A marca norte-americana Viceroy está representada num hotel com 76 quartos e em 65 residências, distribuídas por 24 edifícios, no empreendimento Ombria Algarve.
A marca norte-americana Viceroy está representada num hotel com 76 quartos e em 65 residências, distribuídas por 24 edifícios, no empreendimento Ombria Algarve. D.R.

Ícones mundiais da moda de luxo estreiam-se no imobiliário em Portugal

Marcas estão a associar-se a produtos residenciais exclusivos. A Missoni vai dar brilho ao Aroeira Collection e Karl Lagerfeld será o símbolo de um edifício em Lisboa. E há mais projetos em pipeline.
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A Missoni, ícone da moda de luxo, decidiu associar o seu traço de “qualidade, excelência e estética” ao projeto residencial e turístico Aroeira Collections, que a Norfin está a desenvolver na Costa da Caparica, a 30 minutos de Lisboa, num investimento de 200 milhões de euros. O Aroeira Collections by Missoni, cuja construção se iniciará no terceiro trimestre deste ano, é a estreia da marca italiana no mercado imobiliário português. Traduz também o crescente interesse destes símbolos de exclusividade por Portugal. O país tem “o maior pipeline de projetos de branded residences [residências de marca] para os próximos cinco anos, a nível da Europa, num total de cerca de 1200 unidades de alojamento”, revela Paula Sequeira, diretora de Consultoria e Avaliações da Savills.

Para a Missoni, que chegou ao mundo das residências e da hotelaria de luxo em 2016, com um projeto em Miami, a entrada neste setor foi uma “decisão estratégica”, impulsionada “pelo desejo de expandir a sua visão de estilo de vida para além da moda, criando ambientes imersivos que refletem a identidade da marca na arquitetura, interiores e experiência”. Entretanto, já firmou novas parcerias, para empreendimentos no Dubai, Marbella, Toronto e Brasil, adianta fonte oficial da marca. Em Portugal, a escolha recaiu no Aroeira Collections, que considera “a tela perfeita para expressar o seu estilo, ao mesmo tempo que acrescenta valor real ao empreendimento”.

O Aroeira Collections é “uma fusão entre moda de luxo e o imobiliário de alto padrão” e isso “aumenta a atratividade” do projeto, defende Francisco Sottomayor, CEO da Norfin. Numa área de 350 hectares, será construído um hotel com 138 apartamentos, 40 apartamentos autónomos, 24 moradias e 28 villas. Na sua opinião, vai “atrair uma gama diversa de investidores, incluindo compradores internacionais à procura de casas de férias exclusivas e indivíduos de alto património líquido que procurem ativos imobiliários prestigiados”. O responsável lembra que o empreendimento está intimamente ligado a um extraordinário campo de golfe com a marca PGA [PGA Aroeira Lisboa], certamente atrairá compradores deste ecossistema”.

A construção do Aroeira Collections by Missoni (ao lado) arranca este ano.
A construção do Aroeira Collections by Missoni (ao lado) arranca este ano.D.R.

Há pouco mais de um mês, a Norfin arrancou com a comercialização do projeto. Os preços começam nos 370 mil euros. Segundo Francisco Sottomayor, há já “bastantes reservas assinadas e muitas unidades com demonstrações de interesse muito sólidas”. Neste momento, cerca de 70% dos compradores são portugueses e os restantes 30% distribuem-se por diferentes nacionalidades, com especial predominância da espanhola e brasileira. A grande maioria dos interessados tem perfil de investidor (80%) e os restantes estão a comprar para primeira ou segunda habitação. Como sublinha o responsável, a estratégia de marketing foi desenhada para atrair “clientes sofisticados que procuram residências luxuosas que oferecem tanto conforto como uma experiência estética excecional”, especialmente europeus e norte-americanos, mas sem descurar o mercado doméstico.

Esta associação entre marcas e imobiliário apresenta-se como um caso de sucesso. A promotora Overseas aguarda o licenciamento de um edifício residencial de dez apartamentos, em Lisboa, que ostentará o nome do já falecido designer de moda alemão Karl Lagerfeld. O projeto, cuja construção deverá arrancar no primeiro semestre de 2026, está envolvido em segredo. Pedro Vicente, CEO da Overseas, adianta apenas que será “surpreendente”, de “características únicas, que o posicionam como um produto de superluxo”. E assegura: o ADN da marca será “facilmente reconhecido”.

Este sigilo parece estar a estimular a curiosidade e o investimento. Segundo o gestor, “desde que foi anunciado, chegam-nos perguntas sobre o edifício de todas as partes do mundo, antevendo-se um enorme sucesso de vendas”. Aliás, o processo de venda deverá ser reservado e exclusivo.

