CaixaBank quer BPI a crescer 4% ao ano até 2027, sem aquisições
A conjuntura económica será favorável nos próximos anos e haverá condições para um aumento do volume de negócios de 4% ao ano até 2027. É esta a meta do CaixaBank para o período 2025-2027, de acordo com o novo plano estratégico do banco espanhol apresentado ontem em Madrid. Para o BPI, detido na totalidade pelo CaixaBank desde 2018, o objetivo é o mesmo: um crescimento da concessão de crédito às famílias e empresas e dos recursos de clientes (depósitos e outras aplicações) de 4% ao ano durante o próximo triénio.
O banco espanhol aponta a normalização da inflação, a descida das taxas de juro, a boa dinâmica do mercado laboral, a redução da escassez de habitação e o aumento do investimento europeu com a transição energética e digital como condições que permitirão ao banco reforçar a carteira de clientes e acelerar o crescimento do negócio.
O CaixaBank prevê que o consumo privado e o investimento impulsionem a economia espanhola nos próximos três anos, e “todas as tendências de crescimento em Espanha vemos também em Portugal”, sublinhou Gonzalo Gortázar, o presidente executivo do banco, na apresentação do novo plano estratégico ontem em Madrid.
Mostrando-se satisfeito com o desempenho do banco liderado por João Pedro Oliveira e Costa, o gestor disse esperar “mais crescimento no BPI, que já provou nos últimos anos que está a fazer as coisas bem”, disse Gortázar.
O crescimento do BPI acontecerá organicamente, sublinhou o gestor, pondo de lado uma possível aquisição em território nacional, nomeadamente do Novobanco, numa altura em que a antecipação do fim do mecanismo de capital contingente, que aguarda decisão do Ministério das Finanças, abrirá a porta à venda do banco detido maioritariamente pelo fundo Lone Star.
“Não contemplamos nenhum plano de crescimento em Portugal que não seja puramente orgânico”, afirmou o presidente executivo do CaixaBank quando questionado sobre se há interesse na compra do Novobanco.
De acordo com os dados apresentados ontem, entre 2016 e 2024 o volume de negócios do BPI cresceu 3%, e o banco tem uma quota de mercado no crédito à habitação de 14,5%, de 12,3% no crédito a empresas, de 10,2% nos depósitos e de 13,9% na gestão de património.
Sobre a política de distribuição de dividendos do BPI, Gonzalo Gortázar disse que o banco “irá anunciar uma política adequada, respeitando a solvência”, destacando que “os rácios de capital são mais elevados em Portugal do que em Espanha”, mas que “não diferirá muito” do que o CaixaBank distribui. O banco espanhol compromete-se, no plano estratégico, a distribuir aos acionistas entre 50 e 60% dos resultados até 2027.
O BPI distribuiu dividendos relativos às contas de 2023 de 517 milhões de euros, quase a totalidade dos 524 milhões que obteve de lucro.
O CEO do CaixaBank também foi questionado sobre se o BPI vai fechar agências em Portugal, ao que respondeu que “não há nenhum plano para reduzir a rede, mas de continuar a crescer”. Quanto à venda do Banco de Fomento Angola (BFA), disse apenas que trabalhará com o Estado angolano e com o BFA para tornar essa venda possível.
Ao fixar a meta de crescimento de 4% ao ano até 2027, o CaixaBank está a duplicar o objetivo de 2% anuais estabelecido no plano de 2022-2024, que agora chega ao fim, e com missão cumprida, garante a instituição financeira. Após o aumento de 1% do volume de negócios no período 2022 e 2023, nos primeiros nove meses deste ano o crédito e o recurso de clientes do CaixaBank estão a crescer 5%, o que leva Gonzalo Gortázar a afirmar que a nova meta “não é um acelerar do crescimento meramente voluntarista”, mas baseado em indicadores “reais”. No caso do BPI, nos primeiros nove meses deste ano a carteira de crédito cresceu 2 % face ao ano passado e os recursos de clientes reforçaram-se em 5%.
“O ambiente é bastante favorável”, diz Gortázar, e por isso há um “grau de otimismo de que podemos acelerar o crescimento”, frisa.
Manter a rentabilidade
Em termos de rentabilidade, o CaixaBank prevê “manter estável a margem financeira”, apesar do contexto de descida das taxas de juro. O objetivo no novo plano é uma rentabilidade RoTE (rentabilidade dos capitais próprios tangíveis) de mais de 16% no final de 2027 (em média acima de 15% entre 2025-2027). A instituição não avançou qual é o objetivo para a rentabilidade (medida pelo RoTE) para o BPI, mas o banco português ultrapassou largamente a meta do anterior plano estratégico (de 12%). Nos nove primeiros meses deste ano esse indicador estava em 18,4%, tendo atingido os 16% em 2023.
Além de apostar na aceleração do crescimento, o CaixaBank quer investir cinco mil milhões de euros em tecnologia nos próximos três anos, e quer contratar três mil jovens com “perfil técnico”.
Na área da sustentabilidade, compromete-se a mobilizar 100 mil milhões de euros em “finanças sustentáveis”, acima da meta de 64 mil milhões estabelecida no plano que agora termina, e que diz já ter sido ultrapassada.
A jornalista viajou a convite do CaixaBank