Os portugueses continuam a optar por transferir os seus contratos de energia do mercado regulado para o mercado livre, que é já claramente dominante, contando com 5,7 milhões de clientes. A razão decisiva é o tarifário mais competitivo e percebe-se porquê. Quem mudou de operador em 2024 conseguiu obter uma poupança média estimada em 207 euros anuais, face aos 800 mil que não o fizeram.Isso mesmo consta do relatório do Portal Poupa Energia, da Adene, referente ao ano passado, a que o DN teve acesso, que indica uma poupança média mensal da ordem dos 17,3 euros para quem tomou a iniciativa de transitar de mercado.Através do portal da Agência para a Energia, que permite fazer simulações, foram registadas um total de 1722 adesões, mais 3,6% do que em 2023, o que se traduz em qualquer coisa como 144 adesões por mês. Já as mudanças de comercializador cresceram 53%.Segundo o relatório da Adene, foram realizados mais 108 pedidos de adesão a novo tarifário. Embora continuem a aumentar as transições, a taxa de crescimento deste movimento já foi maior, o que significa que o mercado está a aproximar-se de uma estabilização. E é também o reflexo do ajustamento dos tarifários feito pelas grandes empresas, por pressão de uma concorrência mais aguerrida. Mas, apesar da maior democratização, ainda há diferenças de preço consideráveis e o Governo adiou o fim do mercado regulado de eletricidade, que chegou a estar previsto para este ano, para 2026. 40 operadores mudam a face do mercado Atualmente, o setor conta com quatro dezenas de operadores, uma dimensão notável quando há escasssos anos estava na mão de apenas três ou quatro empresas. Estes 40 operadores tinham publicitado 580 ofertas de tarifário, no portal da Adene, para eletricidade e gás, nos vários tipos de segmentos e escalões de consumos, em 2024, num sinal do dinamismo que se vive no setor.Ao longo de 2024, a Luzigás e a Iberdrola foram os operadores que garantiram a preferência dos consumidores na hora de trocar de companhia, registando quase metade das adesões (48,3%). Num, talvez surpreendente, terceiro lugar esteve a Copernico, uma cooperativa ligada à energia verde, sustentabilidade e cidadania, envolvida nas chamadas comunidades de energia. Seguiram-se a EDP Comercial, depois a ENI, Plenitude Iberia S.L, a Repsol, a Galp Power, Alfa Energia, e a G9, S.A. Existem no mercado uma série de outros operadores de menor dimensão, sobretudo no setor do gás, sem quota de mercado significativa.Mas em termos absolutos, dados recentes da ERSE (Entidade Reguladora para o Setor Energético), referentes a janeiro de 2025, continuam a colocar a EDP na liderança, como principal operador no mercado livre, tanto em número de clientes (61,2%) como em consumo (36,2%). No entanto, a empresa encolheu os clientes, com uma redução de quase seis pontos percentuais face a janeiro do ano passado, quando detinha 67%. O segundo lugar coube à Endesa com 1,38% de quota de mercado (-0,5 pontos percentuais) e o terceiro à Goldenergy, que detinha 5,8% e cresceu 0,9 pontos percentuais). Depois da Galp, a subir, e da Iberdrola, a descer, nos quarto e quinto lugares, respetivamente, deram-se duas ascensões meteóricas: A Meo Energia, que num ano passou de uma quota de mercado de 0,9% para 2,8%; e a Repsol que aumentou de 0,6% para 1,3%. Consumidor pode mudar sempre em mercado volátilNum mercado caracterizado por uma muito elevada volatilidade dos preços, que chegam a flutuar ao segundo _obedecendo a uma complexa fórmula que às vezes pode mesmo resultar em valores negativos _, as posições dos operadores no ranking também é algo fluída, dependente das estratégias comerciais e de conjunturas diversas a cada momento.Por isso mesmo, o Portal Poupa Energia é uma solução para os consumidores acompanharem, a cada momento, os tarifários dos operadores, fazerem simulações ou remeterem pedidos de adesão.E, ao contrário do que muitos possam pensar, “a legislação em vigor não prevê nenhum limite para o número de vezes que o consumidor possa mudar de operador por ano”, garante ao DN, João Ferreira, o responsável da DECO para o setor energético. “No limite, pode fazê-lo ao dia”, mesmo que não seja prático nem necessariamente vantajoso, acrescenta. “A única limitação que exige um período fixo de 12 meses é sobre o tipo de faturação, se simples, bi-horária ou tri-horária”, mas isso é independente do operador.Justamente porque a liberalização do mercado energético permite uma fluidez entre operadores é que alguns adotaram estratégias comerciais para “agarrar” os clientes. E são estas situações, em que, às vezes tentam “impor serviços associados como contratos de seguros ou de assistência técnica elétrica” que têm motivado algumas queixas ou reparos da organização de defesa do consumidor. “Na verdade, nem isso obrigaria o cliente a ficar fidelizado ao contrato de eletricidade, apenas ao contrato de serviços, mas muitos consumidores são confundidos com esta abordagem comercial mais agressiva” e acabam por se sentir presos a uma empresa, quando não o teriam de fazer.Entre as razões de reclamações mais frequentes que chegam à Deco estão as faturas de leitura pouco transparente ou os aumentos de preços alegadamente não comunicados. Mas, “muitas vezes, estas queixas devem-se a uma certa falta de literacia das pessoas, porque essa comunicação surge nas faturas e as pessoas não leem as faturas”. De resto, “não há diferenças entre a qualidade de energia no mercado regulado ou livre, porque essa é uma responsabilidade do gestor de redes, não dos operadores”, explica João Ferreira. Portal fez 119 mil simulaçõesEm 2024 o portal foi utilizado para fazer um total superior a 119 mil simulações, na esmagadora mais dos casos (85%) pelo segmento residencial, vulgo particulares.Os balcões do Espaço Cidadão, espalhados pelo país, realizaram 1119 atendimentos relacionados com esta temática, mais 2% do no ano anterior, que deram, por sua vez, origem a 311 pedidos de mudança de comercializador.O relatório da Adene indica ainda que é a procura de tarifários alternativos de eletricidade que domina as simulações, porque é muito mais competitivo do que o setor do gás.“No caso da eletricidade, o facto das tarifas de acesso à rede, entre os preços praticados nos últimos semestres de 2023 e 2024, terem subido em média cerca de 77% no termo de potência (€/dia) e cerca de 7 a 9 cêntimos no termo variável (€/kWh), de acordo com o tipo de tarifa, fez com que as ofertas comerciais no mercado liberalizado deixassem de conseguir apresentar os valores competitivos que tinham vindo a praticar em relação ao mercado regulado. Esta situação conduziu à necessidade de o consumidor ficar mais atento às flutuações do mercado liberalizado, através do uso de ferramentas de simulação, por forma a avaliar com frequência o tarifário mais vantajoso para si”, contextualiza o relatório.E numa nota mais explicativa, a Adene lembra que “o mercado liberalizado apresenta ofertas comerciais com preços fixos, preços de eletricidade estabelecidos para um período de 3, 6 ou 12 meses, e ofertas comerciais com tarifa indexada ou dinâmica de eletricidade cujos preços de eletricidade variam mensal ou diariamente, de acordo com os preços do mercado grossista de eletricidade gerido pelo OMIE, o operador de mercado elétrico designado para a gestão do mercado diário de eletricidade na Península Ibérica”. Os preços negativos das taxas de acesso à rede, praticados na eletricidade em 2023, permitiram uma redução significativa no valor da fatura. Porém, essa situação teve uma reviravolta em 2024 refletindo-se no aumento do preço da eletricidade nas ofertas comerciais.