Pedro Baptista junto aos tonéis da Quinta do Valbom. Sete guardam potencial Pêra-Manca, colheitas de 2023 e 2024. Enólogo diz-se “otimista”.
Pedro Baptista junto aos tonéis da Quinta do Valbom. Sete guardam potencial Pêra-Manca, colheitas de 2023 e 2024. Enólogo diz-se “otimista”.LEONARDO NEGRÃO

O filão brasileiro, o tonel 12 e um 2025 promissor. Na Cartuxa, o tempo é um aliado

Venda da 17.ª edição do icónico Pêra-Manca ajudou a um ano de receitas recorde na Adega. O que significa mais dinheiro para ação social da Fundação Eugénio de Almeida e para “perpetuar o rendimento”.
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1 de outubro de 2024. Em São Paulo, na maior feira de vinhos da América do Sul, o stand da Adega Cartuxa está engalanado. No interior foi até construído um pequeno anfiteatro para uma apresentação especial a um grupo restrito de convidados. Após três anos de ausência, o mercado estava prestes a ter disponível um Pêra-Manca tinto, colheita de 2018, o vinho mais icónico da Cartuxa e um dos mais prestigiados a nível nacional, encontrando rival apenas no clássico Barca Velha, da duriense Casa Ferreirinha. A apresentação, pela primeira vez fora de Portugal, corre como planeado e a procura pela 17.ª edição do Pêra-Manca tinto (a primeira foi em 1990) não se faz esperar. As vendas dão tração ao negócio da casa, que fecha 2024 com uma “faturação recorde” de 28,3 milhões de euros. Seis meses depois, a Adega Cartuxa, que pertence à Fundação Eugénio de Almeida (FEA, fundada por Vasco Eugénio de Almeida), abre as portas da Quinta do Valbom, em Évora, ao DN para fazer um balanço da operação comercial, projetar o futuro e desvendar um pouco mais sobre a história e o trabalho de bastidores que fazem do Pêra-Manca um vinho tão disputado.

No dia da visita do DN, o país ainda enfrenta os efeitos da depressão Martinho. No entanto, a chuva intensa dos últimos dias foi uma boa notícia na Quinta do Valbom. “Nesta altura a vinha ainda está em dormência, quase a começar a rebentar, por isso o temporal não teve impacto nenhum. O que tem tido impacto é o que tem chovido, porque permitiu repor reservas [de água] no solo, o que é fundamental. Por outro lado, tanta chuva começa a atrasar alguns trabalhos, pois dificulta o trânsito nas vinhas. Mas o balanço é francamente positivo”, sublinha o enólogo Pedro Baptista, 55 anos, que chegou à FEA em 1997 como técnico de viticultura, assumindo desde 2004 a condução do setor de enologia. Atualmente, a maior parte da operação vinícola da Cartuxa está numa adega mais recente (Monte de Pinheiros), “construída há cerca de 20 anos”, que nasceu da necessidade de crescimento da produção. Mas na Quinta do Valbom permanecem os doze hectares de vinha que podem dar origem ao Pêra-Manca (uma pequena porção dos 560 hectares de vinha própria da adega) e também é lá que tem lugar uma etapa fundamental para que o vinho chegue a ser engarrafado.

Apenas 12 hectares dos cerca de 560 de vinha própria da Adega Cartuxa podem dar origem a Pêra-Manca tinto. Estão situados na Quinta do Valbom, em Évora.
Apenas 12 hectares dos cerca de 560 de vinha própria da Adega Cartuxa podem dar origem a Pêra-Manca tinto. Estão situados na Quinta do Valbom, em Évora.LEONARDO NEGRÃO

A quinta está ligada à presença da Companhia de Jesus em Évora, onde veio instituir o ensino superior no século XVI. Este espaço servia como casa de repouso dos jesuítas. Mais tarde, após a expulsão da Companhia de Jesus do país pelo Marquês de Pombal, a quinta passou para a posse do Estado e seria equipada com um lagar de vinho. Foi em 1869 que José Maria Eugénio de Almeida, bisavô de Vasco Eugénio de Almeida, adquiriu a quinta e as gerações seguintes foram expandindo a operação vitivinícola. Na zona onde no passado estava instalado o refeitório dos padres jesuítas, repousam agora 26 tonéis, de 3000 e 5000 litros, construídos na mesma casa (Seguin Moreau, na região do famoso Cognac) e feitos em carvalho francês. Em sete destes tonéis estagia potencial Pêra-Manca das colheitas de 2023 e 2024. “É uma base de trabalho de cerca de 30 mil litros”, revela o enólogo.

