Desemprego sobe ao ritmo mais alto desde 2021 e 40% não tem qualquer subsídio
O número de pessoas desempregadas registadas nos centros de emprego do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) subiu 8,5% em maio face a igual mês do ano passado, ou seja, o ritmo homólogo mais elevado desde o início de 2021, quando a pandemia de covid estava na fase mais letal.
Segundo revelou esta quinta-feira o IEFP, estavam sem trabalho 310 263 pessoas. É preciso recuar a março de 2021 para encontrar um avanço mais agressivo do desemprego. Nesse mês ainda de plena crise pandémica, o IEFP registou 432 851 pessoas sem trabalho, o que se traduziu num aumento homólogo muito forte (de 26%).
Aqui, o mês de comparação é março de 2020, justamente o momento em que a pandemia foi declarada e foram decretadas pesadas medidas de confinamento e restritivas às atividades e mobilidade, que obrigaram empresas e muitos outros serviços produtivos a fazer uma longa pausa, a fechar portas, ou mesmo a encerrar.
Cruzando com dados também ontem publicados, mas pela Segurança Social, em maio, 183 937 indivíduos recebiam subsídio de desemprego (ou outras prestações públicas para quem não encontra trabalho), o mesmo que dizer que mais de 40% dos desempregados em Portugal não estava a receber qualquer tipo de apoio.
Destes, a fatia mais expressiva é a do subsídio de desemprego dito normal, com quase 146 mil pessoas a serem apoiadas por esta prestação, em maio. Também aqui, o aumento é expressivo. Segundo os dados oficiais do ministério, este grupo engordou mais de 13% em termos homólogos, a maior subida desde abril de 2021.
É de notar que o valor absoluto de pessoas desempregadas, apesar da forte subida homóloga, até tem dado sinais de descida desde o início deste ano, estando a cair há quatro meses consecutivos (desde fevereiro, inclusive).
Face ao ano passado, é de recordar que, por esta altura, Portugal estava em pleno processo de produção para acolher o Papa no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, um dos maiores eventos dos últimos anos no país.
“O total de desempregados registados no país foi superior ao verificado no mesmo mês de 2023 (+24 408 pessoas; +8,5%), mas inferior ao do mês anterior (-8 068; -2,5%)” e “para o aumento do desemprego face ao mês homólogo de 2023, na variação absoluta, contribuíram os inscritos há menos de 12 meses (+21 587), os que procuram novo emprego (+22 108) e os adultos (+20 303)”, acrescenta.
“A nível regional, em maio de 2024, com exceção dos Açores (-15,6%) e da Madeira (-19,6%), o desemprego aumentou em termos homólogos, com o valor mais acentuado no Algarve (+13,6%)”.
Numa análise ainda mais fina, “considerando os grupos profissionais dos desempregados registados no Continente, salientam-se os mais representativos, por ordem decrescente: trabalhadores não qualificados (27,1%); trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção segurança e vendedores” (19,9%); administrativos (12,2%) e especialistas de atividades intelectuais e cientificas” (10,4%)”.
Em termos homólogos, o acréscimo no desemprego destaca-se “na maioria dos grupos profissionais, com destaque para o grupo de operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem (+13,1%), de trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (+12,5%) e de especialistas das atividades intelectuais e científicas (+11,8%)”.
“No que respeita à atividade económica de origem do desemprego, dos 270 158 desempregados que, no final do mês em análise, estavam inscritos como candidatos a novo emprego” nos serviços do IEFP, “72,6% tinham trabalhado nos Serviços, com destaque para as atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (que representam 33,1%); 20,6% eram provenientes do setor Secundário [Indústria], com particular relevo para a Construção (6,5%); ao setor Agrícola pertenciam 4,3% dos desempregados”.
Sinais de fim de ciclo
No entanto, apesar dos números positivos que ainda vêm da criação de emprego, que continua a bater máximos históricos, começam a surgir alguns indicadores avançados de impasse no mercado de trabalho, o que, dizem alguns analistas, deve ser uma consequência já esperada do arrefecimento da atividade na sequência do aumento muito forte das taxas de juro (desde julho de 2022 passaram de zero para cerca de 4% agora, olhando para o BCE) para deter a inflação. Isso, e o facto de a economia portuguesa estar já muito perto do pleno emprego, como tem apontado várias vezes o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno.
O gabinete de estudos BPI Research também se debruçou ontem sobre este tema e conclui que “os dados mais recentes corroboram a nossa expectativa de que o mercado de trabalho manter-se-á como um fator relevante de suporte à atividade: o emprego reduziu-se muito ligeiramente em abril (-0,4%)”, mas a taxa de desemprego “também recuou para 6,3% da população ativa”.
No entanto, há a tal barreira do pleno emprego. Os economistas do BPI avisam que “a capacidade de absorver a entrada de pessoas ativas deverá ser cada vez menor, como comprova a evolução das ofertas de emprego (cerca de 30% abaixo da média histórica registada nos meses de abril nos cinco anos pré-pandemia)”.