Deve faltar apenas um par de dias, "dois", segundo Trump, para os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE) chegarem um acordo mais estável nas suas relações comerciais, que são históricas e de enorme dimensão, terminando assim a montanha-russa e a total incerteza que duram há quase quatro meses, desde meados de março.Como noticiou o DN, este caminho de pedras para chegar àquele que será o maior acordo comercial bilateral do mundo (em valor) deverá culminar numa tarifa geral de 10% sobre as exportações europeias, mas há exceções setoriais latentes (para pior no caso da Europa) que geram muita preocupação, apurou o DN junto de algumas fontes diplomáticas europeias, em Bruxelas e Estrasburgo (para onde esta semana convergiram vários decisores de topo devido à sessão plenária do Parlamento Europeu). Algumas dessas penalidades sectoriais até já estão em vigor, outras podem estar a caminho.As exceções negativas para a Europa ou as maiores ameaças estão em produtos como aço, alumínio e, soube-se esta semana, eventualmente cobre, estão nos carros e nas suas componentes, nas exportações aeronáuticas, a que se poderão juntar ainda bebidas alcoólicas, medicamentos e semicondutores (este último penalizaria sobretudo grandes atores asiáticos, como Taiwan e China).Os franceses, os italianos e até os portugueses estremeceram há poucos meses com a ameaça ao setor do vinho e de outras bebidas alcoólicas. E cresce a apreensão em países como Irlanda, Espanha e Portugal no caso dos produtos farmacêuticos.Simon Harris, o vice-primeiro ministro da Irlanda, disse esta semana que "gostaríamos de concluir [a nível europeu] as discussões sobre um acordo comercial antes de 1 de agosto".Embora se diga "cautelosamente otimista" quanto a esse desfecho, o governante irlandês adverte que "incerteza persiste em relação aos resultados das 232 investigações existentes [ordenadas por Trump para analisar vários segmentos de mercado externo], incluindo a do sector farmacêutico, e esta é, obviamente, uma área de grande preocupação para a Irlanda", admitiu Harris.O Presidente dos EUA disse agora, em conferência de imprensa, depois de mais uma reunião com outros membros do seu governo, que "estamos provavelmente a dois dias de enviar uma carta" aos europeus, neste caso, à Comissão Europeia (CE), que foi mandatada pelos países da UE para negociar com Donald Trump."Trataram-nos muito mal até recentemente, mas agora estão a tratar-nos muito bem. É como um mundo diferente”, disse quarta-feira à noite, na Casa Branca. "Estavam entre os mais difíceis de lidar".São palavras mais agradáveis do que as que proferiu há apenas mês e meio, quando disse que a Europa era "pior do que a China" na intransigência negocial, "Vou recomendar uma tarifa fixa de 50% para a União Europeia", disse Trump em meados de maio, queixando-se de "estagnação" nas negociações com Bruxelas."Tem sido muito difícil de lidar com a UE" e "as nossas discussões com eles não estão a levar a lado nenhum", escreveu na sua rede social Truth, na altura.Recorde-se que em março, os EUA abriram fogo sobre o comércio global, avançando com tarifas de 25% sobre todas as importações de aço, alumínio, carros e seus componentes. Todos os países da UE foram incluídos nestas tarifas sectoriais.A 2 de abril, o dia da "libertação", segundo lhe chamou Trump, foram decretadas as ditas "tarifas recíprocas" de 20% sobre todas as restantes exportações europeias, mas uma semana depois o Presidente americano decidiu fazer uma pausa na medida durante 90 dias (até esta quarta-feira), baixando o tributo para 10%. Entretanto, os 90 dias foram dilatados e agora o prazo acaba a 1 de agosto, até ver.Como referido, em maio, talvez frustrado porque a Europa estava a tentar negociar a sério, Trump voltaria à carga com a ameaça de tarifas de 50% sobre a Europa e não se fala mais nisso.Agora, parece diferente, mais desanuviado pelo menos.Esta semana, Trump publicou as cartas que enviou aos soberanos/governantes de 14 países, um género de ultimato que prolongou até 1 de agosto o início efetivo das taxas. No rol, foram incluídos dois dos importantes parceiros comerciais (e fornecedores) da economia americana: Japão e Coreia do Sul.Ambos os países foram ameaçados com tarifas de 25% se não houver mais progressos nas negociações até ao final deste mês. Os governos dos dois lamentaram o tom das cartas, mas aceitaram fazer melhorias nos termos.A menor hostilidade de Trump – "a União Europeia tem falado connosco, Ursula e todo a equipa têm sido muito simpáticos" – teve reflexos no tom de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia. Parecia mais animada do que há semanas atrás.Esta quarta-feira, no Parlamento Europeu disse que "estamos a trabalhar em estreita colaboração com o governo americano para chegar a um acordo" e "tive uma boa conversa com o Presidente Trump no início desta semana para avançarmos" neste dossiê.Von der Leyen recordou que "desde fevereiro, os EUA impuseram tarifas sobre 70% do comércio total da UE com os EUA", que "a escala e o alcance destas medidas não têm precedentes". Mas "preferimos uma solução negociada", "uma estrutura fiável a partir da qual possamos continuar a construir o nosso comércio comum".A maior relação bilateral do mundoSegundo dados oficiais da UE e da CE (Eurostat), "a União Europeia e os Estados Unidos têm a maior relação bilateral de comércio e investimento e a relação económica mais integrada do mundo"."Juntos, representam quase 30% do comércio de mercadorias e serviços a nível mundial e 43 % do Produto Interno Bruto (PIB) mundial", sendo que "em 2024, o comércio transatlântico total, mercadorias e serviços, ultrapassou 1,68 biliões [milhões de milhões] de euros".Em 2024, o comércio combinado de mercadorias entre UE e EUA "ascendeu a 867 mil milhões de euros", valor que "quase duplicou nos últimos 10 anos", refere a CE num estudo sobre a relação bilateral.A Europa exportou, só em 2024, mais de 532 mil milhões de euros em mercadorias, mas só importou 335 mil milhões de euros, o que configura uma posição deficitária para os EUA, que é justamente uma das irritações e queixas de Trump em relação à UE.Nas exportações da UE, os EUA são o principal mercado de destino, comprando quase 21% do total de mercadorias europeias expedidas para o exterior.Nas importações para a UE, os EUA são o segundo maior fornecedor, com 14% da quota do mercado europeu, ultrapassados apenas pela China, país de onde procedem 21% das importações totais europeias, diz o mesmo estudo publicado há menos de um mês.As principais mercadorias exportadas da UE para os EUA, que representam cerca de metade do total anual expedido, foram "produtos médicos e farmacêuticos", "veículos rodoviários" e "máquinas e equipamentos industriais", indica o Eurostat.No ano passado, os principais produtos importados dos EUA para a UE foram "produtos petrolíferos e materiais conexos [como plásticos e polímeros]", "produtos médicos e farmacêuticos" e "geradores, motores e equipamento relacionado".