O número de multimilionários passou de 2565 em 2023 para 2769 em 2024, sendo que a sua riqueza combinada aumentou de 13 para 15 biliões de dólares (cerca 14,6 biliões de euros). São 204 novos multimilionários num só ano, o que corresponde ao aparecimento de quase quatro por semana. Os dados são do estudo “Takers not makers” da Oxfam, que assegura que os dez homens mais ricos do mundo viram a sua fortuna crescer, em média, quase 100 milhões de dólares por dia (cerca de 97,3 milhões de euros). “Mesmo que perdessem 99% da sua riqueza de um dia para o outro, continuariam a ser multimilionários”, assegura a organização humanitária britânica.O relatório foi divulgado nesta segunda-feira, dia 20, propositadamente de modo a coincidir com o arranque de mais um Fórum Económico Mundial, em Davos, que reúne as elites empresariais e políticas. É também o dia, sublinha a organização não governamental (ONG), em que o multimilionário Donald Trump, apoiado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, é empossado como presidente dos Estados Unidos. E se na edição do ano passado a Oxfam estimava que, até ao final da década, o mundo assistiria ao surgimento do primeiro bilionário, agora, prevê que, às taxas atuais de crescimento, “haverá pelo menos cinco bilionários neste período”. É que, só em 2024, a riqueza dos multimilionários no mundo aumentou em dois biliões de dólares, o que equivale a dizer que cada um ficou, em média, 5,7 mil milhões de dólares (cerca de 4,9 mil milhões de euros)mais rico a cada dia, um ritmo “três vezes mais rápido” do que no ano anterior. “A captura da nossa economia global por alguns privilegiados atingiu níveis anteriormente considerados inimagináveis. O fracasso em travar os multimilionários está agora a gerar futuros bilionários. Não só a taxa de acumulação de riqueza acelerou - em três vezes - como também o seu poder”, afirma, citado em comunicado, o diretor executivo da Oxfam Internacional. Amitabh Behar considera que Donald Trump, que dirige a maior economia do mundo, “é a joia da coroa desta oligarquia” e assume que “o relatório é apresentado como “um forte aviso de que as pessoas comuns de todo o mundo estão a ser esmagadas pela enorme riqueza de alguns.”Mais, a Oxfam destaca que, enquanto os ricos continuam a enriquecer, “o número dos que vivem na pobreza quase não mudou desde 1990, de acordo com dados do Banco Mundial”, e apela aos governos para que “ajam rapidamente para reduzir a desigualdade e acabar com a riqueza extrema”. O ONG não esquece, ainda, que “muitos dos super-ricos, principalmente na Europa”, devem parte da sua riqueza ao colonialismo, mas fala também do que designa de colonialismo moderno: os 1% mais ricos dos países do norte do globo, como os EUA, Reino Unido e França, “extraíram 30 milhões de dólares por hora do sul através do sistema financeiro em 2023”. Os países do norte “controlam 69% da riqueza global, 77% da riqueza dos multimilionários e albergam 68% dos multimilionários, apesar de representarem apenas 21% da população global”, sublinha a Oxfam. Medidas preconizadasReduzir desigualdades - A Oxfam considera que os governos precisam de se comprometer em garantir que o rendimento dos 10% mais ricos não supera o dos 40% mais pobres. Taxar os mais ricos - A exigência não é nova, mas a Oxfam quer que a política fiscal global se enquadre numa nova convenção fiscal da ONU, “garantindo que as pessoas e as empresas mais ricas pagam a sua quota-parte justa”. Metade dos multimilionários vive em países sem imposto sobre as heranças para descendentes diretos, diz a organização, que reclama a sua tributação para “desmantelar a nova aristocracia”.Perdão de dívidas - Reclamando o fim da transferência de riqueza do sul para o norte do planeta, a Oxfam quer o perdão de dívidas aos países do sul e o “fim do domínio dos países ricos e das empresas sobre os mercados financeiros e as regras comerciais”. Estudo conclui que os países de baixo e médio rendimento "gastam quase metade dos seus orçamentos nacionais a pagar dívidas a credores ricos em Nova Iorque e Londres". A ONG britânica apela, ainda, à eliminação dos monopólios e democratização das regras das patentes.