Quase 11 anos após a resolução do antigo Banco Espírito Santo (BES), que deu origem ao Novobanco, o fundo Lone Star prepara-se para avançar com a colocação em bolsa de uma percentagem na ordem dos 25 a 30% do capital da instituição liderada por Mark Bourke. A operação poderá ter lugar entre maio e setembro, se as condições de mercado o permitirem, com as casas de research a avançarem avaliações na ordem dos cinco mil milhões de euros para o banco controlado em 75% pelo Lone Star. Por decidir está o futuro das participações do Estado e do Fundo de Resolução, que em conjunto valem 25% do capital do Novobanco.Ao que o Dinheiro Vivo (DV) apurou, há dois cenários em cima da mesa: a manutenção das posições destas entidades públicas, que desta forma passariam a ter um peso relativo superior ao atual, dada a diluição da posição da Lone Star para um valor ligeiramente acima dos 50%; ou, em contrapartida, acompanhar de forma proporcional a redução da participação da Lone Star, vendendo 33% das suas ações. Isto significa a venda de ações representativas de 8,25% do capital do Novobanco.Esta alienação teria lugar na colocação em bolsa ou, caso a situação se coloque, num cenário de venda direta do banco, fora do mercado de capitais. Em ambos os casos, o Fundo de Resolução e o Estado podem invocar uma cláusula de tag along” no contrato celebrado com o Lone Star, que prevê que possam desfazer-se das suas participações ao mesmo preço a que o grupo norte-americano o fizer.A confirmar-se uma avaliação na casa dos cinco mil milhões de euros, o Estado e o Fundo receberiam cerca de 400 milhões pela venda desta parcela de 10% do capital do Novobanco. O montante em causa não iria ao défice, mas contaria para a redução da dívida pública, uma vez que o Fundo de Resolução está incluído no perímetro da Administração Pública.De acordo com as fontes ouvidas pelo DN, o Fundo de Resolução está neste momento em contactos com vários potenciais assessores financeiros, incluindo bancos de investimento internacionais, que poderão ser escolhidos para apoiar aquela entidade e também o Estado neste processo. Além do potencial encaixe financeiro, outro fator deverá pesar na decisão de reduzir ou não a participação pública no Novobanco, que é o facto de o Estado e o Fundo de Resolução estarem impedidos de ter administradores-executivos na instituição, ficando assim afastados da gestão.Fundo de Resolução quer “maximizar ganhos”A hipótese de venda ficou clara, de resto, na audição do presidente do Fundo de Resolução, que detém 13,5% do Novobanco, na Comissão Parlamentar do Orçamento e Finanças, na terça-feira, 11 de fevereiro. Luís Máximo dos Santos afirmou, na ocasião, que a venda do Novobanco terá lugar em “vários capítulos” e frisou que o Fundo tem por objetivo “maximizar os ganhos”, dada a necessidade de reembolsar os empréstimos que foram concedidos pelo Estado e pelos bancos, ao longo da última década.“Não está na génese do Fundo ter participações estratégicas, isso está na génese do Estado. A nossa participação é para realizar receita, temos muito dinheiro a pagar, e, portanto, fazê-lo nas melhores condições possíveis”, disse Máximo dos Santos, acrescentando que o Fundo de Resolução tem uma situação líquida negativa de 6,4 mil milhões de euros e precisa de reembolsar os financiamentos que recebeu. Este reembolso será feito ao longo de várias décadas, até 2046. Por sua vez, o Estado, através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, controla diretamente outros 12% do capital do Novobanco. O ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, sinalizou recentemente que o Estado poderá vender se “a oportunidade surgir”.Venda direta poderá avançar numa segunda fase, após IPOApesar de o Novobanco ter comunicado esta semana ao mercado, no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que o seu acionista Lone Star deu instruções para dar início ao processo de IPO, a ocorrer partir de maio – sujeito às condições de mercado –, o cenário de uma venda direta não só não está afastado como as duas hipóteses não se excluem. Ao que o DV apurou, o cenário mais provável será a venda do banco em várias fases, pelo Lone Star. Primeiro, a venda de 25% em bolsa, com o fundo americano a manter o controlo. E, depois, a venda direta, que poderá ser feita a um player do sector, com um prémio face ao valor em bolsa. São conhecidos os potenciais interessados a este cenário, com a Caixa Geral de Depósitos, o grupo catalão Caixabank (dono do BPI) e o Millennium bcp à cabeça da lista.Dos três, o Caixabank será o que está em melhor posição para avançar, segundo fontes do mercado ouvidas pelo DN/Dinheiro Vivo. “Se tiver interesse no Novobanco, o Caixabank só não avançará se o Governo português lhe disser que não vê com bons olhos a operação. Ao contrário de um BBVA ou de um Santander, que iriam à luta mesmo com um sinal desses, o Caixabank é muito institucional, talvez pelo facto de ser detido pela Fundação La Caixa”, disse um gestor de um grande banco presente em Portugal, que não é parte deste processo mas conhece o dossiê e pediu para não ser identificado.“O grande problema que o Caixabank pode ter é, de facto, ser um banco espanhol. E se comprasse o Novobanco, os espanhóis ficariam com uma posição demasiado relevante no setor”, defendeu o mesmo responsável, acrescentando que “o Governo sabe que, quando as coisas apertam, como aconteceu durante a intervenção da troika, faz muita diferença os bancos serem portugueses ou espanhóis”.Por sua vez, a Caixa Geral de Depósitos, liderada por Paulo Macedo, nunca escondeu a disponibilidade para olhar para o Novobanco, sobretudo devido à forte presença deste último no segmento das empresas. Porém, a compra do Novobanco pela CGD criaria um gigante público na banca em Portugal, algo que o Governo não quererá ter, segundo várias fontes. Já o BCP seria o “candidato nacional” ideal à compra do Novobanco, mas a fragilidade da sua estrutura acionista – com a Sonangol de um lado e os chineses da Fosun, que estão em retirada, do outro – dificultam uma tomada de decisão desta envergadura.Restam players como o grupo francês BPCE (Caisse d’Epargne e Banque Populaire), que segundo o Jornal de Negócios estará a olhar para o Novobanco, ou bancos espanhóis como o Santander e o BBVA. Porém, tal como o Caixabank, estes últimos têm igualmente contra si o facto de a banca espanhola já ter um peso relevante no sistema financeiro nacional..Novobanco vai avançar com entrada em bolsa