Um estudo que pretendeu medir a temperatura à filantropia em Portugal e Espanha, concluiu que, afinal, os portugueses são mais solidários do que eles próprios pensam. Cerca de 65% fizeram, pelo menos, uma doação filantrópica a uma instituição de caridade no último ano, segundo o estudo A filantropia em Espanha e Portugal - Conhecimentos, atitudes sociais e comportamentos, promovido pelo Observatório Social da Fundação La Caixa, a que o DN teve acesso. E são as pessoas com um nível de Educação mais elevado que passam mais tempo a fazer voluntariado. O objetivo é analisar os conhecimentos, as atitudes sociais e os comportamentos filantrópicos dos portugueses.Cada português doou 30 euros em 2024, numa aritmética simplificada. A doação anual declarada teve uma mediana de 30 euros por pessoa e uma média de 765 euros, indica o estudo. “Estes dois valores (mediana e média) são apresentados porque, em dados deste tipo, é comum que muitas pessoas façam doações pequenas e apenas algumas contribuam com quantias elevadas. Assim, a mediana (30 euros) — que representa o valor aritmético por pessoa — reflete melhor o comportamento geral da população do que a média, que indica o ponto central da distribuição”, explica o relatório.Embora exista uma percentagem razoável de doações informais entre familiares e amigos, em 2024, as causas que receberam mais apoio foram a ação social (32,7% dos portugueses), a saúde (22,3%), o ambiente e os animais (18%), os Direitos Humanos (13,1%) e a religião (6,6%).Quanto aos atos filantrópicos mais comuns, entre os que são doadores, 92% dos portugueses afirmam ter ajudado alguém que conhecem. Outras ações relevantes incluem a doação de produtos a um banco alimentar ou a outra organização que distribui bens essenciais a pessoas carenciadas (87%), a ajuda a desconhecidos (82%), o apoio a outras pessoas para fazer compras ou passear um animal de estimação no último ano (75%). Outros 74% afirmam ter dado conselhos especializados ou contactos úteis a alguém e 72% dizem ter doado dinheiro a familiares, amigos ou conhecidos em necessidade.“Para além destas ações, 70% doaram dinheiro a desconhecidos em situação de necessidade. Em menor escala, destacam-se duas ações realizadas por menos de metade da população: emprestar um objeto de valor a alguém que o inquirido não conhece bem (37%) e doar sangue ou plasma (34%).”O estudo, conduzido pela investigadora Beth Breeze do Centre for Philanthropy da Universidade de Kent, em colaboração com o Observatório Social da Fundação La Caixa, baseia-se num inquérito que recolheu um total de 3222 respostas, das quais 2009 são oriundas de Espanha e 1213 de Portugal.“Com este estudo, quisemos saber o que pensam os cidadãos de Portugal e Espanha sobre a filantropia e avaliar o seu comportamento filantrópico, mas não existiam dados disponíveis, pelo que concebemos um inquérito especificamente para este fim. O foco principal era nas pessoas, ou seja, descobrir como a sociedade entende o papel e o impacto das doações privadas, e em que medida participa com os seus próprios atos individuais", explicou Beth Breeze.Embora haja vários casos de ajuda regular, até semanalmente, “as pessoas não parecem estar conscientes de que a sua participação é uma ocorrência regular e de que existem níveis relativamente elevados de comportamento altruísta na sociedade”, observou a autora principal do estudo.Com efeito, os inquiridos classificaram o nível de solidariedade na sociedade portuguesa em 6,0 numa escala de 1 a 10, algo que, segundo a autora está subestimado. “Embora os inquiridos considerem que o nível de solidariedade na sociedade não é particularmente elevado, os números reais relativos à participação em vários ações pró-sociais indicam que as pessoas são mais filantrópicas na sua vida quotidiana do que pensam”, afirma a coordenadora do estudo.Quando questionados sobre as questões mais urgentes, que mereceriam mais apoio, 76% destacaram os temas relacionados com a saúde. Seguem-se os Direitos Humanos (55,4%), a Educação (42,2%), os serviços sociais (41,8%), o ambiente e os animais (40,6%) e a investigação (35,5%). “A Saúde e a Educação tendem a ser as causas favoritas na maioria dos países, mas os doadores espanhóis e portugueses distinguem-se por mostrarem um maior entusiasmo pelo apoio à investigação e aos Direitos Humanos”, observou Beth Breeze.Voluntariado em organizações sociaisO estudo também analisa as causas a que os portugueses dedicam o seu tempo como voluntários e 43% dos portugueses afirmaram ter-se envolvido com alguma organização de solidariedade social. As três causas que atraem mais voluntários são os serviços sociais, a saúde e o ambiente e os animais em ambos os países. Este facto coincide em grande medida com as opiniões sobre as questões mais urgentes, sendo a saúde a principal prioridade.Outra conclusão, não totalmente surpreendente, é a de que são "as pessoas com um nível de Educação mais elevado que passam mais tempo a fazer voluntariado”. A autora do estudo admite que tal se possa dever ao o facto do seu emprego oferecer oportunidades de voluntariado durante o horário de trabalho ou de terem um nível de rendimento mais elevado que lhes permite libertar tempo.