Qual é a importância da relação económica do Brasil com Portugal no atual contexto global?O Governo do presidente Lula, em dois anos, ainda não completou dois anos e meio, criou um ambiente, que - independente das questões políticas internas de Portugal, que passou por mudança de primeiro-ministro, por exemplo, - nunca foi tão bom do ponto de vista económico, de abrir oportunidade de investimento, inclusive de nos auxiliar na relação com a União Europeia. Seja com o António Costa, que deu início a isso com o presidente Lula vindo aqui, com a relação que ele construiu, seja agora com com o primeiro-ministro Luís Montenegro, e especialmente com o presidente Marcelo, que ficou nas duas pontas. Nós recebemos, recentemente, no Brasil, a delegação de mais alto nível que já recebemos. Foi uma atenção especial que o presidente Lula deu, que o o governo deu, estava presente em São Paulo. Eu acho que o ambiente criado abre, de facto, as portas para negócios, e como nós estamos agora numa fase que pode ser final de conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, Portugal é o país mais próximo do Brasil hoje, do ponto de vista da relação estabelecida política. O facto de Trump ter armado guerras comerciais em escala global pode ajudar a que certos países europeus que antes viam com maus olhos acordo Mercosul estejam agora mais dispostos a chegar a acordo?Por mais que o presidente Trump tenha anunciado que adotaria medidas parecidas com essa na campanha,a adoção das medidas impõe um tensionamento no mundo. E quando se trata de comércio, comércio é comércio, ninguém quer perder, todos querem ganhar. Por isso que o presidente Trump está tendo tanta dificuldade em implementar as medidas por conta da reação interna no país dele. E acho que aqui na Europa, se se efetivar tarifas dificultando o comércio da Europa com os Estados Unidos, certamente a Europa vai ter de buscar outras alternativas. E não tem alternativa melhor do que esse acordo do Mercosul e União Europeia. Veja, o presidente Trump está impondo novas tarifas, nós estamos construindo um mercado de comércio livre, com um bloco económico de 700 milhões de pessoas. Isso cria uma sinergia, um ambiente, que pode fazer com que esse bloco possa disputar melhor o mundo, porque tem complementaridade entre o que o Brasil e o Mercosul têm a oferecer para a Europa e o que a Europa tem a oferecer para lá. Que mensagem traz para os empresários portugueses que querem investir no Brasil?Se nós pegarmos só dois componentes fundamentais nesse mundo novo de crise climática, o que nós precisamos? Energia renovável e minerais estratégicos e críticos, que são a base da nova indústria e desse mundo de busca crescente de implementação tecnológica, Portugal e os investidores portugueses podem ter no Brasil um espaço extraordinário, porque é isso que a Europa quer. Mas Portugal pode chegar lá e montar a base.Energia é um setor necessário, por exemplo?Portugal já tem participação, mas eu acho que nessa área de mineração, minerais críticos também, porque isso é a base da nova indústria, e o outro é a base do mundo, a energia renovável. Isso para falar o mínimo. Agora, o que eu consigo ver também é que o Brasil está passando por transformações no atual Governo. O Brasil não quer ser um país e seguir exportando matérias-primas. O Brasil está convidando investidores. O Brasil está ficando em segundo ou terceiro endereço dos investimentos estrangeiros do mundo inteiro. Isso é importante ser considerado porque melhorou: melhorou a segurança jurídica, melhorou a segurança política que o Brasil está vivendo hoje. E também o Brasil está mais aberto a empresas que queiram se instalar para nos ajudar na geração de emprego e envolver o país. Quando diz que quer afastar do modelo económico, do extrativo, de matérias-primas, quer passar para a indústria?Exatamente, esse é o modelo. Por isso é que o presidente Lula recriou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, de que o vice-presidente, Geraldo Alckmin é o ministro. Hoje este setor é quem está puxando a economia brasileira. É a indústria, que já foi 20% do PIB, passou para 10% e agora volta a crescer novamente. E eu acho que tem também uma área muito importante, em que Portugal tem um ecossistema muito, relevante, que é o das startups.Há uma coisa que para nós, europeus, às vezes é difícil compreender: a complexidade do mercado de capitais brasileiro, com diferentes categorias de ações e outras regras a que não estamos habituados. Há alguma iniciativa do governo brasileiro para dinamizar o mercado e torná-lo mais simples? Sim. O Brasil fez, por exemplo, uma reforma tributária que estava pensada há quase 30 anos e não acontecia. O ministro Fernando Haddad criou um ambiente para investidores, um ambiente agora mais seguro. O Brasil deixa de exportar imposto e criou um processo de facilitação de investimentos. Outra coisa muito importante que o Brasil tem hoje é o facto de o Banco BNDES ter voltado a funcionar. Um banco de fomento, que é um dos maiores do mundo, para quem queira implementar, para quem queira fazer investimentos. Então, as ferramentas estão criadas. Você tem segurança jurídica, segurança política, você tem financiamento e você tem regras tributárias modificadas pelo governo do presidente Lula que criam um ambiente de segurança para quem queira investir. amanda.lima@dn.ptfilipe.alves@dn.pt.Montenegro promete a Lula defender na UE a implementação do acordo com Mercosul.Principais empresas da zona euro estão a suspender investimentos devido às tarifas