Em que medida é que esta questão da situação geopolítica complicada vai afetar o turismo em Portugal em 2025 e anos seguintes?A situação atual é uma situação de grande volatilidade das políticas americanas, sobretudo e, portanto, de enorme incerteza. Há muito pouca segurança relativamente ao que vamos ser no futuro, daqui a dois meses, daqui a um ano ou daqui a dois anos. Ainda assim, a incerteza desde logo é inibidora do consumo. Portanto, é a primeira preocupação.Por parte do turista americano, certo?Para começar, mas não apenas. Por exemplo, a incerteza no mundo é a incerteza também na Alemanha e o turista alemão é absolutamente ortodoxo e com um bocadinho de incerteza refreia logo o consumo. É o histórico deles.Vamos ter eleições em maio. O que é menos impactante para o setor do turismo, uma nova política ou manter a que existe?O que é menos impactante é que não haja um quadro de ingovernabilidade, qualquer que ele seja. Portanto, o que o turismo deseja é que das eleições saia um governo e uma política. Até porque há decisões importantes, estratégicas, para tomar: a ferrovia é uma delas. O aeroporto é outra, e é estratégica. A privatização da TAP é estratégica. A própria estratégia do Turismo de Portugal, que estava a ser completada, não sabemos se se confirmará ou se se alterará.Provavelmente, a privatização da TAP já não se concluirá em 2025.Vamos ser otimistas. Já nem estou a falar na execução... Se não houver um quadro de governabilidade, é que nem sequer um modelo de decisão teremos. O mais importante para nós é que haja capacidade de decisão por parte do governo e estabilidade.Até porque na área económica, na área do turismo, penso que é talvez o sector económico onde existe uma parceria público privada exemplar que é a do Turismo Portugal, com as empresas privadas.A APAVT disse recentemente que a TAP está a "distorcer o mercado" ao não permitir que as agências de viagens paguem em três vezes, como permite aos clientes de venda direta. O que está a dificultar a relação entre a companhia e as agências?A nossa relação com a TAP é melhor com esta gestão [CEO Luís Rodrigues] do que era com a anterior [Christine Ourmiere-Widener]. Aliás, foi esta gestão que recuperou o diálogo. Agora, a relação com a TAP é muito importante, é muito relevante para a TAP e para os agentes de viagens, porque os agentes de viagens emitem – sem contar com as low cost – só com as companhias aéreas tradicionais, cerca de 1000 milhões de euros em bilhetes por ano. 500 milhões só na TAP. Portanto, é muito relevante para a actividade dos dois intervenientes. Mas tem momentos de tensão.Este é um deles.É, esse é um bom exemplo de um período de tensão, mas eu acho que se vai resolver com diálogo. Porque há diálogo próximo e de confiança entre nós e a actual gestão da TAP. Dito isto, há aspetos absolutamente relevantes que têm de ser cumpridos. O principal deles é que tem de haver igualdade. Todos podemos aceder ao consumidor e todos devemos concorrer, mas tem que haver uma igualdade de condições entre a venda directa e a venda através da distribuição turística.A APAVT falou numa resposta à TAP caso esses aspetos não se concretizassem. De que resposta estamos a falar?Quando não estamos contentes com o fornecedor, tendemos a consumir menos desse consumo desse fornecedor. Acho que isso é uma reação natural e não será da parte da APAVT, será das empresas. Aliás, a posição da APAVT neste processo é impedir que isso aconteça. E é em nome de que não aconteça que nós temos que colocar os problemas com franqueza à TAP.Para ser mais claro, está a falar de passar a privilegiar outras companhias aéreas em detrimento da TAP em destinos operados por várias companhias? É escolher fornecedores com quem tenhamos melhor relação e com quem tenhamos mais confiança. Eu acho que de vez em quando o papel da APAV é levantar estas bandeiras de emergência, para impedir que isso aconteça. Porque, por outro lado, para as agências de viagens portuguesas, o momento de recuperação da TAP e a sua solidificação é importante, já que é um instrumento importante da estratégia turística nacional.Como é que a APAVT vê a TAP, privada ou na esfera do Estado, desde que a funcionar bem?Nunca comentámos a estrutura do capital social da TAP de per si. Preferimos falar de estratégias e temos a noção de que a TAP, depois de um bom período de recuperação que está a concluir, precisa de uma estratégia de crescimento. E para ter uma estratégia de crescimento, precisa ter capital. E para isso precisa de estar integrado num grupo?Provavelmente precisa de ter um processo de privatização, qualquer que ele seja. O que gostávamos que acontecesse é que fosse transparente, que todos percebêssemos o que é que está a acontecer e que incluísse todas as possibilidades, não apenas as mais faladas, caso das hipóteses europeias [Air France/KLM; Grupo IAG e Lufthansa].Está a pensar em que outras possibilidades?Não deixámos de receber com alguma curiosidade, e mesmo com um pequeno sorriso, as recentes declarações do Carlos Tavares, por aparentemente ainda ser possível uma solução credível com capital português. Ora, eu acho que não há ninguém que conheça melhor a TAP, o seu papel no turismo e na economia nacional que os portugueses. Portanto, provavelmente a ser possível, esse seria uma via particularmente agradável para todos nós.Em termos gerais, como é vai ser a performance das agências de viagens em 2025? Qual é a perspetiva?Se as condições normais de pressão e temperatura se mantiverem como existem neste momento, eu diria que o quadro será de consolidação do crescimento, o que não deixa de ser extraordinário. As agências de viagens foram as que tiveram um negócio absolutamente fechado durante a pandemia, foram as mais sofreram nesse período. Com os aeroportos fechados, as agências de viagens praticamente tiveram um negócio nulo e tinham tido um 2019 que foi o melhor ano de sempre. E a grande verdade é que em 2022 recuperámos e 2023 foi o melhor ano de sempre. Ainda não temos os números de 2024, mas batemos outra vez o recorde. Dito isto, se as condições de pressão e temperatura se mantiveram em 2025, será um ano melhor do que 2024. O setor em 2019 – os efeitos diretos e indiretos induzidos valiam 4,5 mil milhões de euros, ou 2,5% do valor acrescentado bruto (VAB) nacional. E em 2023 valiam 5,8 mil milhões e 2,8% do VAB nacional. Não apenas crescemos para os melhores valores de sempre, como o nosso impacto no valor acrescentado bruto subiu também, portanto portámo-nos melhor do que o padrão nacional. E tudo indica que, se não acontecer nenhuma desgraça ou uma inversão dos acontecimentos muito grande, vamos continuar a consolidar o crescimento.O DN viajou para Macau a convite da APAVT