CEO da Vila Galé: "Centros históricos são mais-valia tremenda, mas não é para estarem cheios de lojas de bugigangas"
Gerardo Santos

CEO da Vila Galé: "Centros históricos são mais-valia tremenda, mas não é para estarem cheios de lojas de bugigangas"

Jorge Rebelo de Almeida defende que é preciso devolver vida ao coração das grandes cidades através, por exemplo, da construção de habitação para residentes.
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"Os centros históricos são uma mais-valia turística tremenda, mas não é para estarem cheios de lojas turísticas e de bugigangas", defendeu esta quinta-feira, 2, Jorge Rebelo de Almeida, em Beja. O presidente do segundo maior grupo hoteleiro português, que falava como keynote speaker na sessão ‘Encontros Fora da Caixa’, organizado pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e que conta com o DN/Dinheiro Vivo como media partner, apontou o dedo ao vários decisores políticos sobre a degradação destes espaços nas grandes cidades do país.

"O centro histórico é aquilo que traz gente às cidades que, depois, vem ver uma realidade horrorosa. Em Portugal não ligamos aos centros históricos. Não podemos só construir hotéis, pensões, airbnb. A primeira prioridade para um centro histórico ser atrativo, e para ter valor, é dar-lhe vida com, por exemplo, prédios para a habitação de jovens", disse.

O presidente da Vila Galé lamentou a "adulteração" destes espaços vitais nos principais destinos turísticos do país. "Nem os turistas gostam daquilo. Quando um turista visita um país gosta de ver alguma autenticidade", assegurou.

Para o gestor, "um país que não liga ao seu património histórico, acaba por perder a sua alma".

O empresário aproveitou o mote da conferência subordinada ao tema ‘Patrimónios’ para destacar o papel do grupo hoteleiro na recuperação de edifícios históricos. Das mais de 50 unidades hoteleiras que compõem atualmente o portefólio da Vila Galé, 18 resultam da reconversão deste segmento de imóveis .

"É um sacrifício o investimento em património histórico, mas temos um prazer tremendo em fazê-lo. É mais caro, é mais difícil, é mais demorado, é mais complicado, é tudo pior. É menos rentável no imediato e são projetos de médio e longo prazo. Levanta dificuldades, obriga a maior esforço, obriga a maior divulgação, maior promoção, mais marketing. Contudo, é um prazer irrepetível", partilhou.

"Quando recuperamos um património histórico, quando o transformamos num hotel, encontramos um fim económico. Porque muitas vezes, em Portugal, houve uma tendência de pensar que a recuperação do património histórico devia ter um efeito museológico, e não tem de ter. Tem de haver algum sentido económico que viabilize não só o investimento da recuperação como também a manutenção", acrescentou ainda.

Jorge Rebelo de Almeida relembrou que a boa performance da atividade turística do país se tem feito à boleia do investimento privado, que "é muitas vezes criticado e do qual só se fala mal".

"Somos um país que não temos nem petróleo, nem algas ricas para fármacos, mas temos outras competências. Temos património histórico, temos um interior, temos talentos, tudo coisas que desaproveitamos e jogamos no lixo. Devemos ser, no ranking mundial, o país que menos se preocupa com património histórico", lamentou.

"País precisa desesperadamente de um plano para a habitação. Estamos disponíveis para investir se tivermos algum benefício fiscal"

O fundador do grupo Vila Galé aproveitou a sua intervenção, no Teatro Municipal Pax Julia, para deixar duras críticas sobre a atual crise de habitação do país. "Vamos chamar os nomes às coisas: os culpados são os sucessivos governos e as sucessivas câmaras, que não fizeram as obras que deveriam ter feito. O país precisa desesperadamente de um plano de emergência para a habitação e este plano faz-se com a obra, não se faz com conversa balofa", atirou.

Rebelo de Almeida reiterou que a construção deve ser a prioridade. "Temos de meter a mão na massa e construir casas e há as casas para os ricos ricos, que são um negócio maravilhoso, a 24 mil euros por metro quadrado, mas a classe média neste momento é muito sacrificada e precisa de ter condições para crescer", referiu.

O empresário defendeu ainda ser necessário regular o mercado dos terrenos. "Há muitos terrenos neste país que nunca foram agrícolas, não são agrícolas, nem nunca serão agrícolas e que não se pode lá fazer nada, porque são classificados de forma diferente", prosseguiu.

Por fim, sublinhou que a falta de habitação a preços acessíveis é também um dos grandes constrangimentos do setor do turismo e afiançou que está disponível para construir casas para os trabalhadores caso o Governo conceda benefícios fiscais.

"Estou doido para arranjar condições para melhorar a vida do meu pessoal e que precisa de casa. E nós, já disse isto várias vezes, estamos disponíveis para construir se tivermos algum incentivo fiscal, por exemplo. Nem precisávamos de dinheiro, apenas algum incentivo", concluiu.

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