Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).
Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).Foto: Paulo Spranger

Vítor Bento: "À banca portuguesa, exige-se mais 20% de capital do que à europeia"

Na Money Conference 2025, presidente da APB disse que há um quadro de incerteza previsível e depois um de "incerteza imprevisível". Para este último, "não há remédios, nem recursos suficientes".
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Os bancos portugueses estão "preparados para o que vier a acontecer", têm "solidez" suficiente se vier uma crise maior, mas têm de lidar com uma situação de partida "mais desfavorável" do que a média dos concorrentes europeus por "culpa" de uma regulação mais pesada e "burocrática", defendeu o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), o orador principal da conferência anual do Diário de Notícias e do Dinheiro Vivo sobre banca e setor financeiro – Money Conference 2025.

Para o responsável um dos problemas é a elevada carga de regulação e, no seu entender, o facto de o capital dos bancos portugueses "valer menos" do que o dos seus pares europeus para os reguladores.

Pelas contas de Vítor Bento, "aos bancos portugueses, é exigido mais 20% de capital do que à media da Zona Euro" para cumprir os mesmos rácios e regras de solidez e solvabilidade.

No encontro, que decorreu em Lisboa, Vítor Bento disse que "o risco que sinto hoje é que a cultura que se está a instalar é de demasiada aversão ao risco" e que em Portugal temos "uma elevada burocracia por causa da regulação".

O economista fez a partição do quadro de riscos atuais em "previsíveis" e "imprevisíveis".

Os riscos previsíveis são os mais fáceis de gerir e responder, e nisso a banca pode estar preparada; mas há riscos imprevisíveis, "o desconhecido desconhecido", como lhe chamou, "o incerto imprevisível".

"Nesta situação não há remédios, nem há recursos suficientes para lidar", disse.

"Para minimizar esta incerteza é importante dispor de sofisticados meios de intelligence", "dar atenção aos dados fracos, para captar tendências e sinais" que possam "constituir alertas para acontecimentos que desconhecemos".

Sobre os bancos, "estou convencido que estão preparados para o que vier a acontecer", "têm solidez".

Com isto, o presidente da APB considera que já temos "quase certezas no horizonte" a que é preciso responder, como "o arrefecimento das economias europeias", "guerras comerciais", "conflitos geopolíticos".

Perante estas "adversidades certas", "há uma desfavorável inclinação no terreno competitivo em que opera a banca portuguesa no mercado europeu", aponta Vítor Bento.

"Os bancos locais têm de responder a mais regulação [europeia] e concorrem com desvantagem". Em cima disto, "há ainda imposições locais, o chamado gold plating, que as autoridades acrescentam".

Um recado ao regulador, quiçá aos governos, com o líder da APB a criticar o modelo de "contribuição para o fundo de resolução local que vem em cima da contribuição europeia".

O economista apontou ainda o dedo às "regras que obrigam a banca portuguesa a cumprir rácios de capital superiores [em termos efetivos] aos dos pares europeus".

"É como se o capital dos bancos portugueses valesse menos do que o capital dos europeus", atirou.

Como referido, pelas contas de Bento, "aos bancos portugueses, é exigido mais 20% de capital do que à media da Zona Euro" para cumprir os mesmos rácios e regras de solidez e solvabilidade.

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