A descida das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) terminou, considera a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).A taxa principal definida em Frankfurt, que determina o valor das prestações dos empréstimos a pagar aos bancos e os juros dos depósitos a prazo, desceu pela última vez em junho passado, para 2%, devendo ficar estacionada neste valor até ao final do próximo ano, pelo menos, indica um novo estudo da OCDE divulgado esta semana (o outlook intercalar).Depois de manter o custo do dinheiro na mesma nas reuniões de julho e de setembro, o BCE reune-se novamente, a 30 de outubro, em Florença, num conselho de governadores especial organizado pelo Banco de Itália. Não se esperam alterações vindas das margens do rio Arno.Mas, diz a OCDE, o facto de hoje se projetar um planalto nos 2% nas taxas de juro da Zona Euro até ao final de 2026, não significa que este curso esteja garantido a 100%. Há riscos imensos e o BCE terá de manter-se vigilante. O embate total dos aumentos de tarifas pode fazer descarrilar sectores económicos e aumentar demasiados os preços, por exemplo."As taxas de juro permanecem inalteradas no Japão desde janeiro e na Zona Euro desde junho, tendo em conta que a inflação está próxima do objetivo e as taxas de juro próximas do nível neutral", comenta a organização chefiada por Mathias Cormann, onde o português Álvaro Santos Pereira é ainda economista-chefe. Este será o último outlook do antigo ministro que transitará neste mês ou no próximo para o cargo de governador do Banco de Portugal.Relativamente aos Estados Unidos, a OCDE considera que a Reserva Federal, que avançou com o primeiro corte de taxas de juro deste ano na semana passada (para uma taxa de juro média efetiva de 4,13%), deve proceder a mais duas reduções até ao final do próximo ano. Uma já em outubro deste ano (corte de 0,25) e outra de igual calibre, mas em janeiro de 2026.Sobre o ambiente generalizado de preços, a OCDE não está convencida de que haja estabilidade; considera que "a inflação pode ser superior à atualmente projetada"."A inflação dos preços dos alimentos pode continuar a subir e qualquer aumento adicional das tensões geopolíticas nas regiões produtoras de petróleo pode ameaçar o fornecimento global de energia, elevando os preços energéticos".Adicionalmente, "dada a relevância dos preços dos alimentos e da energia para os cabazes de consumo das famílias, aumentos mais pronunciados nestes preços podem elevar as expectativas de inflação a curto prazo e levar a taxas de juro mais elevadas".Este cenário, que para a OCDE não é de descartar, penalizará os consumidor (menos poder de compra), "enfraquecendo ainda mais o crescimento".Custos das tarifas podem fazer descarrilar a inflaçãoA organização sediada em Paris diz que está também preocupada, especialmente no caso dos Estados Unidos, "que a transferência dos custos das tarifas para os preços possa fortalecer-se mais rapidamente do que o previsto, se as empresas esgotarem a margem para absorver custos mais elevados nas suas margens de lucro"."Isto pode aumentar o risco de efeitos de segunda ordem e uma maior persistência da inflação", alerta a OCDE.O gabinete de estudos económicos do Banco BPI refere que a manutenção de taxas de juro por parte do BCE em setembro (a taxa principal, de depósito, ficou nos 2%, como referido), foi "uma decisão unânime baseada em números de inflação já próximos da meta de 2% e em perspetivas sem alterações relevantes".Recorde-se que este nível de 2% foi atingido em junho passado, na sequência da oitava descida desde que as taxas da Zona Euro atingiram um máximo no final de 2023.Nessa altura, a taxa de depósito (a principal referência) chegou a um máximo de 4%. Agora está em metade disso e aí deve ficar por muito mais tempo, dizem. Para a equipa de analistas do BPI, "o BCE continuou sem oferecer orientações para a evolução das taxas de juro nos próximos meses", recordando que Christine Lagarde, a presidente do BCE, disse que a autoridade agora "está numa boa posição" e que "a política monetária deverá ser calibrada para que, no futuro, continue numa boa posição, dando por certo que os riscos antigos persistirão e novas fontes de incerteza surgirão".Para a equipa do banco português, "o BCE parece ter feito uma leitura ponderadamente otimista do acordo comercial entre os EUA e a União Europeia, destacando a redução da incerteza comercial e do risco de retaliação tarifária por parte da UE, mas reiterando que as tensões comerciais podem intensificar-se no futuro".Mas, resumindo, "os mercados financeiros mantêm forte a aposta de que não haverá mais cortes nas taxas do BCE em 2025 (dão uma probabilidade inferior a 20%), mas mantêm a porta aberta para um corte de 25 pontos base [0,25 pontos percentuais] ao longo de 2026 (taxa de depósito para 1,75% em meados de 2026 com probabilidade de 50%)"..Mercados animam e euro ganha terreno ao dólar após corte nos juros da Fed