A primeira época alta do ano do golfe está fechada, com os principais indicadores a registarem novos máximos históricos. Entre janeiro e junho foram realizadas 948 mil voltas nos 91 campos do país, o que representa um aumento de 2% face ao ano anterior. Já as receitas dispararam 10% à boleia do aumento dos preços. A atividade, que se desenvolve em contraciclo com os picos do turismo - com a primeira fase da procura alocada entre fevereiro e maio-, foi responsável por 750 mil dormidas, de acordo com os dados avançados ao DN pelo Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG). “O golfe está alinhado com aqueles que são os resultados da restante atividade turística e este ano está a ser melhor do que 2024. As receitas estão muito acima do ano passado porque esta tem sido também a tendência do setor”, explica o presidente. Apesar da performance robusta nas contas, Nuno Sepúlveda alerta que a margem de evolução das tarifas é limitada devido à qualificação da oferta. “Há um ajuste e uma diferença nos preços entre os produtos que estão a ser alvo de requalificação e os que não estão. Não é possível subir preços sem que o produto melhore consideravelmente”, atesta. Este tem sido, aliás, um dos principais desafios do parque disponível. A maior fatia dos campos de golfe do país soma uma idade entre os 20 e os 40 anos, sendo que o tempo de vida útil destes espaços se situa nos 30 anos. A necessidade de renovação é uma das prioridades para que esta fileira do turismo consiga competir com os principais destinos concorrentes, como é o exemplo de Espanha. Depois de vários anos parado, o investimento voltou a ganhar fôlego. “Existe um entusiasmo e um fim de linha com alguns players a começarem a investir, até porque Espanha também está a melhorar alguns dos seus campos de golfe e lá são muito agressivos em termos comerciais e têm alguns produtos a ser renovados com grande resultado e, por isso, em Portugal, há uma sensibilização neste aspeto e já se notam alguns produtos a melhorar - ainda não na escala que precisamos, mas já se nota”, refere. “O real estate associado ao turismo de resort também está em alta e ter um campo de golfe traz valor acrescentado, por isso há uma intenção de de investir para que o produto valorize”, adianta ainda. Outro dos fatores que pesa na decisão dos investidores respeita à captação de mercados de elevado valor, como são exemplo os norte-americanos que começam a ganhar expressão no sul do país. O Algarve apresenta-se como o epicentro da atividade absorvendo 70% das voltas realizadas em território nacional. A primeira ligação direta entre Faro e os Estados Unidos, operada desde maio pela United Airlines, já está a surtir efeitos nas tesourarias dos empresários da região. “Estes turistas já tinham presença em Lisboa e no Porto, mas no Algarve é algo recente. Portugal é um ‘hot topic’ para os norte-americanos. Apesar o número de voltas ainda ser residual, o nível de receitas é desproporcional: estes jogadores gastam muito dinheiro. A partir de junho o efeito vai adensar-se com um maior volume de viajantes desta nacionalidade a aterrar na região”, perspetiva. Para Nuno Sepúlveda, é inegável o interesse por este mercado emergente, mas fidelizá-lo significará um maior peso na fatura. “Toda a gente quer ter o mercado americano, mas ele tem uma expectativa de produto e de qualidade que não é a que nós temos nalguns dos nossos campos ao dia de hoje. Quem quiser captá-lo terá de melhorar o seu produto e o serviço, caso contrário não é sustentável no tempo”, prossegue..Portugueses em minoria por “questão cultural”.O Reino Unido, a Alemanha, a Suécia e os Países Baixos continuam a ser os principais clientes dos campos de golfe do país. Já o mercado nacional mantém uma presença marginal no negócio, com um peso de apenas 15%.O presidente do CNIG assegura que o motivo reside numa questão cultural e na “falta de conhecimento” dos portugueses e rejeita que os preços altos ou uma visão elitista associada à modalidade desincentivem a prática. “Antes dizia-se mal porque era só para uma determinada classe, agora diz-se mal porque não se sabe o que é nem de que se trata. Atualmente, jogar golfe em Portugal não custa mais do que ser sócio de um ginásio ou de um clube de ténis. O preço já não é um impedimento”, assegura. Já no que respeita ao perfil do praticante, admite que há mais jovens e mulheres a jogar golfe, embora numa escala reduzida. “Embora o número seja ainda muito baixo, é verdade que há mais senhoras a jogar golfe. Não há indicadores ainda, mas já se nota e isso verifica-se muito pelos produtos que se vendem nas lojas da especialidade, dirigidos a este público”, diz. .Comporta e Tróia em ascenção.Já numa análise à geografia nacional, não há dúvidas de que o Algarve é o centro da atividade, com uma concentração de mais de 50% dos campos de golfe do país. O apetite dos turistas do norte da Europa pelo sul de Portugal e as condições climatéricas completam a lista das mais-valias que colocam a região na liderança. Lisboa segue-se na tabela como destino de eleição e tanto o Porto como as ilhas estão a ganhar escala e posicionamento. Mas, além das localizações tradicionais, o litoral alentejano está também a emergir.“Quanto mais golfe existir em Portugal, melhor. Há perfis diferentes e temos clientes que querem ir para Lisboa ou para a Madeira e que nunca iram para o Algarve; são clientes diferentes que vão à procura de outro tipo de experiências e de estadia. A zona da Comporta e de Tróia começam a ter novos campos de golfe e a criar um novo destino”, elucida o representante da indústria..CNIG quer golfe reconhecido como atividade económica.“Gostávamos muito que o golfe fosse visto como uma atividade económica e não tanto como uma atividade desportiva, porque, na verdade, cria a riqueza para Portugal”. Esta é uma das ambições de Nuno Sepúlveda que sublinha que o impacto da atividade se estende ao alojamento, restauração, serviço de transfers, aluguer de viaturas, comércio e atividades culturais. O presidente do CNIG relembra que, em 2024, o golfe teve um impacto de quatro mil milhões na economia portuguesa e foi responsável pela criação de 20 mil postos de trabalho e, por isso mesmo, ambiciona que os campos de golfe possam serem elegíveis para os fundos comunitários..Mão-de-obra continua a ser constrangimento.Por fim, ao quadro dos desafios junta-se a falta de mão-de-obra para preencher posições nos campos, nas receções e na área da manutenção. “Não somos exceção ao que se passa noutras áreas de atividade em geral, e no turismo em particular, e contratar é uma dificuldade. É difícil encontrar pessoas que gostem e que queiram trabalhar na área. E, depois, há ainda a questão do alojamento, é um desafio a questão da habitação”, enumera. Ainda assim, Nuno Sepúlveda está otimista e afiança que o cenário tem vindo a mudar. “Há novas pessoas que têm de formação académica e que querem trabalhar na área do golfe, existe esse entusiasmo, mas é um processo lento que esteve parado durante muito tempo”, conclui. .Turismo. Dependência externa atinge máximo de sete anos. Portugal recebeu 29 milhões de estrangeiros em 2024.Novo presidente da federação de golfe prioriza orçamento para 2025