A Skydweller Aero é uma empresa aeroespacial transatlântica que visa revolucionar as missões aéreas de longa duração. No centro da sua inovação está a aeronave Skydweller: um drone totalmente autónomo, com a envergadura de um Boeing 747, coberto de painéis solares, é capaz de uma variedade de aplicações. A liderar este projeto está Robert Miller, o cofundador e CEO da Skydweller Aero. Especialista na área dos veículos aéreos não-tripulados, tem uma longa carreira nos setores aeroespacial e de defesa, tendo ocupado cargos de chefia em empresas como a Northrop Grumman. Possui um doutoramento em Engenharia Aeroespacial e vários diplomas da Universidade de Stanford..Qual é a missão principal da Skydweller Aero?Estamos a trazer o voo perpétuo ao mundo. O que quero dizer com voo perpétuo é a capacidade de uma aeronave voar durante semanas a meses. E a utilidade de uma aeronave é, na verdade, definida pela quantidade de carga que consegue transportar. Somos a primeira aeronave movida a energia solar que pode realmente voar durante essas semanas a meses e transportar uma carga útil significativa, até 400 quilogramas de carga útil.Menciona uma ‘carga útil significativa’. Que tipo de capacidades é que isso permite?Diferentes tipos de missões. Pode fazer comunicações 5G, pode fazer recolha de dados geoespaciais, pode fazer vigilância para militares, pode fazer guerra eletrónica, pode fazer comunicações... Há muitas coisas que se podem fazer.Quais foram os maiores desafios tecnológicos ao fazer a conversão da Solar Impulse 2, uma aeronave tripulada que foi pioneira a fazer o primeiro voo solar à volta do mundo, num drone totalmente autónomo capaz de voo perpétuo?Quando se quer fazer algo voar durante semanas a meses, há muita fiabilidade diferente envolvida. Portanto, provavelmente o mais importante é, ao convertê-lo, pegar em todas as funções de um piloto e torná-las autónomas e altamente fiáveis. Fazer uma aeronave voar sozinha não é, por si só, difícil; o difícil é fazê-la voar durante semanas a meses, quando as coisas correm mal. É isso que estamos a fazer neste momento. O vosso recorde de voo atual é de pouco mais de três dias. Quais são as principais limitações que vos impedem de atingir semanas ou meses de tempo de voo neste momento?Isso também se deve ao facto de estarmos limitados ao local onde podemos voar numa área de teste de voo. Por isso, esperamos ir além disso num futuro próximo. É mais uma limitação de termos de permanecer numa área pequena. [A zona de testes é nas Caraíbas] Quando estamos a voar em julho, no Golfo da América, o tempo não é muito bom. Se o mau tempo aparecer, temos de sair da área, o que poderíamos fazer facilmente. Se fôssemos 8 ou 16 quilómetros para norte, teríamos ficado bem, mas não podíamos sair da área porque é aí que estamos limitados a voar.Esta dependência da energia solar aponta para a importância das tecnologias subjacentes, como as baterias, que armazenam a energia para o voo noturno. Como engenheiro, sente que o ritmo da inovação em áreas como baterias e células solares está a ficar para trás?Eu não diria que estou desapontado. Gostaria que o desempenho fosse melhor. Mas temos o suficiente... como diz a canção, não se consegue o que se quer, mas consegue-se o que se precisa. Nós conseguimos o suficiente para obter o que precisamos. Sim, o ritmo da inovação... está a ser investido muito mais em baterias. E ainda se investe muito em células solares. E as coisas estão a ficar melhores e mais leves. Os motores elétricos melhoraram muito recentemente. Há muitas coisas que estão a melhorar o desempenho aqui.Estão a estabelecer uma base de operações de longo prazo nas Ilhas Canárias. Qual é o objetivo estratégico desta medida e que tipo de acordo têm com o governo espanhol?Planeamos realizar operações de longo prazo nas Canárias. É um bom local para realizarmos algumas operações, e a necessidade existe. Encaixa-se bem no nosso perfil, por isso estamos entusiasmados. As Canárias oferecem uma oportunidade para realizar o mesmo tipo de missões que faríamos nas Caraíbas. Há muita atividade ilegal nas Caraíbas - drogas ilegais, tráfico de seres humanos. Os mesmos problemas existem nas Canárias, é uma missão muito semelhante. Temos um acordo para lá trabalhar com o governo espanhol.Portugal enfrenta desafios semelhantes, com um vasto domínio marítimo e problemas como a pesca ilegal e os incêndios florestais. Tiveram algum contacto oficial com