Houve mais uma reviravolta numa ‘novela’ que promete ainda ter muitos episódios e que, desta vez, deixou muitos analistas de mercado e consumidores num misto de alívio e confusão: no sábado, a Administração Trump anunciou uma exceção nas tarifas impostas aos produtos eletrónicos provenientes da China. A medida abrange smartphones, computadores e outros equipamentos cruciais para o dia a dia de milhões de americanos e surge num momento de crescente tensão entre as duas maiores economias do mundo. Mas o que foi inicialmente interpretado como sendo uma isenção total no comércio destes aparelhos, foi ontem afinal colocado num patamar tarifário de 20% pelo presidente Donald Trump.“Não vamos ser reféns de outros países, especialmente nações comerciais hostis como a China”, declarou Trump na sua plataforma Truth Social, esclarecendo, horas depois, que “ninguém está a ser ilibado” das tarifas, e que os produtos em questão serão agora alvo de uma nova “categoria” de taxas, nomeadamente sobre semicondutores, com a referida tarifa de 20% - apesar de tudo, bem inferior à taxa de 145% que fora anunciada para todos os produtos chineses.O secretário de Comércio, Howard Lutnick, ainda aumentou a confusão ao dizer que estas medidas são temporárias e que novas taxas sobre semicondutores serão implementadas no espaço de “um ou dois meses”.Estes avanços e recuos por parte da Administração Trump têm gerado uma enorme incerteza no setor tecnológico e nos mercados financeiros. A decisão inicial, que foi interpretada como uma total isenção de taxas aduaneiras sobre equipamentos eletrónicos, foi vista como um potencial alívio para empresas como a Apple, que dependem quase totalmente da produção na China.Tim Cook e a superioridade da técnica chinesaO presidente da Apple, Tim Cook, sempre defendeu a escolha da China como centro de produção dos seus iPhones - o produto que representa 51% da faturação da marca.Nessa entrevista à Fortune, já com quase cinco anos, mas que está de novo a tornar-se viral, o CEO da Apple destaca a “incrível perícia e precisão” dos trabalhadores chineses, bem como a vasta infraestrutura e ecossistema de fornecedores que a China tem. Segundo Cook, seria “impossível” replicar esta cadeia de produção noutro local, pelo menos a curto prazo.Esta dependência da China, no entanto, coloca a Apple numa posição extremamente vulnerável face às flutuações das políticas comerciais e às tensões geopolíticas.Outras empresas em riscoA Apple, no entanto, não é a única gigante tecnológica norte-americana a ser afetada por esta guerra de taxas aduaneiras. Empresas como a Microsoft, a Dell, a HP, e a Cisco também dependem da China para a produção de computadores, portáteis e equipamentos de rede.No sentido inverso, as taxas aplicadas pela China aos EUA afetam empresas como a Intel e a Texas Instruments, que fabricam chips nos Estados Unidos e exportam para aquele país, arriscando, neste momento, as medidas retaliatórias chinesas, o que encarece os seus produtos naquele mercado. O último valor anunciado pelo governo de Xi Jinping era de 125% sobre produtos importados - em resposta aos 145% declarados por Trump.Ainda no mercado dos semicondutores, a Qualcomm e a AMD, que terceirizam a produção para a TSMC em Taiwan, escapam, para já, às tarifas chinesas.A única certeza: o futuro é incertoO impacto desta guerra tarifária a longo prazo é uma incógnita. Se, por um lado, as empresas podem ser forçadas a diversificar as suas cadeias de produção, procurando alternativas em países como o Vietname ou Índia (caso da Google, que já lá fabrica muitos dos seus produtos) ou até México, ou mesmo a trazer alguma produção de volta aos Estados Unidos, por outro, os consumidores poderão vir a pagar preços mais altos pelos seus equipamentos eletrónicos favoritos. Tudo isto, naturalmente, a ter reflexos no investimento e no crescimento económico. Por agora, resta pouco mais do que aguardar pelos próximos capítulos, uma vez que a Administração Trump dá sinais de que a tranquilidade e a consistência não estarão para breve.."Estamos a enfrentar um problema terrível”. EUA param encomendas de vinhos portugueses e da Europa