Lucro do BCP atinge recorde de 906 milhões, com mais clientes e menos malparado
O Millennium bcp registou um lucro de 906,4 milhões de euros em 2024, mais 5,9% que no ano anterior, anunciou ontem o banco liderado por Miguel Maya. Para este resultado contribuíram o crescimento da base de clientes e a reversão de imparidades constituídas em anos anteriores, que ajudaram a compensar o aumento dos custos e o impacto da descida dos juros.
O banco vai pagar um dividendo de 450 milhões de euros, relativo a 2024, preparando-se também para lançar um programa de recompra de ações no valor de 200 milhões, tendo obtido recentemente a autorização do Banco Central Europeu. “Não há ainda data específica para lançar o share buyback, porque só agora tivemos essa autorização”, disse Miguel Maya na conferência de apresentação de resultados.
Segundo o maior banco privado português, a margem financeira cresceu apenas 0,2%, devido à descida das taxas de juro que teve início no ano passado. Esta margem corresponde à diferença entre os juros que os bancos cobram nos créditos e aquilo que pagam pelos empréstimos. Em 2024, a margem financeira do BCP fixou-se em 2,8 mil milhões de euros. “Foi uma margem muito estável”, frisou Miguel Maya.
A base de clientes aumentou 4% em relação a 2023, destacando-se uma subida de 10% nos clientes mobile, que representam 71% do total. Neste contexto, “as comissões tiveram uma evolução positiva, quer em Portugal, quer na operação internacional, com um contributo muito marcado das comissões de mercados”, explicou, referindo-se à subida pouco expressiva (39 milhões de euros) das comissões.
Por sua vez, o produto bancário caiu 5,2%, para 3,8 mil milhões de euros. Os depósitos de clientes cresceram 7,8% em termos homólogos, para 84 mil milhões de euros, ao passo que o crédito cresceu 0,9%, para 55 mil milhões.
Reversão de provisões de anos anteriores ajuda contas
As imparidades de crédito (líquidas de recuperações) tiveram uma descida de 24% face a 2023, para 182,5 milhões de euros, enquanto as outras imparidades e provisões tiveram uma descida de 21% para 675 milhões, sobretudo graças à evolução no mercado português, frisou Miguel Maya. O banco beneficiou de forma significativa da reversão de imparidades constituídas nos anos anteriores.
Por sua vez, os custos operacionais tiveram um forte aumento de 12%, para 1,3 mil milhões de euros. Em Portugal, este crescimento foi de 9%, com uma subida de 10% nos custos com pessoal, explicou Miguel Maya. Nas operações internacionais estes custos também foram superiores, “com uma pressão salarial muito forte na Polónia, bem como a necessidade de retenção de quadros”.
Por outro lado, o desempenho do grupo “continuou também a ser condicionado pelo custo suportado com as contribuições obrigatórias, tendo a redução registada na atividade em Portugal sido insuficiente para compensar o aumento do montante global das contribuições na subsidiária polaca”, refere o BCP na apresentação enviada à CMVM.
BCP aposta na via orgânica, não pode deixar de olhar para o Novobanco
Questionado sobre a venda do Novobanco, Miguel Maya respondeu que a estratégia do BCP passa pela “via orgânica”, mas admitiu que não pode deixar de avaliar a possibilidade de comprar o rival.
“O crescimento do BCP é por via orgânica. Quando uma operação vai ao mercado, temos obrigação de analisar de analisar todas as oportunidades que criem valor”, disse o CEO.
O fundo Lone Star pretende avançar com a venda de uma parte da sua posição no Novobanco, com a colocação em bolsa de cerca de 25% do capital da instituição. Um cenário alternativo, que o Lone Star não afasta, será a venda direta a um concorrente nacional ou estrangeiro, com os analistas a apontarem para a CGD, o BCP e o Caixabank (dono do BPI) a serem apontados como potenciais interessados.
Questionado sobre as avaliações do Novobanco que têm sido divulgadas - que apontam para um montante na casa dos cinco mil milhões de euros -, o CEO do BCP não quis comentar, dizendo apenas que as mesmas também beneficiam o próprio banco que lidera. “Se esses valores para o Novobanco estiverem certos, mais valerá o BCP”, salientou.