanhola, a qual não pode existir com a conjuntura parlamentar atual", acrescenta. Acredita que, um ano depois do referendo, os independentistas não estão cansados, "há sempre um argumento para justificar uma nova mobilização", não tendo dúvidas de que o chamado Procès deteriorou a democracia em Espanha e causou danos sérios no sistema partidário da Catalunha..Amat sublinha que muitas pessoas que não gostavam da política abraçaram uma fé e o independentismo converteu-se "num movimento social incansável com sentimento civil de milhares de pessoas que nunca tiveram preocupações políticas". Por isso espera que neste 1 de outubro se volte a reviver o sentimento de comunidade, "os políticos ajudam a criar este sentimento", afirma. E define como "fascinante e perverso" ver as pessoas que não saem do movimento independentista. Um movimento que está sem controlo e "que só foi controlado por Puigdemont". Para Jordi Amat "é preciso negociar um novo pacto" mas "não se sabe quem vai negociar pois para os independentistas a condição do acordo é não aceitar a derrota"..Autor do livro A Conspiração dos Irresponsáveis, Jordi Amat pensa que os irresponsáveis "são todos, na medida em que não se conseguiu evitar o desastre". Quem exerceu a liderança durante mais anos "não foi capaz de evitar o conflito e fez que este não tenha solução". Acredita que figuras como Rajoy, "porque esteve o ciclo político todo", o ex-presidente da Generalitat Artur Mas, "porque sabia que estava a brincar com fogo", e ainda Puigdemont, foram mais irresponsáveis do que outros..Moncloa quer voltar à normalidade.Fontes do governo consultadas pelo DN afirmam que a Moncloa quer encetar com a Catalunha uma agenda e um clima de normalidade mas que, para isso acontecer, é preciso que existam a priori vários elementos: respeito e reconhecimento, ter as mesmas regras de jogo e vontade para chegar a um acordo..A equipa do primeiro-ministro Pedro Sánchez considera o problema catalão como uma crise política de grande magnitude e, como tal, não vai ser resolvida de um dia para outro "nem em meses ou num ano". .O governo central espanhol sente que o independentismo carece de estratégica e não consegue mudar de rumo. Do gabinete do chefe do governo socialista lembram que, um ano depois do referendo ilegal, a Constituição de Espanha continua a não permitir a consulta e, ao mesmo tempo, do ponto de vista político, esta também não é desejável porque "divide ainda mais a sociedade". .Evitar uma tensão crónica.Como resposta ao 1 de outubro de 2017, uma semana depois realizou-se uma manifestação na Catalunha pela unidade de Espanha até então nunca vista. Os catalães contrários à independência deixaram de estar em silêncio. ."O ambiente político fica tenso por momentos e queremos baixar a tensão na Catalunha", afirma José Rosiñol, presidente da organização Societat Civil Catalana, onde convivem pessoas de ideologias muito diferentes..Rosiñol acredita que, para encontrar uma solução, os independentistas devem reconhecer que estão errados. "Está nas suas mãos", assinala, referindo que tornar esta tensão crónica "vai ser muito mau"..Esta associação gostava de se reunir com outras que são independentistas, como Assemblea Nacional Catalana e Òmnium Cultural, "para ver o que podemos fazer para ajudar a sociedade catalã". "Nós não somos movimentos políticos, mas podemos ajudar", explica Rosiñol, também num encontro com a imprensa estrangeira. .Mas para aceitar uma tal reunião, refere o responsável da Societat Civil Catalana, "querem que peça publicamente a libertação de Jordi Cuixart [líder de Ómnium] ou que visite na prisão os políticos presos". Para José Rosiñol, "os independentistas cada vez são menos mas estão cada vez mais radicalizados".