"A Yunit vai seguramente crescer por aquisição este ano. No limite em 2026"
D.R.

"A Yunit vai seguramente crescer por aquisição este ano. No limite em 2026"

O CEO da Yunit Consulting explicou como a abertura das empresas nacionais ao investimento estrangeiro vai representar uma oportunidadede negócio.
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O que é que faz com que o mercado português seja atraente para uma empresa de consultoria, especialmente nesta área dos apoios?

Desde logo, eu acho que o facto de ser um país de PME potencia a oportunidade de empresas que tragam valor acrescentado ao nível do conhecimento. Uma PME - e se calhar, até, grandes empresas vão ter alguns desafios - não tem orçamento, nem capacidade financeira de ter os quadros médios/superiores das diferentes áreas do conhecimento como quadros permanentes. Do marketing à inovação, engenharia, estratégia, finanças. Uma PME não tem orçamento para ter, a tempo inteiro, quadros superiores, competentes, qualificados para isto. E, provavelmente, também no dia a dia não são necessários.

E qual é a consequência disso, para vocês?

Isso faz com que, em momentos de transformação - e no nosso caso, aquilo que tem a ver com a área do investimento - os momentos de reflexão estratégica, em que uma PME tem de partir para investimentos mais de fundo, precisa de se rodear de gente competente. E aí - de uma forma ocasional, de uma forma mais temporária e espaçada no tempo - é importante rodearem-se de gente que lhes traga, naquele momento, capacidade, know-how, conhecimento para poder fazer esse planeamento da estratégia às fontes de financiamento, à execução, à engenharia, à inovação, à execução dos projetos. E é esse o espaço que eu acho que pode ser ocupado, sobretudo por empresas de porte menor. Se pensarmos, na área da consultoria, as Big Four não têm nem a propensão para este tipo de empresas, nem a flexibilidade para abordar esta dimensão de empresas que nós temos.

Mais algum fator?

Sim, e esta é uma visão um bocadinho mais recente: a abertura de Portugal ao investimento direto estrangeiro. E aí também pode ser uma oportunidade. Eu diria que não é óbvio uma consultora da nossa dimensão ser a decisão ou a opção para um player internacional que venha a investir em Portugal. Mas do outro lado da barricada sim, como parceiro da empresa portuguesa alvo desse investimento, que precisa de ter alguém ao lado que seja capaz de manusear e conhecer bem os setores. Portugal tem, obviamente, um conjunto de setores bastante diversificado, mas tem uma matriz forte em meia dúzia de setores conhecidos. E esse conhecimento é importante para lhes dar esse suporte, precisamente para poder lidar com alianças estratégicas. E já nem falo do M&A, que acho que é a oportunidade mais curta nesta nossa realidade.

Do contacto que tem tido com as PME portuguesas, qual é que é o primeiro recurso para que se vira um empresário português quando quer fazer alguma coisa? Ir à procura de um apoio europeu?

Quando já teve essa experiência, direta ou indireta, a resposta é sim. Também é verdade que há uma relação direta entre aquilo que é a comunicação que vai saindo, seja o lançamento dos fundos - quando são negociados os quadros comunitários de apoio - e aqui, às vezes, há uma distância temporal relevante entre o que é o acordo, em Bruxelas, sobre o novo quadro comunitário de apoio, e a altura em que se arranca. Muitas das vezes não há esse conhecimento, mas há o caminho natural, que é: “Eu quero fazer um investimento, vou à banca pedir financiamento para o projeto.”

É a forma mais óbvia de apoio ao investimento.

A decisão óbvia é ir à banca, mas muitas vezes a banca nem se quer expor - se pensarmos, até, nos últimos anos e no pós-Subprime - na totalidade do financiamento das empresas. Mesmo os bons ativos que a banca quer acompanhar. Mas se houver uma complementaridade com o financiamento via fundos comunitários, isso mitiga, de certa forma, o risco. Para o banco também é uma forma de entender que, se a entidade X - seja o IAPMEI, a Agência Nacional de Inovação, etc, - está a apoiar aquele projeto, também é uma certa triagem daquilo que são bons projetos para apoiar.

Esta combinação positiva entre aquilo que é a entrada via banca, mas depois com uma complementaridade de fundos comunitários onde a banca acaba por ajustar os seus instrumentos de financiamento, aí sim esse casamento pode ser uma alavanca interessante. Mas - como me perguntava - não é óbvio as empresas recorrerem aos fundos co- munitários quando não têm uma experiência anterior.

O que é que isso diz sobre o nosso tecido empresarial? As nossas empresas podem crescer se não existir um quadro comunitário?

Deixe-me dizer de outra forma. O crescimento e a competitividade passam necessariamente por investimento e o investimento necessita de capital. Isso é incontornável. Capitais próprios, em PME, não há grande capacidade. Uma boa gestão financeira empurra, na prática, para que haja capitais alheios a suportar parte desse investimento. E o Estado também não consegue, a não ser via um conjunto de instrumentos, algumas linhas orçamentais. Os benefícios fiscais também, de certa forma, são um ângulo interessante de apoio ao investimento, ainda que a sua implementação seja adiada no tempo, através dos resultados que a empresa possa vir a ter. Mas os fundos comunitários podem ser uma boa alavanca para um primeiro salto de crescimento.

