Em dia de apagão, Pedro Reis encerrou a agenda da legislatura na Cimpor. Cimenteira vai investir 155 milhões
Foi a última visita oficial de Pedro Reis a uma empresa portuguesa. No dia em que Portugal ficou às escuras, o ministro da Economia escolheu a Cimpor para encerrar os trabalhos desta legislatura, a duas semanas das eleições legislativas e poucos minutos antes de o apagão travar o país. Na unidade fabril de Alhandra, a cimenteira anunciou um investimento de 155 milhões de euros na criação de um Centro de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e na modernização do Forno 7.
Se o primeiro projeto será financiado com capitais próprios da empresa, o segundo, que se quer assumir como um polo de inovação em construção sustentável, ciência de materiais e transformação digital, contará com uma fatia das verbas do Plano de Recuperação e resiliência (PRR).
A cimenteira, detida na totalidade pela TCC Group Holdings desde o ano passado, não adiantou, contudo, qual será o montante utilizado no âmbito deste mecanismo. Recorde-se que a Cimpor tem alocado um valor de 30,1 milhões de euros provenientes da “bazuca” europeia sendo uma das empresas nacionais mais beneficiadas pelo PRR no que respeita aos apoios à descarbonização, de acordo com o relatório divulgado pela comissão de acompanhamento destes fundos.
Para o ministro da Economia, esta é uma referência “de como dar bom uso” aos regimes especiais de apoio aos grandes investimentos como são exemplos “os fundos ambientais, o PRR ou o PT 2030”. O governante sublinhou que “projetos como estes” dão “razão de ser a estas linhas de apoio, de financiamento e de capitalização”.
“O grupo ajuda a trazer para Portugal ainda mais parceiros e fornecedores. A Cimpor funciona também como embaixador de outros grupos players para Portugal. Dentro deste projeto está um potencial enorme de energia, de networking, de desmultiplicação da economia portuguesa”, apontou na manhã de segunda-feira, 28.
O ministro evidenciou que a economia portuguesa “tem um espaço enorme para se afirmar ao nível da inovação da investigação e do desenvolvimento” e elogiou a estratégia da Cimpor no sentido de esta “aproximar países, blocos, empresas e comunidades”.
Pedro Reis destacou o “simbolismo do dia” porque “nem a economia portuguesa nem o investimento em Portugal pararam para estar em gestão”. E deixou um recado ao próximo Executivo.
“Deixo a recomendação a quem se seguir, que é na aposta através de parcerias como estas que se pode construir ainda mais e densificar cadeias de valor”, indicou.
Foi durante a visita às obras dos dois projetos anunciados, e após os discursos de apresentação, que começou a chegar a informação de um apagão em Portugal. As mensagens caíram em catadupa nos telemóveis dos vários presentes e Pedro Reis apressou-se a terminar o protocolo. Depois de despir o colete e retirar o capacete de segurança entrou rapidamente na viatura na qual se transportava sem deixar margem aos jornalistas para o questionar sobre a situação.
100 novos postos de trabalho
O novo Centro de I&D irá criar 100 novos postos de trabalho qualificados. “A inovação começa com as pessoas e o novo centro não será apenas um espaço para avanços tecnológicos, mas também um polo de talento. Mais de 100 jovens investigadores e especialistas serão acolhidos neste espaço, promovendo a colaboração com universidades, startups e redes globais de inovação. Servirá também como um laboratório vivo, um espaço educativo e de demonstração para estudantes, investigadores e profissionais”, referiu o CEO da Cimpor Portugal e Cabo Verde, Cevat Mert, durante a apresentação nas instalações de Alhandra, em Vila Franca de Xira.
O responsável atestou que os novos investimentos se assumem como uma via de reafirmar o compromisso com a inovação e com a sustentabilidade do país. “Acreditamos no talento de Portugal, na força do seu tecido industrial e no papel que Portugal pode desempenhar como líder na transformação do setor da construção na Europa e além-fronteiras”, assegurou.
O objetivo, explicou ainda, é que este Centro de Investigação e Desenvolvimento funcione como um “laboratório vivo”, com monitorização em tempo real do desempenho - térmico, estrutural, consumo de energia. O edifício estará ainda aberto a estudantes, investigadores e stakeholders da indústria.
A sustentabilidade será a base da investigação e desenvolvimento do novo centro que apostará em tecnologias de redução de dióxido de carbono como o desenvolvimento de cimentos com baixo teor de clínquer, captura de carbono e combustíveis alternativos.
A reciclagem de betão e a economia circular serão também áreas prioritárias, com a criação de processos para reutilizar betão demolido como matéria-prima. Já a digitalização e a inteligência artificial (IA) serão utilizadas para otimizar a produção, a manutenção e a eficiência energética, com o desenvolvimento de gémeos digitais e sistemas de monitorização inteligente. No Centro inclui-se ainda investigação da impressão 3D de betão para construção modular, eficiente e com mínimo desperdício, e a prototipagem rápida de materiais e estruturas.
Contas feitas, a Cimpor aplicou globalmente 1,7 mil milhões de euros desde 2019. O investimento agora anunciado na fábrica com 130 anos, de 155 milhões de euros, é apenas uma pequena fatia dos 1,4 mil milhões de euros que a empresa tem destinada às operações em Portugal nos próximos cinco anos.
A cimenteira emprega atualmente oito mil colaboradores em 14 países, está presente em três continentes e tem uma capacidade para produzir 112,5 milhões de toneladas de cimento por ano.