o Governo português e veem um papel para a Skydweller na monitorização de áreas estratégicas como os Açores, por exemplo?Tivemos uma ou duas conversas iniciais há vários anos, mas planeamos falar mais com eles num futuro próximo. Concordo totalmente que os Açores e a área do Atlântico a oeste dos Açores necessitam de vigilância aérea. A Zona Económica Exclusiva de Portugal, a pesca ilegal, coisas desse género... esta seria uma excelente ferramenta para fazer valer os direitos de Portugal. Embora não tenhamos planos atuais para o fazer, esperamos que, no futuro, depois de nos estabelecermos e operarmos nas Canárias, venhamos a operar para Portugal e fazer algumas das coisas que mencionou - são o ponto seguinte da lista, esperemos.Sei que vão começar a trabalhar com a agência Frontex da UE. Portugal beneficiará dos dados de segurança que recolherem?Oh, sim. Esperamos trabalhar com a Frontex. Tenho de ter cuidado com o que posso dizer por agora... Mas sim, quando trabalharmos com a Frontex no futuro, Portugal beneficiará disso.Em relação ao custo, numa entrevista recente mencionou um modelo de serviço ‘power by the hour’ (energia por hora). Para um país que queira vigilância 24/7, de que ordem de grandeza estamos a falar para um contrato de serviço anual? E os governos normalmente compram a aeronave ou alugam o serviço?Depende da missão. Prefiro não entrar em detalhes exatos agora, porque depende realmente da missão e de muita da estrutura em torno do que estamos a tentar fazer. Se pudermos ter várias pessoas envolvidas, o custo diminui. O custo operacional desta aeronave é muito baixo... na ordem do de uma aeronave CS-23, ou seja, uma aeronave ligeira. Fazemos as duas coisas. Vendemos a aeronave a governos e treinamos o seu pessoal para a operar; ou operamo-la para eles depois de a vendermos. Também oferecemos a opção de leasing.Já realizaram missões para a Marinha dos EUA. O que nos pode dizer sobre a natureza desse trabalho?Não posso entrar em muitos detalhes, mas basicamente é a procura por atividades ilegais. Fizemos uma campanha em julho, em que voámos 222 horas e 45 minutos em 20 dias - foram várias missões de vários dias. Isso foi mais determinado pelo tempo naquela época do ano no Golfo da América.Muitos drones de vigilância acabam por evoluir para ter capacidades armadas. A plataforma Skydweller foi projetada para suportar cargas letais? Qual é a posição oficial da vossa empresa sobre armar a aeronave?Bem, é uma aeronave. Pode comprar um [avião] Pilatus ou um Airbus e pode largar coisas de aeronaves. Qualquer aeronave pode fazer isso. Atualmente, não temos planos para armar a aeronave, nem nenhum dos nossos clientes nos pediu para o fazer, até ao momento. Mas se vender uma aeronave a um governo, é a aeronave deles para fazerem o que quiserem com ela. Ela foi projetada para ser uma aeronave que voa durante semanas a meses. Não foi particularmente projetada para ser uma arma nesse aspeto.Prevê um futuro, semelhante ao que vemos em filmes de ficção científica como Interstellar, no qual aeronaves autónomas monitorizam constantemente não só fronteiras, mas paisagens inteiras para tudo, desde segurança à gestão ambiental?Vejo um aumento dramático nos próximos 10 a 20 anos de aeronaves autónomas a monitorizar fronteiras, zonas económicas exclusivas, incêndios florestais, coisas deste género. Nas comunicações, acho que haverá aí um preenchimento de lacunas. Sim, vamos ter alguma comunicação por satélite, mas há lacunas que serão oportunidades para os drones preencherem também.Com base na sua experiência, a que distância está a indústria da aviação em geral de uma mudança de paradigma para o elétrico, para longe do combustível?Não se deverá realmente aplicar a passageiros. [A energia solar] poderá transportar carga ligeira. É eficiente a fazer missões de comunicações, vigilância, recolha de dados, coisas desse género. É aí que eu acho que se verá um grande mercado para aeronaves movidas a energia solar.Acredita que o voo autónomo é o futuro para toda a aviação, levando a aviões de carga e de passageiros sem piloto?Sim, acredito que isso está para vir. Não há realmente nenhuma razão para haver muitos pilotos. Estive numa conferência em Austin, Texas, chamei um Uber e apareceu um carro sem motorista. Entrei e andei pela cidade, sem problemas. Se se pode fazer isso, pode fazer-se num avião..Fundador da Tekever e grupo do KuantoKusta criam nova empresa portuguesa de drones