O crescimento do investimento em Inteligência Artificial (IA) já está a ser um motor da economia da Zona Euro, mas os salários dos trabalhadores estão a aumentar mais do que o "esperado", representando um risco para a inflação, disse a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, esta quinta-feira, em Frankfurt."O investimento tem sido um motor da economia" e isso "é em grande parte atribuível à IA", comentou Lagarde, na conferência de imprensa que se seguiu à decisão de manter as taxas de juro da Zona Euro em mínimos de três anos, com a taxa de depósito a ficar em 2% pelo sexto mês consecutivo, ajudando assim a manter as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos de famílias e empresas em níveis relativamente contidos, mas estáveis. E assim deve continuar nos próximos dois anos, estimou, recentemente, a OCDE no outlook que publicou a 2 de dezembro.No entanto, apesar do elogio ao contributo para a procura interna (investimento) nas novas tecnologias de computação, a chefe do BCE fez a ressalva: "É muito cedo para dizer se o impacto da IA será duradouro".Segundo a autoridade monetária, "o crescimento económico deverá ser mais forte do que o avançado nas projeções de setembro, sendo impulsionado principalmente pela procura interna"."O crescimento foi revisto em sentido ascendente para 1,4% em 2025, 1,2% em 2026 e 1,4% em 2027, devendo permanecer em 1,4% em 2028", indicou.Há três meses, na última colheita de projeções, o BCE antecipava que o crescimento deste ano fosse de 1,2% e depois 1% em 2026.Quanto aos salários, inquietaçãoSegundo a banqueira central, "estaremos particularmente atentos aos salários" e "falámos bastante sobre a questão" na reunião que decorreu quarta e quinta-feira, em Frankfurt."Os custos unitários do trabalho cresceram a uma taxa ligeiramente superior à do segundo trimestre" e "a remuneração por trabalhador aumentou 4% em termos anuais, um valor superior ao esperado nas projeções [dos especialistas do Eurossistema] de setembro e isso deveu-se a pagamentos acima dos salários negociados [como na contratação coletiva]", avisou Christine Lagarde, na conferência de imprensa que se seguiu aos dois dias de reunião de política monetária e de taxas de juro.Este aviso não é novo, mas no encontro, em Frankfurt, o BCE sobe ligeiramente o tom, dizendo até que a incerteza "pode estar a piorar". Recentemente, o BCE reforçou a tónica de que a evolução salarial é crítica para poder manter a inflação e os juros estáveis nos 2% atuais.A ideia é que a evolução dos ordenados deve abrandar e ser muito mais moderada, sobretudo no setor dos serviços, porque afeta a evolução prevista da inflação.Há pouco mais de uma semana, no Parlamento Europeu, na comissão de economia e finanças, Lagarde explicou que "a redução da inflação em direção à nossa meta de médio prazo [2%] foi sustentada por uma moderação gradual do crescimento dos salários, que passou de um pico de 5,7% no segundo trimestre de 2023 para 3,9% no mesmo trimestre deste ano".Mas, volvido pouco mais de uma semana, a presidente do banco central sinaliza que a incerteza sobre a questão salarial pode ter aumentado."Falámos bastante sobre a questão", "o aumento da inflação dos serviços está relacionado com os salários", frisou.Embora "os indicadores prospetivos, como o indicador salarial do BCE e os inquéritos sobre as expectativas salariais, sugiram que o crescimento dos salários irá abrandar nos próximos trimestres, antes de estabilizar ligeiramente abaixo dos 3% no final de 2026", notamos também que "as perspetivas para a inflação continuam a ser mais incertas do que o habitual, devido à persistência da volatilidade do ambiente internacional".O desvio nos indicadores de incerteza face ao habitual "não mudou muito, pode até ter piorado", descreveu a chefe do BCE.Lagarde insistiu que "uma redução mais lenta das pressões salariais pode atrasar o declínio da inflação dos serviços", ou seja, vai continuar a ser uma fonte de risco e de maior preocupação para o BCE.Se a inflação descola outra vez dos 2% e começa a subir, o BCE terá de voltar a subir taxas de juro, é essa a mensagem de fundo..Lagarde. Salários estão a crescer "acima do esperado" e BCE está "particularmente atento" a isso.BCE mantém taxa de juro em mínimo de 2% pelo sexto mês consecutivo.OCDE diz que descida das taxas de juro na Europa terminou