Superluxo em Lisboa e Algarve

As branded residences “proporcionam emoções exclusivas e uma diferenciação no estilo de vida das pessoas, que regista muita procura”, justifica Pedro Vicente. Em Portugal, este segmento de superluxo está a dar os primeiros passos e, para já, muito focado nas regiões de Lisboa e Algarve. Mas espera-se uma evolução pelo território nacional. Segundo Paula Sequeira, a Comporta tem vindo a afirmar-se como “o próximo destino de referência para residências de marca, beneficiando da sua exclusividade e proximidade à natureza” e há outras zonas a emergir, como o Douro e algumas áreas costeiras do Alentejo, que oferecem autenticidade e potencial de valorização a médio prazo.

O que já se sabe é que o Algarve contará com seis novos projetos nos próximos cinco anos, que representam mais de 800 unidades de alojamento, e Lisboa receberá cinco empreendimentos, totalizando cerca de 200 unidades, adianta a especialista em imobiliário. Há também alguns investimentos previstos para o Alentejo, região que começa agora a despertar interesse. E a Overseas está já “a planear avançar com mais projetos branded”, admitindo lançar um ou dois neste segmento, em 2026, revela Pedro Vicente.

Segundo Paula Sequeira, o crescimento das branded residences em Portugal “reflete uma tendência global e o crescente prestígio internacional do país”. Como sublinha, fatores como a qualidade de vida, clima ameno, segurança, estabilidade política e benefícios fiscais têm atraído um número crescente de high-net-worth individuals (pessoas com elevado património), oriundos sobretudo dos Estados Unidos, Brasil, Médio Oriente e Europa Central, que procuram diversificar o seu portefólio imobiliário. Afinal, são projetos que combinam o prestígio de uma marca internacional com o conforto de uma habitação privada e os serviços de um hotel de cinco estrelas. As residências de marca oferecem concierge 24 horas, serviços de limpeza, self-dining, baby- sitting, spa e experiências personalizadas, entre outras comodidades.

Já as marcas de moda veem nestes projetos uma oportunidade de diversificação e de aprofundar a sua relação com clientes de elevado poder aquisitivo. “Ao expandirem para o setor residencial, conseguem criar um ecossistema de marca coeso, onde o consumidor não só veste a marca, como passa a “vivê-la” no dia a dia”, sublinha Paula Sequeira. Estes empreendimentos de superluxo estão também associados a redes hoteleiras. Um exemplo é a marca norte-americana Viceroy, que dá nome e prestígio a um hotel com 76 quartos e a 65 residências, distribuídas por 24 edifícios, no empreendimento Ombria Algarve, em Loulé.

Segundo João Richard Costa, diretor Comercial do Ombria Algarve, a escolha da Viceroy Hotels & Resorts como parceira estratégica visou “criar um destino verdadeiramente único no Algarve, que alia sofisticação, autenticidade e sustentabilidade”. A Viceroy é reconhecida pela “abordagem diferenciadora à hospitalidade, que privilegia experiências locais, um design distinto e um serviço altamente personalizado” e essa filosofia encaixa-se na ambição do Ombria Algarve, de “redefinir os padrões do turismo de luxo no sul da Europa”, diz ainda.

As residências, algumas com terraços, piscinas privadas, jardins e vistas privilegiadas para o campo de golfe do empreendimento, são entregues chave-na-mão, mobiladas e equipadas de acordo com os standards da marca. Os proprietários têm acesso aos serviços do hotel, como room service, concierge, limpeza, spa e ginásio. E os preços das Viceroy Residences at Ombria Algarve refletem esta exclusividade. Começam em 780 mil euros para os apartamentos T1, e em 1,1 milhões de euros para a tipologia T2. De acordo com João Richard Costa, os compradores são maioritariamente europeus, com destaque para os holandeses, britânicos, suíços, nórdicos e portugueses. O projeto tem também registado um interesse crescente de investidores americanos.

De acordo com Paula Sequeira, as branded residences atraem particularmente norte-americanos, britânicos e franceses, devido à familiaridade com o conceito nos seus países de origem. Mas também já despertam a atenção de brasileiros, sul-africanos e compradores do Médio Oriente.

Também os portugueses começam a ver neste produto uma oportunidade de investimento, diz a especialista. Afinal, estas residências tendem a transacionar acima do valor de mercado de projetos semelhantes sem marca associada, sublinha. “O valor implícito à presença de uma marca internacional num produto residencial de branded residences permite derivar o chamado brand premium, que em Portugal pode variar entre 15% e 25%, dependendo da localização e da notoriedade da marca”, conclui.

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