Fileira da madeira quer captar e reter talento com novo contrato coletivo
Octavio Passos/Global Imagens

Fileira da madeira quer captar e reter talento com novo contrato coletivo

Novo acordo procura fazer uma melhor adequação dos perfis profissionais à transformação tecnológica que a indústria da madeira e mobiliário sofreu nos últimos anos. A diferença entre trabalhadores fabris e de escritórios acaba.
Publicado a
Atualizado a

A fileira da madeira e do mobiliário tem um novo contrato coletivo de trabalho (CCT), que põe fim à diferença entre trabalhadores do chão de fábrica e dos escritórios, com o estabelecimento de uma tabela única, porque, sublinham os responsáveis do setor, “são todos trabalhadores e devem ser tratados por igual”. Captar e reter talento é vital, admitem. O último CCT era de 2012.

Em causa está um documento que, além das questões remuneratórias, procurou adaptar-se à modernização da fileira, incorporando, admitindo e acomodando, como se pode ler no preâmbulo do CCT enviado para publicação, “um conjunto de novas funções, competências e necessidades do setor resultantes da sua natural evolução e desenvolvimento verificadas nas últimas décadas, em razão da inovação, tecnologia e da própria ciência”.

Vítor Poças, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) fala num “acordo histórico”, Carlos Viegas Vitorino, secretário-geral do Sindicato da Construção, Obras Públicas e Serviços (Setacoop), considera que “sai fortalecida” a relação entre trabalhadores e as suas entidades patronais.

Em causa está um setor que conta com mais de 18 mil empresas, que asseguram acima de 80 mil empregos e que contribuem, por ano, com 3,2 mil milhões de euros para as exportações nacionais. E que, fruto dos “investimentos constantes” em novas tecnologias, automação e digitalização, não tem propriamente falta de trabalhadores. 

“Este é um setor de tal forma grande, e com realidades tão distintas - como as serrações, os painéis ou a indústria do mobiliário e da colchoaria -, que provavelmente contrata pessoas todos os dias. Mas diria que os cerca de 80 mil que temos são um corpo de talento estável e equilibrado, face ao que é a nossa produção”, afirma Vítor Poças.

A prová-lo está o facto de as exportações da fileira terem mais do que duplicado desde 2011, mas o número de trabalhadores ter-se mantido estável. “A produtividade tem vindo a aumentar por recurso a máquinas tecnologicamente mais desenvolvidas”, acrescenta.

O novo CCT, que há mais de dois anos vinha sendo trabalhado, procurou não só reduzir o número de categorias profissionais, mas sobretudo adequar as suas designações e incorporar novas categorias à luz desta transformação tecnológica da fileira, em nome de uma maior atratividade do setor junto dos mais jovens. Porque, a qualificação e a formação profissional constituem um “mecanismo de incremento da competitividade das empresas e reforço do potencial dos trabalhadores”, sendo “fator indispensável da promoção e sustentabilidade do crescimento económico e do desenvolvimento humano e social”.

A reformulação completa das carreiras e dos grupos profissionais pressupôs o ajustamento em termos salariais com base no Salário Mínimo Nacional em vigor, sendo que, dos 11 escalões remuneratórios que passam a existir, dez estão acima deste valor. Ou seja, todos os trabalhadores do setor, exceto os aprendizes e estagiários.

“A verdade é que grande parte das empresas já pagam acima desses valores”, diz o secretário-geral do Setacoop, que se diz satisfeito com os resultados alcançados.
E como a expectativa é de que o Salário Mínimo Nacional volte a subir em janeiro - está previsto que chegue aos 855 euros, no âmbito do acordo de rendimentos assinado em sede de Concertação Social -, as partes voltarão a sentar-se à mesa das negociações em breve. “Este é um projeto dinâmico”, comenta o dirigente sindical. Vítor Poças concorda que “há que analisar as reações dos trabalhadores e das empresas” no início do ano.

Exportações a cair 7,4% no primeiro semestre

Depois de fechar 2023 com exportações recorde de 3176 milhões de euros, a fileira da madeira e do mobiliário está este ano a sofrer os efeitos da retração do consumo a nível mundial. Nos primeiros seis meses do ano, o setor vendeu ao exterior bens no valor de 1546 milhões, 7,4% abaixo do período homólogo.

“Desde o final de 2023 e durante 2024, assistimos a um ajuste contínuo dos preços para os níveis ligeiramente acima de 2021, o que se refletiu numa diminuição nominal das exportações em 7,4% acumulado no primeiro semestre de 2024, especialmente influenciado pelos produtos de madeira e suas obras, subsetores dedicados a produtos de embalagem e materiais de construção que, em 2022, haviam sofrido um impacto inflacionista de 27%”, diz o presidente da AIMMAP.

Vítor Poças diz que, em termos reais, as exportações em volume estão “ligeiramente acima” de 2023, mas em valor estão a sofrer os efeitos do ajustamento de preços no mercado global. “Mesmo que esta tendência de queda nominal não se reverta até ao final do ano, estou muito satisfeito com o empenho da AIMMP e das empresas na promoção internacional do setor. Há um grande interesse por parte de investidores estrangeiros e a rentabilidade deverá manter-se estável. Estamos empenhados em prestar um serviço público que valoriza um recurso natural endógeno, fundamental para a grande empregabilidade e para a manutenção do superavit  entre exportações e importações, sempre muito positivo”, sustenta. 

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt