Nem só de sapatos vive a fileira do calçado. Aliás, numa fase em que a conjuntura internacional está a penalizar a produção e exportação nacional de calçado, o setor dos artigos de pele, mais conhecido como a indústria de marroquinaria, que faz malas, carteiras e cintos, tem vindo a crescer significativamente em número de empresas, de trabalhadores e, sobretudo, no valor exportado, que mais do que duplicou desde 2018. Design, qualidade e know-how acumulado ao longo de gerações são algumas das razões de sucesso apontadas.De acordo com as estimativas da APICCAPS, a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos, o setor da marroquinaria contava, em 2023, com 123 empresas e 4063 trabalhadores, tendo exportado bens no valor de 323,3 milhões de euros. Dados que representam um crescimento de 6% no número de empresas e de 84,5% no emprego. Já as exportações aumentaram 108%, o que corresponde a mais 168,3 milhões de euros do que em 2018. Uma performance positiva que se manteve em 2024, com as exportações nos primeiros dez meses do ano - ainda não há dados mais recentes - a registarem um acréscimo de 13,4%, passando de 263,6 milhões para 298,2 milhões de euros. Praticamente metade deste valor corresponde às vendas ao exterior de malas e carteiras de senhora.“Há algum tempo que identificamos que os artigos de pele constituem uma oportunidade e preparamo-nos para isso, quer promovendo mais iniciativas promocionais e a presença em mais feiras nos mercados externos, quer envolvendo o Centro de Formação na definição de iniciativas de formação específica para esta área, quer ainda através do Centro Tecnológico que tem procurado ajudar ao desenvolvimento de novas soluções tecnológicas e de novas funcionalidades a pensar neste subsetor”, refere o porta-voz da APICCAPS, sublinhando que, em paralelo, “se tem assistido à chegada a Portugal de novos parceiros internacionais”, designadamente grande marcas de luxo mundial.“Tem havido bastante investimento estrangeiro neste setor de atividade, como é o caso de alguns dos grupos de luxos franceses mais conhecidos do mundo que estão a investir no nosso país”, diz Paulo Gonçalves, admitindo que, brevemente, a manter-se esta trajetória, Portugal estará a exportar mais artigos de pele e marroquinaria do que calçado de homem, aquilo que sempre foi o grande saber fazer da indústria nacional.É o caso da ATEPELI - Ateliers de Portugal que chegou a Portugal em 2011, e conta já com três unidades no país, em Ponte de Lima, Penafiel e Santa Maria da Feira, tendo esta última arrancado em 2021. Embora oficialmente a ATEPELI se assuma apenas como pertencendo “a um dos maiores grupos internacionais de artigos de luxo”, é sabido que se trata do grupo Louis Vuitton. Paulo Gonçalves garante que “praticamente todas as grandes marcas internacionais de luxo estão a operar em Portugal, porque nos reconhecem as competências técnicas e tecnológicas para fazer estes artigos e o setor tem vindo a crescer por isso. E as que não estão com fábricas próprias, estão através do regime de subcontratação”, sustenta.Além disso, Paulo Gonçalves lembra que Portugal tem, no setor das malas e artigos de pele, uma “marca fortíssima”, a nível mundial, que é a Parfois. “A maioria dos artigos não são produzidos em Portugal”, admite, mas “não deixa de ser uma marca portuguesa”, frisa.Em termos de mercados, a França é o principal destino dos artigos de pele made in Portugal, com 122 milhões de euros, cerca de um terço das exportações do setor entre janeiro e outubro. Segue-se Espanha (74 milhões), Turquia (15 milhões), EUA (11 milhões) e a Alemanha fecha o top 5 com sete milhões.