Na rua de Alexandre Braga, que se intitula a “mais portuguesa do Porto”, procura-se chamar clientes com balões e outras iniciativas de promoção do comércio local. Paredes meias com o mercado do Bolhão, esta já foi uma das artérias mais movimentadas do centro histórico, mas a sua transformação em espaço pedonal e a retirada dos autocarros que aí deixavam e recolhiam muitas centenas de pessoas por dia tornou-a uma rua vazia. Os comerciantes uniram-se e criaram o Comité de Dinamização Comercial do Quarteirão do Bolhão, com iniciativas para revitalizar a zona..A colocação de balões azuis e vermelhos na fachada das lojas de modo a atrair a atenção dos transeuntes que passam por Alexandre Braga - de ou a caminho da rua de Santa Catarina ou do mercado do Bolhão, mas que não percorrem a própria rua - foi a iniciativa mais recente e que gerou grande interesse, levando turistas e portuenses a aventurarem-se pela artéria para conhecer a razão da festa. Outras iniciativas estão já em discussão..A primeira foi a criação do ‘Roteiro da rua mais bonita do Bolhão, a rua mais portuguesa do Porto’, e que propõe “uma viagem de rua pelos aromas e sabores e pelo produtos artesanais portugueses, com acesso a provas e degustações gratuitas e/ou promoções na compra destes artigos”. .Descontos vitalícios.O roteiro arrancou, no início de outubro, com seis lojas que trabalham produtos nacionais, como a ginginha, o azeite, a cortiça ou o chá português, mas também a gastronomia, e hoje já são oito os aderentes, incluindo uma loja de conservas situada na contígua rua Fernandes Tomás. Para ajudar a dinamizar estes negócios, e pensando sobretudo no cliente portuense, foi criado um passaporte que, quando totalmente carimbado, com aquisições em cada uma das lojas aderentes, dá acesso a descontos vitalícios nas compras futuras..Helena Ferreira, uma das dinamizadoras do Comité, fala na vontade dos lojistas em contrariar a lamúria, agindo. “Em vez de estarmos à espera da autarquia ou da gestão do Mercado do Bolhão, que são os que têm a obrigação de fazer e não fazem, consideramos que temos que ser atores da nossa própria história e agir. Criámos o comité para animar, para alertar e também para investirmos nos nossos negócios, na aposta que fizemos no comércio local, de rua, com atendimento personalizado e vendendo artigos que fazem parte da cultura e da tradição portuguesa”, explica. No seu caso, é a loja Oliva&Co, que vende azeite e produtos correlacionados. .A empresária não poupa, no entanto, críticas à falta de apoio com que os lojistas se defrontam. "Quisemos trazer a cultura do produtos alimentar português ao quarteirão do Bolhão e fomos abandonados á nossa sorte. E, por isso, tivemos de agir", sustenta..E se alguns dos lojistas são do tempo em que a rua era ponto de paragem dos autocarros para outros concelhos do Grande Porto, como Gondomar, outros concordam com a pedonalização da artéria e acreditam que esse é o futuro. Mas com transeuntes, não sem eles..“Se o mercado está sempre cheio, aqui fora a rua está vazia. Ser uma área pedonal até devia ajudar, mas a verdade é que as pessoas passam em cima, na Rua Fernandes Tomás, ou abaixo, na Formosa, mas poucos são os que descem Alexandre Braga e é isso que precisamos. A Câmara chegou a fazer um opereta na rua e foi o melhor dia de faturação para todos, porque a rua esteve cheia, mas nunca mais houve iniciativas dessas”, refere Hugo Santos, da Teastore, uma loja que vendem mais de 100 chás diferentes, nos quais se incluem o chá dos Açores, já que "somos o único país da Europa a produzir chá", e as ervas, tisanas e infusões portuguesas. .Hugo Santos aponta a falta de transeuntes na rua, o que é "um problema para toda a gente" e lembra que "se a simples colocação de balões já gerou curiosidade e fez a diferença, imagine o que seria com animação constante", contrapõe..Já Paula Matos, que há mais de 30 anos vende artigos de vestuário para bebé nesta artéria, com a marca Carapim, e mais recentemente com a Mundo do Bebé, loja aberta pela sua sogra, há quase 60 anos, e que juntou os dois universos numa loja dupla mais acima na rua, admite que o negócio hoje é diferente, mas aponta a outras razões.."O problema não é de ser uma rua pedonal. O mundo mudou, as pessoas preferem fazer as suas compram online, ou em shoppings, o que faz com que o negócio já não seja tão rentável. Mas os estrangeiros apreciam o comércio tradicional. E nós, Porto, devemos muito ao turismo. Sem ele, era uma desgraça completa. Venham os turistas, quantos mais, melhor", frisa..A Económica do Bolhão é o exemplo claro da adaptação dos lojistas ao turismo. Esta é uma loja que existe há mais de 70 anos, e que Teresa Vieira assumiu, nos últimos 30. E que sofreu muito com o fim dos autocarros na rua Alexandre Braga.."Estávamos habituados a muito movimento, está a ser um bocadinho difícil esta transição. Esta rua precisa de mais atividade, que chame clientes", diz. Na verdade, os que faltam são os clientes portugueses, admite, o que obrigou a mudar o perfil dos produtos que tem à venda. De uma loja quase só dedicada à venda de cestas e outros artigos em vime, e a passadeiras para o chão, a Económica do Bolhão passou a apostar no artigo vocacionado para o turista, a pequena peça em cortiça, o artesanato, a lembrança 'made in Portugal'..Também o Bolhão a Gosto mudou, de uma pastelaria, que tinha há mais de 40 anos no local, Márcio Bateiro e Emanuel Martins transformaram-na num restaurante de comida tradicional portuguesa. Emanuel reconhece que há menos pessoas a passar pela rua desde que os autocarros dali saíram, mas não critica a opção pela pedonalizaçáo. Pelo contrário. "A rua está interessante, tem potencial, mas precisa de atração e de luz", garante, explicando que, como são os que fecham mais tarde - o restaurante está aberto até às 22h00 - acabam por ficar "um pouco sozinhos". "Tentamos por luzes nos guarda-sóis, de modo a atrair clientes, para não ficar tudo tão escuro. E tentamos pedir a quem canta na rua que aqui viesse entreter os clientes, mas nem isso ajuda porque a polícia vem e multa-os. A rua precisa de dinamização", defende.