Não está criada, por essa via, uma dependência difícil de quebrar?

O país não sair da dependência dos fundos comunitários... Eu diria que é uma boa dependência, porque os fundos comunitários são fontes de financiamento - mais fundo perdido, mais reembolsável, eventualmente com algum custo de capital, que não tem sido habitual - mas são uma alavanca de financiamento. Quanto aos outros stakeholders à volta que vão surgindo, nomeadamente business angels e private equity... O mercado de capitais está fechado em Portugal. O PSI-20? Eu diria que o 20 é uma semântica forçada. É parco do ponto de vista de dimensão e, sobretudo, de atividade, de liquidez. Mas os private equity têm ganhado uma dimensão interessante nos últimos anos, em quantidade e em valor.

Como é que tem sido o crescimento da actividade e do negócio da Yunit? E o que é que prevê para o que resta deste ano de 2025?

Nós temos feito um crescimento orgânico bastante sustentado. Temos estado sempre presentes num momento de investimento das empresas. A nossa porta de arranque foi sobretudo os fundos comunitários, no final do QREN e no início do Portugal 2020. Aí ganhámos bastante dimensão. Fizemos cerca de 800 milhões de euros de investimento dos nossos clientes. Estamos a falar de quase 1000 projectos de PME, que executámos no quadro anterior. Mas isso também nos permitiu - porque estes projectos demoram cerca de dois anos, dois anos e meio a serem executados - ir fazendo o crescimento da oferta nesse sentido, sempre indo atrás daquilo que nós entendemos que possam ser as necessidades das empresas.

Que são?

Muito mais produzir aquilo que posso vender, produzir aquilo que alguém possa comprar, do que tentar forçar a venda daquilo que eu consigo produzir. E, portanto, temos estado sempre muito atentos, muito próximos das empresas, para perceber qual é o ângulo onde nós podemos acrescentar valor, dentro das nossas capacidades e competências.

A Yunit passou de uma empresa que ainda se descreve com uma consultora pequena, apesar de ter 400 clientes, para uma empresa de porte maior. O que é que vos falta para dar o próximo passo de crescimento?

Nós vamos fazendo ciclos estratégicos trianuais e estamos agora a terminar, no final de 2025, o último plano. Tentámos fazer o crescimento de uma forma sustentada, orgânica, sobretudo, e rodear-nos de um conjunto de serviços que nos permita manter a regularidade da prestação de serviços. O que estamos a vislumbrar no crescimento do nosso negócio no curto e médio prazo? A consolidação do corporate finance, mais uma vez pela abertura de capitais, pela abertura de capital que as empresas estão já a fazer em Portugal, mas também um período interessante de transição geracional.

Como assim?

Muitos empresários dos anos 80 hoje estarão num fim de vida empresarial. Historicamente, a empresa não era um ativo e hoje já tem valor, já olham para isso como um valor. A descendência não é óbvia, para os filhos. Vimos de um período, até social, em que o sonho dos pais, os self-made man industriais de baixa qualificação académica, era que os filhos tivessem formação académica. Portanto, são muitos advogados, muitos financeiros e bancários, e não são empresários do têxtil, do calçado e da metalomecânica.

Está a falar de empresários que estão a fazer planos no sentido de encontrar um gestor profissional para a sua própria empresa?

Sim. Ou então querem vender o ativo. E é aqui que nós percebemos que há alguma liquidez a ganhar dimensão, há oportunidades de consolidação e nós fazemos este processo, desde a avaliação estratégica ao acompanhamento do negócio. Cresço por investimento, de forma orgânica ou cresço por aquisição? E o que me faz mais sentido: ganhar dimensão na área em que eu estou ou alargar na cadeia de valor? Ou comprar um concorrente? Aí podemos ajudar a fazer essa reflexão estratégica.

Vamos apontar essa perspicácia diretamente para a Yunit. Vocês estão a pensar em crescer por aquisição?

Nós estamos atentos ao tema do crescimento por aquisição, claro. Mas temos uma visão clara do que é que nos interessa: sobretudo empresas que nos tragam serviços que sejam complementares aos nossos e já com provas dadas no mercado. E há pequenas consultoras também no mercado que podem ser um parceiro certo - via aliança, via parceria ou via aquisição - para nos dar a dimensão. Mas também queremos que a Yunit seja um espaço de crescimento das nossas pessoas, com desafios diferentes dentro da mesma porta.

A Yunit está a pensar adquirir alguma empresa em 2025?

Estamos a analisar, analisar alguns ativos para poder acrescentar valor, sim.

Ainda este ano?

Ainda este ano. Vamos seguramente crescer por aquisição. No limite, em 2026.

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