Além do “potencial” Pêra-Manca” – palavra que Paulo Baptista faz questão de frisar –, por estes tonéis também passa parte do lote (um terço) do vinho Cartuxa Colheita, uma das sete marcas do portefólio da adega. Se pensarmos num pódio, no topo está o Pêra-Manca, seguido do Cartuxa Reserva e do Cartuxa Colheita, vinho que o enólogo destaca como o que “mais reflete a nossa identidade enquanto exportadores”.

Um dos tonéis pode vir a dar origem a Pêra-Manca tinto é o 12. Quando o número é inserido no sistema informático da adega, dá acesso a uma ficha detalhada de todo o percurso do vinho – a casta, datas da poda e colheita, a que temperatura fermentou, etc. “É toda a identidade do vinho. É como se fosse a nossa aplicação do SNS24, onde aparecem as vacinas, as receitas e os exames médicos”, compara o enólogo. E, do que tem provado, que sinais estão as dar as colheitas de 2023 e 2024? Vão dar Pêra-Manca tinto? “Estou otimista. O tempo dirá, mas estou otimista”, assume Pedro Baptista.

Pêra-Manca, Cartuxa e EA: três das marcas por portefólio da adega eborense.
Pêra-Manca, Cartuxa e EA: três das marcas por portefólio da adega eborense.LEONARDO NEGRÃO

O passar do tempo é, de resto, uma condição para este vinho surgir no mercado. As colheitas que se seguiram a 2018, e que já não estão em tonéis, “continuam a ser avaliadas pela equipa de enologia”. É um processo que dura, em média, seis anos e que começa no acompanhamento da planta e na posterior vindima (algumas colheitas, devido à menor qualidade do fruto, são descartadas mesmo antes de colher a uva, como aconteceu recentemente com a de 2016). Outra etapa duradoura é o estágio, em média por um período de 18 meses, que é feito “única e exclusivamente” nestes tonéis de carvalho francês. O Pêra-Manca tinto é composto pelas castas trincadeira e aragonês, que estagiam separadamente, pois “cada uma tem o seu momento ideal de colheita e a fermentação também é conduzida de forma diferente”. Quando a equipa de enologia valida que aquele vinho é “digno de cumprir os requisitos de caráter, qualidade e capacidade de evolução no tempo”, então os tonéis são esvaziados e o seu líquido transportado para outra adega, onde avança o blend. A construção do lote final também exige ao enólogo um ambiente próprio. “Tem de ser mais recolhido. E mais equilibrado, até do ponto de vista térmico, para que possa utilizar as minhas capacidades da melhor forma. Faço-o numa sala de provas de trabalho, sem ruído, sem pessoas, para estar concentrado”.

Pedro Baptista junto aos tonéis da Quinta do Valbom. Sete guardam potencial Pêra-Manca, colheitas de 2023 e 2024. Enólogo diz-se “otimista”.
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A fase seguinte é o engarrafamento e, então, o tempo volta a ser o melhor aliado do Pêra-Manca. O vinho passa “três a quatro anos” em garrafa, nas caves subterrâneas do Convento da Cartuxa (que também pertence à FEA), sendo novamente sujeito provas frequentes. “Têm níveis de humidade, estabilidade e temperatura fantásticos para o vinho continuar a desenvolver todas as suas características e potencial”, sublinha. Talvez por isso, pela importância do passar do tempo para a consolidação do vinho, quando desafiamos Pedro Baptista a descrever o Pêra-Manca se este fosse uma pessoa o enólogo diga que seria alguém “frontal, sensato e paciente e, se praticasse desporto, certamente um maratonista”.

