Os bancos que operam em Portugal estão “preparados” para o embate de uma nova crise económica, que parece estar a formar-se e que pode pôr em causa a “estabilidade financeira”, mas os contornos de “incerteza” e de “desconhecido” são hoje mais aguçados do que no passado, o que leva a supor a necessidade de um esforço maior e diferente para se conseguir superar dificuldades, anteciparam a vice-governadora do Banco de Portugal (BdP) e o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB).A abrir a oitava conferência anual do Diário de Notícias e do Dinheiro Vivo sobre o setor financeiro – Money Conference 2025 – esteve Clara Raposo, do BdP. Disse que o setor financeiro português, nomeadamente o bancário, está mais bem preparado hoje do que há dez anos para enfrentar novas crises, mas agora já temos “sinais de alerta a não desprezar”.“Incerteza é uma expressão que nós no banco central não gostamos muito de usar”, mas a vice-governadora admitiu que hoje se vive uma nova e diferente “era da incerteza”.A vice de Mário Centeno recordou que “a atual presidência dos EUA trouxe-nos uma instabilidade” de um estilo que nunca tínhamos vivido: “estamos dependentes de notícias do dia que no dia seguinte já podem ser outras”, por exemplo.O atual quadro vem “acentuar riscos” que já tinham sido detetados, como os conflitos geopolíticos na Europa (guerra da Ucrânia) ou no Médio Oriente (Gaza), acrescentou.Raposo alertou ainda para um novo fenómeno que deve preocupar: o facto de neste novo cenário de incerteza haver um “reflexo no dólar” e no seu “papel de moeda de refúgio internacional”.“O comportamento [do dólar ] nos primeiros meses de 2025 tem dado mostras de inconstância, o que pode fazer com que o nosso euro venha a ter uma maior afirmação em termos internacionais”, afirmou a responsável do BdP.Mas a economia internacional está a sofrer desta vaga de incerteza. “Tudo isto tem implicações” e em Portugal “estamos vulneráveis a situações de maior risco”.Para a banqueira central, “há um alerta no crescimento negativo da economia portuguesa no início de 2025”. Caiu 0,5% face ao final do ano passado.Seja como for, a vice-governadora defende que o atual ambiente macrofinanceiro releva “riscos para a estabilidade financeira” portuguesa e não só, e mostra que “não estamos imunes ao que se passa à nossa volta”, mesmo estando mais bem preparados.Vítor Bento, o presidente da APB e orador principal da Money Conference, entregou uma análise que disse ser “complementar” à do BdP. E foi.Concordou que os bancos portugueses estão “preparados para o que vier a acontecer”, têm “solidez” suficiente se vier uma crise maior, mas contrapôs: a banca nacional tem de lidar com uma situação de partida “mais desfavorável” do que a média dos concorrentes europeus por “culpa” de uma regulação mais pesada e “burocrática”.Para o responsável, a carga de regulação reflete-se no facto de o capital dos bancos portugueses “valer menos” do que o dos seus pares europeus. Temos “uma elevada burocracia por causa da regulação”, disse. Pelas contas de Vítor Bento, “aos bancos portugueses, é exigido mais 20% de capital do que à média da Zona Euro” para cumprir os mesmos rácios e regras.O economista fez a partição do quadro de riscos atuais em “previsíveis” e “imprevisíveis”. Os riscos previsíveis são os mais fáceis de gerir e responder, e nisso a banca pode estar preparada; mas há riscos imprevisíveis, “o desconhecido desconhecido”, como lhe chamou, “o incerto imprevisível”.“Não há remédios, nem há recursos suficientes para lidar” com esta nova situação de “desconhecido”, avisou o chefe da APB..“Com três eleições em três anos, está na hora de começar a trabalhar seriamente”.Vítor Bento: "À banca portuguesa, exige-se mais 20% de capital do que à europeia".Clara Raposo: queda do PIB no primeiro trimestre é "sinal de alerta a não desprezar"