Afetam milhões de pessoas em todo o mundo e são altamente debilitantes, mas ainda não foram desenvolvidos tratamentos eficazes para as combater. Vários cientistas têm vindo a estudar as dores ósseas, associadas às artroses, fraturas causadas pela osteoporose, doenças raras ou metástases ósseas, mas os resultados têm sido limitados. Agora, o projeto europeu BonepainII, que o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) integra, foi financiado pela União Europeia em 4,4 milhões de euros com vista à formação de 15 jovens especialistas no estudo da dor óssea e no desenvolvimento de novas terapias..Em comunicado, o i3S explica que a BonepainII é uma rede europeia de formação inovadora (ITN) destinada a promover a investigação, inovação e educação na área da dor esquelética e conta com a participação de seis países europeus, englobando oito grupos de investigação e quatro empresas.."Esta rede europeia fornecerá a estes investigadores um conhecimento especializado na área que lhes permitirá obter um emprego de alto nível, tanto na academia como na indústria. Estas redes europeias oferecem uma formação multidisciplinar, uma vez que durante a sua formação passam pelos centros de investigação que integram a rede", explica ao DN Meriem Lamghari, investigadora do i3S, responsável pela coordenação do projeto em Portugal..Apesar da investigação que tem sido desenvolvida nesta área, inclusive em Portugal, ainda não existem terapêuticas eficazes. "Há grupos de investigação portugueses que estão dedicados à área de dor já há muitos anos, mas as terapias existentes para tratamento de dor esquelética não são muito eficazes, pelo que a investigação nesta área continua à procura de perceber melhor a dor e encontrar formas de a tratar", refere a investigadora..No âmbito do BonepainII, o i3S foi convidado a contribuir com o seu "know-how em modelos 3D em chips para estudos de interações neuro-esqueléticas". Neste projeto, prossegue Miriem, o grupo português espera "chegar a desenvolver um modelo 3D in vitro, baseado em chips mais complexos que permitem recriar uma realidade in vitro semelhante ao microambiente das metástases ósseas, possibilitando o estudo da interação entre as células nervosas, as ósseas e as cancerígenas"..Para uma melhor compreensão deste tipo de dor, lê-se no comunicado, os investigadores irão adaptar os modelos 3D em chip que já desenvolveram para outros estudos, colocando em diferentes compartimentos os referidos tipos de células. "O ambiente de interação nestes chips, para simular a interação entre células no órgão humano, é garantido por minúsculos canais que permitem às diferentes células comunicarem entre si." "Sabemos que em situação de metástase óssea, as fibras nervosas no local sofrem um aumento significativo no seu crescimento. Queremos saber por que razão elas crescem de forma anormal nestas situações, qual dos três grupos de células está a enviar sinais e para quem", explica Meriem Lamghari. Esses modelos, adianta, "também podem ser utilizados para testar potenciais terapias"..Denominado "Modelos 3D de base microfluídica para abordar o crescimento das fibras nervosas patológicas associadas a metástases ósseas", o trabalho da investigadora do i3S que integra o projeto BonepainII é financiado pelo programa de investigação e inovação Horizon 2020 da União Europeia no âmbito do Marie Sklodowska-Curie. E está articulado com outro projeto europeu denominado RESTORE, no qual Miriem é coordenadora, e que se centra na regeneração de cartilagem do joelho.."RESTORE é um projeto europeu de investigação com dez parceiros da academia e da indústria mas não é de formação como o BonepainII. São dois projetos com objetivos diferentes mas ambos focados nos problemas esqueléticos", esclarece. Segundo a mesma, o objetivo deste "é criar matrizes 3D com incorporação de nanomateriais inteligentes para reparar defeitos de cartilagem do joelho e assim diminuir ou retardar o aparecimento da osteoartrite, que se manifesta pela presença de dor (que pode ser altamente incapacitante) e pela rigidez e perda de mobilidade de articulação"..O RESTORE foi financiado pela Comissão Europeia com 5,5 milhões de euros, sendo que o trabalho da equipa do i3S irá receber cerca de um milhão de euros.