“Procura maior que oferta”

Após o engarrafamento e certificado que tudo correu bem e que vai mesmo haver Pêra-Manca, entra em campo outra equipa da Cartuxa para cuidar da parte comercial e de comunicação. E quando se trata do topo de gama da casa a venda pura e dura acontece ainda antes do próprio vinho ser apresentado. “A procura é maior do que a oferta. Na realidade, quando fizemos a apresentação ao mercado grande parte das vendas já tinham sido efetuadas. Os nossos importadores e distribuidores fazem questão de já terem o vinho em stock quando este é apresentado à comunicação social, para satisfazer a procura dos clientes e dar resposta a esse efeito de novidade”, afirma João Ferreira, 43 anos, o diretor comercial.

João Ferreira, o diretor comercial da Adega Cartuxa na sala de projeção, a nova atração do enoturismo da Quinta do Valbom. Filme mostra todo o ciclo do vinho e explica a história da adega e da Fundação Eugénio de Almeida.
João Ferreira, o diretor comercial da Adega Cartuxa na sala de projeção, a nova atração do enoturismo da Quinta do Valbom. Filme mostra todo o ciclo do vinho e explica a história da adega e da Fundação Eugénio de Almeida.LEONARDO NEGRÃO

A colheita de 2018 foi de quantidade reduzida, dando origem 21 mil garrafas (quando a média de todas as edições anda à volta de 30 a 32 mil). “Foi um ano difícil, muito quente, de períodos muito longos com altas temperaturas. Isso criou um stress hídrico nas plantas mas por outro lado gerou uma grande concentração de nutrientes nas que resistiram e conseguiram entregar uva. Não em grande quantidade, mas com uma qualidade muito alta”, recorda.

Dez mil garrafas foram entregues aos distribuidores nacionais e no final de fevereiro deste ano estavam vendidas. Seis mil seguiram para o Brasil e, logo em setembro, já todas tinham sido colocadas pelo distribuidor local (Adega Alentejana). Das cinco mil que sobraram, quatro mil foram para outros mercados internacionais que “são importantes para a Cartuxa, como Estados Unidos, França, Reino Unido e Macau” e as restantes ficaram disponíveis para venda (349,99 euros) no enoturismo da Quinta do Valbom (de portas abertas desde 2009), ainda que sujeitas a algumas condições: só são vendidas a quem faz a visita e apenas uma por pessoa. “Fazemos isso por dois motivos: democratizar o acesso ao vinho, disponibilizando-o a um número maior de pessoas; e evitar que alguém pudesse açambarcar uma grande quantidade de garrafas para as colocar no mercado paralelo e, assim, influenciar o preço de venda”.

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Se o processo de venda é rápido (restam poucas unidades no enoturismo), já as ações de apresentação e promoção da marca “nunca terminam”, pelo menos até existir uma nova edição. Até porque ter um Pêra-Manca no portefólio “abre portas” para outros vinhos da empresa. “Sem dúvida, ajuda no reconhecimento de sermos um produtor de qualidade”, diz João Ferreira. No que a vendas diz respeito, 2024 foi “um ano recorde” para a casa que fechou as contas com uma faturação de 28,3 milhões de euros (26,4 em vinhos e 1,9 com o azeite), um aumento de 11,93% em relação a 2023. João Ferreira destaca o peso cada vez maior do mercado brasileiro (já representa 27% da faturação e 77% da exportação). No ano passado, o Brasil, que recebe praticamente toda a produção de azeite da Cartuxa, teve um crescimento de 43% face a 2023 (vinho +38%; azeite +60%). Essa relação comercial foi, aliás, reforçada com a inédita apresentação, em São Paulo, do Pêra-Manca tinto 2018. “Obviamente que a proximidade cultural é relevante. A qualidade do vinho idem. E foi também importante termos ido para o Brasil em 1998 com os parceiros certos. Desde o primeiro momento que a estratégia do nosso importador, com a qual nós nos identificamos e concordamos plenamente, foi de distribuição numérica. Ou seja, não quis concentrar as vendas num cliente, mas sim pulverizar a marca por todos os Estados”, lembra João Ferreira.

