A mensagem foi entregue a Gonzalo Gortázar, CEO do Caixa Bank, através da embaixada portuguesa em Madrid, apurou o DN junto de fontes conhecedoras do processo. E foi clara: o Governo português não impedirá a eventual compra do Novo Banco pelo CaixaBank, uma vez que a legislação comunitária não lhe permite essa possibilidade. Porém, o Executivo liderado por Luís Montenegro não veria com bons olhos essa aquisição e não mostraria “boa vontade” em relação às medidas difíceis que teriam de ser tomadas no âmbito de uma fusão do Novo Banco com o BPI, o banco português detido pelo grupo catalão.Segundo as mesmas fontes, a posição do Governo português foi também comunicada ao ministro da Economia, Comércio e Empresas de Espanha, Carlos Cuerpo Caballero, do executivo liderado por Pedro Sánchez.A tomada de posição do Governo ocorreu numa altura em que o fundo Lone Star se prepara para vender a sua participação de 75% do Novo Banco, através de uma colocação em bolsa (IPO) ou da venda direta a um concorrente.O CaixaBank, dono do BPI, é tido como um forte candidato à compra da instituição liderada por Mark Bourke, juntamente com o galego ABanca, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Millennium BCP. Segundo a imprensa espanhola, os catalães estarão dispostos a oferecer até três mil milhões de euros pelo Novo Banco, mas o Lone Star quer encaixar entre quatro a cinco mil milhões.Se os grupos espanhóis ficarem fora da corrida ao Novo Banco, os cenários mais prováveis serão a venda em bolsa ou uma divisão das operações entre vários compradores. Uma das possibilidades que têm sido faladas será uma repartição entre a CGD, o BCP e outros interessados, das áreas de empresas e de retalho do Novo Banco.Foi neste contexto que, no final de maio, a diplomacia portuguesa pediu uma reunião com Gonzalo Gortázar, CEO do CaixaBank, para aferir sobre o real interesse dos catalães no Novo Banco e deixar clara a posição do Governo português, segundo as fontes ouvidas pelo Diário de Notícias.Governo avisa que não haverá “boa vontade”A reunião com o CEO do CaixaBank decorreu num ambiente informal e amigável. Nesse encontro, foi transmitido a Gortázar que o Governo se sentiria “desconfortável” com a eventual passagem para mãos espanholas do terceiro maior banco privado português, uma vez que isso faria com que metade do setor bancário passasse a ser controlado pelo país vizinho.Na ocasião, foi ainda transmitido aos catalães que, se o CaixaBank decidir avançar com a operação, o Governo não o poderá travar, porque legalmente está impedido de o fazer. Porém, nessas circunstâncias, o CaixaBank não poderá contar com a “boa vontade” das autoridades portuguesas nos procedimentos posteriores à aquisição, numa referência à mais que provável reestruturação que teria lugar no âmbito de uma fusão entre o Novo Banco e o BPI. Algo que, segundo foi transmitido a Gortázar, poderia acarretar custos muitos elevados em questões laborais, fazendo pairar uma nuvem de incerteza sobre toda a operação. Questionado, nesse encontro, se o CaixaBank tem ou não interesse no Novo Banco, Gortázar terá repetido aquela que tem sido a posição oficial da instituição, afirmando que não existe uma decisão sobre o assunto. No entanto, deixou claro que, se surgir uma oportunidade para crescer em Portugal, a administração do CaixaBank terá o dever fiduciário de a apresentar aos acionistas. Acrescentou, porém, que compreendeu, na perfeição, a mensagem deixada pelo Governo português e a elevada sensibilidade do assunto, prometendo dar conta disso aos seus acionistas.Questionados pelo DN a respeito destas informações, tanto fonte oficial do CaixaBank como o ministério das Finanças, que tutela o Novo Banco, não quiseram fazer comentários.