Reino Unido, Vietname e China. O presidente dos Estados Unidos da América tinha prometido no início de abril (dia 2), quando anunciou o quadro das tarifas recíprocas que iria chegar a acordo com 90 países, um por dia até expirar o prazo para as negociações, que devia ter terminado no passado dia 9 de julho, quarta-feira. Três em noventa dá pouco mais de 3% do total ambicionado.Os "90 dias, 90 acordos" na altura propalados pelo seu conselheiro de topo para o Comércio, Peter Navarro, expiraram e novas guerras foram compradas entretanto, o que pode complicar a tarefa hercúlea de chegar a entendimentos com o resto do mundo.No globo, não são apenas 90 países, na verdade, são quase duas centenas.Os acordos com o Reino Unido e o Vietname parecem ser os mais seguros, até agora.No caso da China, o quadro de entendimento existe, mas na sequência da cimeira dos BRIC – grupo informal de economias ditas emergentes, onde estão Brasil, China, Índia, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul ou Indonésia (só para indicar alguns dos mais proeminentes) – Donald Trump abriu fogo sobre a iniciativa que considera hostil aos interesses do seu governo e da economia norte-americana.A meio da cimeira, Trump ameaçou que os países que alinharem com o grupo BRICS também serão punidos. E foi muito concreto: em cima da tarifa nacional, sofrerão uma carga adicional de 10% por causa disso.A China detestou e avisou a Casa Branca de que a medida pode fazer ricochete, havendo já observadores que temem um retrocesso no memorando de entendimento entretanto alcançado entre Washington e Pequim.A punição do Brasil e a defesa de BolsonaroA outra vítima de Trump foi o Brasil. O presidente dos EUA foi à sua rede social defender o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que foi acusado de tentativa de golpe de Estado, e depois anunciou um agravamento brutal da tarifa recíproca sobre a economia brasileira, de 10% para 50%."Este julgamento não deveria estar a acontecer, trata-se de uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente", escreveu na sua rede social Truth.No mesmo dia, anunciou a referida mudança drástica relativamente ao Brasil, país que, face ao panorama geral do famoso 2 de abril, "dia da libertação", até tinha sido bem tratado: na altura, brindado com uma tarifa recíproca de 10%, metade da que foi avançada contra a União Europeia na altura (20%).O governo brasileiro considerou a carta de Trump "ofensiva" e devolveu-a. "É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado défice norte-americano, as estatísticas do próprio governo dos EUA comprovam um superavit desse país" com o Brasil que, cumulativamente, ascende a 350 mil milhões de euros nos últimos 15 anos, disse Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais.Relações com a Europa mais desanuviadasE depois a Europa. Recorde-se que a UE já foi destratada e bastante ameaçada por Trump, sobretudo em maio, quando este ameaçou subir a tarifa até 50%.Entretanto, o clima entre Bruxelas e Washington melhorou, com os dois blocos a aproximarem-se gradualmente de um entendimento que, dizem várias fontes ouvidas pelo DN, deve acabar numa taxa genérica de 10%.Ficam a faltar os acordos setoriais, um trabalho que deve demorar muito mais tempo.De acordo com cálculos do DN a partir de dados divulgados pela Casa Branca relativos a um conjunto de 23 países, o Brasil é, de longe, o mais penalizado, com um agravamento na tarifa sobre as suas vendas aos EUA na ordem dos 40 pontos percentuais.A seguir, o país mais punido com as tarifas divulgadas esta semana, através das famosas "cartas" enviadas por Trump a vários chefes de governo, é as Filipinas, que conheceram um agravamento tarifário (para já ameaça até à nova data limite, 1 de agosto) de três pontos percentuais, colocando a carga nos 20%.Trump promete agora aliviar carga a mais de metade dos países face a abrilEntretanto, pelo que se soube esta semana, é possível constatar que mais de metade do grupo de 23 países/territórios analisados pelo DN lograram um alívio na tarifa idealizada pelo governo de Trump. São cerca de 12, até agora.Os mais favorecidos (em termos relativos) foram Sri Lanka (alívio de 14 pontos, para uma tarifa de 30%), Camboja (menos 13 pontos, para 36%) e Iraque (menos nove pontos, para 30%).O Brasil foi o mais apertado e diz que vai pagar na mesma moeda se assim for (com "reciprocidade").Trump também tem na mira mercados de produtos que diz serem “estratégicos” para “fazer a América grande novamente”, como se sabe.Os últimos alvos foram o cobre (que se junta assim aos já fustigados aço e alumínio, desde março) e os produtos farmacêuticos.A ameaça sobre o Brasil aumenta o risco de tornar café e laranjas muito mais caro para o consumidor norte-americano.A mão pesada sobre os países asiáticos faz temer um salto no preço dos brinquedos, dos materiais escolares, dos automóveis, dos equipamentos eletrónicos.A carga sobre os metais (vai em 50%) ameaça fazer disparar o preço de quase tudo, incluíndo eletrodomésticos, carros, obras de construção, etc.O furacão da incerteza crescePara Inga Fechner, economista principal para o comércio global no grupo financeiro ING, as cartas e o adiamento do prazo final até 1 de agosto “permite que as negociações continuem, principalmente com países como Japão, Coreia do Sul e Brasil, que juntos representam 9,9% das importações dos EUA”.Segundo a analista, “a posição dos EUA mantém-se inalterada: o protecionismo é política, não postura”. “Para nós, a tarifa básica de 10% continua a ser o limiar, ao passo que as tarifas sectoriais adicionais devem ser anunciadas depois de fechada a maioria dos acordos”.No caso da Europa, Fechner acredita que o tributo de 10% “deve manter-se em vigor”, mas agravará “a tarifa efetiva até aos 20%”.Resumindo: “as cartas podem ter feito ganhar algum tempo, mas reacenderam a incerteza”..EUA impõem taxa de 35% a produtos do Canadá a partir de 1 de agosto.Trump deve aplicar tarifas definitivas de 10% sobre a UE, mas metais, remédios, carros e vinho estão em perigo