Missão social

O retorno brasileiro também se nota noutra atividade da Adega Cartuxa, o Enoturismo. Depois de um recorde em 2023, com 30 mil visitantes, 2024 fechou com 24 mil pessoas a passar pela Quinta do Valbom, um número mais em linha com anos anteriores. João Ferreira revela ao DN que 70% dos visitantes tinham passaporte brasileiro, entre turistas vindos do outro lado do Atlântico e imigrantes residentes em Portugal.

Disponível sete dias por semana (quatro horários), a visita simples custa 15 euros e com provas aumenta para 35 (três vinhos) e 60 (seis), incluindo a degustação de azeite da Cartuxa. Em setembro, a adega abre também a possibilidade aos visitantes de fazerem a pisa das uvas, as quais irão dar origem ao Vinho da Talha Cartuxa, produzido na Quinta do Valbom em 15 recipientes de barro datados de 1875. É uma experiência é mais personalizada, logo mais cara (200 euros). “Tem tido muita procura. Oferecemos o vestuário para a pisa e, depois, quando o vinho da talha é engarrafado enviamos aos clientes uma dessas garrafas, seja para que país for, para que fique com uma recordação física do vinho que ajudou a fazer. E o valor também inclui uma refeição na Enoteca”, sublinha João Ferreira, referindo-se ao restaurante da casa, aberto desde abril de 2017, no centro histórico de Évora, onde os vinhos são cabeças de cartaz e à mesa se servem pratos inspirados na cozinha tradicional do Alentejo (entre eles um surpreendente pudim de Azeite).

A experiência de enoturismo na Quinta do Valbom foi recentemente enriquecida com uma sala de projeção. Em três ecrãs gigantes é projetado um filme com cerca de seis minutos (disponível em português e inglês), que conta a história da Adega, de todo o ciclo do vinho e foca, sobretudo, o trabalho social da FEA na região de Évora. A fundação nasceu em 1963, pela mão de Vasco Maria Eugénio de Almeida, que a dirigiria até ao ano da sua morte, em 1975, deixando-lhe toda a fortuna pois não teve herdeiros. Mas a missão que deixou ficou explícita nos estatutos. “A sua preocupação era desenvolver a região em cinco grandes pilares: educação, apoio social, cultura, religião e património”, enumera João Ferreira. A organização da Fundação também obedece a algumas regras invulgares no panorama empresarial do país. Isto porque o Conselho de Administração é sempre presidido pela Arquidiocese de Évora, e conta com representantes da Universidade e do corpo docente do Instituto Superior de Teologia daquela cidade. À Administração reporta o Conselho Executivo, responsável pela gestão corrente desta casa que emprega mais de 370 pessoas – é composto por Pedro Oliveira (presidente), Maria Rita Rosado e os já citados Pedro Baptista e João Teixeira. Anualmente, a receita obtida pela operação vitivinícola e agrícola da Adega é dividida em três partes. Um terço é para investir na parte produtiva da Fundação, modernizando equipamentos, e não só, para “perpetuar o rendimento”. Outro terço é entregue à instituição para as diferentes causas sociais. A restante verba é repartida pelas duas frentes, consoante as necessidades.

O vinho da talha é produzido na Quinta do Valbom em 15 grandes recipientes de barro de 1875. Quem participar na experiência da pisa da uva, em setembro, recebe de oferta uma garrafa do próprio vinho que ajudou a fazer.
O vinho da talha é produzido na Quinta do Valbom em 15 grandes recipientes de barro de 1875. Quem participar na experiência da pisa da uva, em setembro, recebe de oferta uma garrafa do próprio vinho que ajudou a fazer.LEONARDO NEGRÃO

A ação social da FEA traduz-se, por exemplo, em bolsas de ensino pagas a centenas de estudantes; apoio a população desfavorecida trabalhando em conjunto com organizações como a Cáritas ou o Banco Alimentar contra a Fome; promoção de eventos culturais como o festival EA Live (este ano terá pela primeira vez seis datas - 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de julho - e contará com atuações de Matias Damásio, Sara Correia, Amália Hoje, Calema, Jorge Palma e Delfins); conservação e restauro de património histórico de Évora e da Fundação, mantendo-o visitável (como o Paço de São Miguel ou a Coleção de Carruagens); conservação e restauro de património histórico de Évora e da Fundação, mantendo-o visitável (como o Paço de São Miguel ou a Coleção de Carruagens); e dezenas de outros projetos que dão corpo à visão de Vasco Eugénio de Almeida. Projetos que só são possíveis graças aquilo que a terra dá e que a natureza permite.

Pedro Baptista junto aos tonéis da Quinta do Valbom. Sete guardam potencial Pêra-Manca, colheitas de 2023 e 2024. Enólogo diz-se “otimista”.
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Tendo isso em conta, os efeitos cada vez mais severos das alterações climáticas são, assim, uma preocupação crescente? O enólogo Pedro Baptista tem resposta rápida e um guião para esse combate: "A vinha, e a agricultura em geral, está absolutamente dependente das condições climatéricas. Mas, para nós, agricultores e viticultores, viver com estas surpresas da natureza faz parte do nosso dia-a-dia. Naturalmente que qualquer alteração climatérica tem um impacto brutal na agricultura, mas isso é assim agora como era há 100 anos, há mil e há 10 mil. Com a ajuda da ciência, vamos tentando mitigar esses efeitos, tanto numa intervenção pós-desastre como na forma como conduzimos a vinha, protegendo-a. A escolha das castas tradicionais também é importante. Se existem aqui há muitos anos é porque estão perfeitamente adaptadas à região e ao clima, por isso diria até que essa seleção tem um peso cada vez maior. Mas, para nós, agricultores e viticultores, viver com estas surpresas da natureza faz parte do nosso dia-a-dia".

A Enoteca Cartuxa é o restaurante da Fundação Eugénio da Fonseca. Abriu em 2017 e durante a pandemia chegou a funcionar como cantina social, indo ao encontro da missâo social defendida pelo fundador. Os vinhos são as estrelas da casa e à mesa servem-se pratos modernos inspirados na cozinha tradicional de Alentejo.
A Enoteca Cartuxa é o restaurante da Fundação Eugénio da Fonseca. Abriu em 2017 e durante a pandemia chegou a funcionar como cantina social, indo ao encontro da missâo social defendida pelo fundador. Os vinhos são as estrelas da casa e à mesa servem-se pratos modernos inspirados na cozinha tradicional de Alentejo.

No fundo, como diz o ditado popular, não há que inventar a pólvora e, muitas vezes, a melhor solução é mesmo a mais evidente. Esse respeito pelas castas tradicionais também entronca noutra vertente que Pedro Baptista defende há muitos anos: a sustentabilidade ambiental. "Começámos a trabalhar em sistemas de agricultura de conservação de uma forma bastante intensa, não só na vinha, como também no olival e mesmo na grande cultura, nos cereais, em 1999. Portanto, é algo que nos preocupa e em que estamos envolvidos diariamente, na forma como trabalhamos, como produzimos. Isso hoje é feito de uma forma transversal”, salienta o enólogo. A manutenção da utilização da rolha de cortiça natural, a produção de energia solar, a reutilização dos caroços da azeitona nos lagares para gerar energia que aquece as massas e impede que o azeite coalhe ou o uso dos engaços da uva na alimentação animal são exemplos de boas práticas ambientais que Pedro Baptista destaca, antes de recordar aquele que foi o primeiro passo em 1999. “Foi precisamente deixarmos de mobilizar (lavrar) os nossos solos nas vinhas para melhorarmos os níveis de matéria orgânica. Melhora não só a capacidade de retenção de água no solo, como a vida microbiológica no solo, tornando-o mais rico e impedindo, por exemplo, a libertação de carbono para a atmosfera".

É lá que regressamos: à terra, à vinha e aos bons sinais de 2025. Pedro Baptista recorda que desde que a FEA produz Pêra-Manca (a marca foi-lhe entregue em 1987 pela extinta Casa Soares), todos os anos terminados em cinco deram “excelentes vinhos”, alguns entre os mais cobiçados pelos colecionadores mundiais (como o de 2005). Mas, mais uma vez, o tempo terá a palavra e há que esperar até 2031 para conhecer a sorte desta vinha que evolui promissora.

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